Fórum debate inovação e turismo regenerativo

A Câmara de Cultura, Turismo e Esportes promoveu nesta terça (12/08) uma reflexão sobre a inovação e o turismo regenerativo. Na ocasião, o professor e coordenador do programa de pós-graduação em Gestão de Serviços (Turismo, Hotelaria e Eventos) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carlos Lidizia, apresentou os conceitos sobre o tema que traz uma nova abordagem do turismo visando não só minimizar os impactos negativos da atividade, mas também contribuir ativamente para a regeneração e revitalização de ecossistemas, economia e cultura locais.

“O turismo regenerativo vem como um novo paradigma dizendo que, para além da sustentabilidade, temos de deixar os lugares que nós vamos melhores do que os encontramos. O turismo não pode ser predatório, mas já foi e agora estamos sofrendo com a falta dessa visão sustentável e a atividade do turismo regenerativo tem potencial de revitalizar, regenerar destinos, criando um ciclo de impactos positivos”, frisou Lidizia.

Segundo ele, enquanto o turismo sustentável busca a criação de ecossistemas que preservem os recursos e fechem o ciclo de produção, o turismo regenerativo pretende desenvolver empresas cujas atividades contribuam para regenerar proativamente as comunidades, as culturas, a natureza e os sistemas econômicos.

“É importante não perder a perspectiva de que o turismo regenerativo vem com a proposta de melhoria e recuperação ambiental, não esquecendo que isso tem que impactar positivamente a população local. Não é mais uma visão de preservação só ambiental, mas a regeneração ambiental, social e econômica. Temos de salvar o planeta para as populações que ali residem. Trata-se de uma visão holística, uma visão ampliada”, explicou.

Também estão entre os princípios do turismo regenerativo a promoção da colaboração; a inclusão e equidade; a responsabilidade ambiental e a qualidade em vez da quantidade.

“Não é verdade que para que o turismo seja viável economicamente, ele tem que ter quantidade. Ele pode ter qualidade e ser economicamente viável, a partir de uma visão mais adequada e diversificar os mercados de origem, no sentido de garantir essa competitividade colaborativa e concentrar-se no potencial de pessoas, respeitando o indivíduo e também ter um olhar no coletivo”, afirmou.

Lidizia mencionou a necessidade de uma participação ativa na gestão dos destinos e a restauração dos ecossistemas, com o turismo sendo um vetor de desenvolvimento local.

“Temos visto que a participação dos conselhos municipais tem estado muito aquém do que poderiam, com pouca representatividade ou com uma atuação pouco efetiva, sem uma escuta ativa das comunidades”, pontuou.

Inovação no Turismo

De acordo com Lidizia, para caminhar e desenvolver um turismo regenerativo é preciso abordagens inovadoras nos destinos e nas empresas. Ele destacou algumas delas como os alojamentos ecológico, a gestão de resíduo, desenvolvimento comunitário, com iniciativas que capacitam e integram as comunidades locais nas atividades turísticas e a criação de oportunidades para que as comunidades locais participem ativamente do desenvolvimento do turismo, o “empowerment das comunidades”.

“Entendemos o empowerment como um movimento de redução dos níveis hierárquicos e delegação de poder aos níveis mais básicos, ou seja, um turismo de base local e economia circular, com o compartilhamento de recursos. Essa mudança de paradigma passa por um novo modelo de negócio, um turismo com propósito, desenvolvendo experiências que têm um retorno social positivo, o envolvimento ativo das pessoas, dos turistas com a comunidade, mecanismos de gestão pública, escuta ativa para ouvir realmente o que é necessário para aquele território, o que é bom para aquela comunidade. Além do uso de tecnologias sustentáveis, que minimizem o impacto ambiental e melhorem a qualidade de vida”, detalhou.

Outro aspecto citado por Lidizia foram as redes de colaboração e parcerias.

“Hoje a gente não consegue atuar de forma efetiva sem ser em rede. Precisamos de colaboração entre os setores, unir empresas, organizações, setor público, a sociedade civil, na criação de plataformas de diálogo. Temos de utilizar a tecnologia para a interação, troca de ideias, de serviços e de mercadorias. E por fim, não menos importante, precisamos capacitar e trabalhar o empreendedorismo social, não só o empreendedorismo por necessidade. Para isso, temos de desenvolver as competências na base para que os trabalhadores locais possam ter autonomia e incentivo, fazendo com que essas populações não migrem do território”, ressaltou.

Lidizia ainda acrescentou a importância da promoção da cultura de experimentação, da aprendizagem com o apoio de organismos como o Sistema S para que esse processo aconteça de forma contínua e com o compartilhamento de boas práticas. Assim como o uso de big data e análise de dados para a tomada de decisões conscientes e tecnologias disruptivas como uma ferramenta poderosa para o turismo regenerativo, dando como exemplo a realidade virtual para experiências imersivas que reduzem a pressão sobre ecossistemas frágeis.

Edital de fomento de turismo de base comunitária

Durante a reunião, a engenheira florestal e representante do CREA-RJ na Câmara, Ana Gabriela do Carmo, também apresentou uma proposta de edital para fomentar o turismo de base comunitária no estado do Rio de Janeiro. O intuito é fortalecer iniciativas sustentáveis, cujo protagonismo baseia-se em populações em vulnerabilidade socioambiental. De acordo com ela, o incentivo às práticas sustentáveis viabilizadas por ações de turismo que salvaguardam o patrimônio cultural e de identidade deverá gerar benefícios múltiplos às áreas trabalhadas.

“Queremos estimular e fortalecer as comunidades do estado do Rio de Janeiro que já que tenham vocação turística, com histórico de visitação, e tenham projetos elaborados em processo inicial de implementação”, contou.
Para corroborar com a sua fala, Ana Gabriela lembrou que o estado tem duas legislações pertinentes ao tema. A Lei 7.884/2018, que institui a Política Estadual de Turismo de Base Comunitária e a Lei N. 7.790/2017, que declara patrimônio cultural, histórico e imaterial e considera de especial interesse social as comunidades quilombolas, caipiras, caboclas, de pescadores, caiçaras e agricultores no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, inclusive.

Assista à reunião na íntegra no Canal do Fórum da Alerj no Youtube