Fórum da Alerj realiza segundo painel de capacitação em acessibilidade

“As soluções precisam abranger a todos“. Com este lema, o arquiteto e paisagista do Senado, Mário Viggiano, sintetizou a importância de projetar soluções arquitetônicas que garantam acesso pleno aos prédios públicos, missão essencial para o funcionamento do regime democrático. Idealizador do “Programa Carbono Menos” , Viggiano destacou a necessidade de incorporar a acessibilidade como uma vertente do desenvolvimento sustentável, em palestra realizada no segundo painel sobre acessibilidade realizado pelo Fórum da Alerj de Desenvolvimento do Rio, na última sexta-feira (31/07).

De acordo com Mário Viggiano, o papel dos prédios públicos no funcionamento de serviços essenciais à sociedade obriga os projetistas a enxergarem o conceito de acessibilidade em seu sentido mais amplo: “Precisamos pensar o acesso aos ambientes, aos serviços e às funcionalidades dos edifícios de acordo com os sete princípios estabelecidos no manual de desenho universal: tolerância ao erro; baixo esforço físico; tamanho adequado dos espaços; equidade; flexibilidade; simplicidade nos usos e a informação visual”, detalha o arquiteto.

Além dos princípios universais de concepção, o arquiteto e paisagista do Senado esclareceu que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) fornece especificações para assegurar a acessibilidade dos edifícios por meio da NBR 9050, regramento que instrui os profissionais do ramo sobre critérios técnicos para construção e a gestão do mobiliário, dos espaços e equipamentos urbanos. Viggiano lembra, entretanto, que o sucesso de um projeto arquitetônico depende também da sensibilidade dos envolvidos em ir além da norma. "Pensar além da norma significa não se limitar ao básico e à necessidade de cumprimento das normas e códigos, e sim, se preocupar com as necessidades reais das pessoas", explica.

O arquiteto relata o caso de um funcionário público paraplégico, cuja musculatura dos membros inferiores não possuía tonificação suficiente para acessar confortavelmente os banheiros do local em que trabalhava. Para que pudesse exercer plenamente sua profissão, ele precisava de uma solução customizada ao seu caso, que, portanto, não estaria presente em nenhuma norma de caráter mais geral.”Eu precisei ir ao banheiro dele para ver as suas necessidades e adaptá-las ao projeto. O mínimo que está previsto na norma, nem sempre é o ideal", ensina o arquiteto.

Viggiano salientou que um dos principais objetivos de projetos voltados para acessibilidade é trabalhar o cumprimento de três princípios: conforto, acessibilidade e saúde. Por esse motivo, a arquitetura de prédios públicos contemporâneos deve ser projetada sob o paradigma da arquitetura bioclimática: conceito que busca soluções capazes de ampliar o conforto e a saúde da pessoa, utilizando prioritariamente recursos naturais para minimizar os impactos ambientais e reduzir o consumo energético."Um dos principais objetivos de um projeto acessível é reunir conforto e acessibilidade trazendo saúde. Inclusive o conforto ambiental", pondera.

O arquiteto destacou vários exemplos de como o uso da iluminação e ventilação naturais podem resultar em soluções confortáveis e sustentáveis que privilegiam à saúde dos ocupantes dos prédios e melhoram os parâmetros de eficiência energética. É o caso do “Reichstag”, prédio do parlamento alemão, que chegou a ser destruído pelo nazismo, e hoje é considerado o mais eficiente parlamento do mundo. O edifício possui uma cúpula espelhada que difunde a luz natural por toda a estrutura, quando rebatida por um escudo solar que promove o conforto visual ao bloquear a incidência direta da luz do sol. “O projeto do parlamento alemão é fantástico para demonstrar o enorme potencial que a iluminação natural pode ter na melhoria da qualidade dos ambientes”, entusiasma-se.

Segundo o palestrante, a ventilação natural contribui para a saúde física, uma vez que garante a circulação do ar e também ajuda no bem-estar psicológico dos frequentadores do ambiente. “A ventilação natural ajuda a evitar o efeito 'claustro' causado por ambientes muito pequenos, com pouca iluminação natural e sem ventilação. O espaço muito reduzido causa pressão psicológica. Precisamos evitar a fragmentação dos espaços em prédios públicos para não produzir esse efeito”, explica.

Viggiano conclui que boas práticas mundiais levadas por ele ao “Fórum Capacita” são eloquentes em demonstrar o grande desafio para os arquitetos e paisagistas das áreas públicas: É necessário conciliar conforto, saúde e acessibilidade com os programas formais e funcionais”, sintetiza o servidor público.

Quem quiser saber mais sobre o assunto pode assistir a palestra completa no canal do YouTube do Fórum da Alerj de Desenvolvimento do Rio e consultar o livro “Projeto de edifícios públicos sustentáveis: uma abordagem cultural, econômica, ambiental e arquitetônica” de Mário Viggiano, disponível aqui.

A apresentação pode ser acessada aqui.

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