Perspectivas da cadeia produtiva do livro fluminense são debatidas no Fórum

O mercado editorial brasileiro vem registrando queda nas vendas desde 2011, passando de R$7 bilhões para R$5 bilhões de faturamento neste período. Se excluídas as vendas ao governo e consideradas apenas as vendas para o mercado, a situação se agrava ainda mais e deixa claro a crise no segmento. Os dados foram apresentados nesta quinta (28/06) pelo professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fabio Sá Earp, durante a reunião da Câmara Setorial de Cultura, Turismo e Esportes que debateu a cadeia produtiva do livro e seu impacto para a economia fluminense.

“As vendas vêm caindo há muitos anos sem recuperação. As editoras já reduziram os preços dos livros e continua sem solução”, afirmou Fábio que também destacou que a culpa não pode ser colocada no livro digital que responde apenas a 1% das vendas.

Apesar do quadro, a boa notícia é que existe público para o livro. Entrevistados recentemente pelo Ibope, 56% das pessoas declararam ter lido ao menos um título nos últimos três meses, sendo 86% de forma voluntária.

Segundo Fabio, nos EUA por volta de 80% da venda da primeira edição está previamente garantida, o que permite que as editoras consigam planejar a primeira tiragem de maneira a cobrir o custo editorial.

“Nos EUA, quando uma editora vai publicar um livro, ela antes envia um folder para as bibliotecas decidirem se querem ou não fazer uma pré-compra. É um elemento que falta no Brasil, onde geralmente as bibliotecas não têm verbas para comprar livros novos e a editora sempre acaba correndo um grande risco de encalhe”, explicou.

A “Pesquisa Produção e Vendas do Setor", realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), corroboram com a fala do professor. De acordo com a amostragem, as editoras brasileiras produziram 393,3 milhões de exemplares em 2017 e venderam apenas 354 milhões de livros, contra 383 milhões em 2016 (queda de -7,43%). Já o faturamento registrou R$ 5,17 bilhões, contra R$ 5,26 bilhões em 2016 (queda de -1,95%).

Fábio ainda destacou o fato de no Brasil as bibliotecas serem vistas como depósitos de livros em vez de elementos ativos no sistema dos livros.

“As bibliotecas do país são tratadas como o patinho feio. É a última a ter verba e a primeira a ter a verba cortada. Precisamos mudar essa prioridade e colocar as bibliotecas em posição de destaque”, frisou.

Plano Estadual de Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca

Para reverter esse quadro, a Secretaria de Estado de Cultura construiu a partir de debates e fóruns realizados em todo o estado as bases do Projeto de Lei 4243/2018, que cria o Plano Estadual de Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PELLLB). De autoria dos deputados André Lazaroni (MDB) e André Ceciliano (PT), o PL tem a finalidade de promover e assegurar estratégias de produção e circulação do livro, além da leitura e literatura e cria também um conselho consultivo não remunerado para auxiliar no processo de implementação e execução do Plano. Entre os objetivos do PELLLB estão o de democratizar o acesso ao livro, fomentar a leitura e formar mediadores, desenvolver a economia do livro e estimular a produção literária do estado.

“O Plano é um marco importante para a construção de políticas públicas da economia do livro. Ele dá condições priorizar nos gastos públicos as políticas ligadas ao livro e leitura. Ter um fundo estadual também seria interessante”, afirmou o superintendente de Leitura e Conhecimento da Secretaria de Estado de Cultura, Juca Ribeiro.

Juca também anunciou a realização da primeira Conferência Estadual do Livro e Leitura para o segundo semestre. O evento vai reunir toda a comunidade do livro e cadeias relacionadas do estado para adensar as diretrizes e metas a serem alcançadas no médio e longo prazos para o Rio de Janeiro se tornar um estado com uma centralidade na economia do livro e promoção da leitura e literatura.

 

Participaram da reunião o diretor da Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (EdUERJ), Glaucio Marafon, o gerente comercial da Editora ZIT, Francisco Pizzotti, que participa do grupo de trabalho responsável pelo Plano Municipal de Livro, Leitura, Literatua e Biblioteca da Cidade do Rio de Janeiro, a especialista do Senac-RJ, Carla Geraldo, a diretora da Mater Produções, Barbara Caldas, do diretor da Adesg, Carlos Sá Earp, e os assessores parlamentares Luciano Mendonça, do gabinete do deputado Waldeck Carneiro, e Maria Otero, do gabinete do deputado Comte Bittencourt.

“A reunião trouxe um tema fundamental, que é como a economia do livro pode se desdobrar a partir de um plano estadual que dê suporte a ela e que fortaleça as bibliotecas públicas, muitas delas em comunidades que carecem de políticas que foquem no seu desenvolvimento. A proposta que saiu desta reunião foi darmos continuidade a esta reflexão mobilizando outros atores desta cadeia, como os de eventos, a indústria gráfica e a valorização do autor fluminense e da produção criativa do estado”, ressaltou Geiza Rocha, subsecretária-geral do Fórum de Desenvolvimento do Rio.