A Câmara de Infraestrutura e Logística se aprofundou nesta quinta (24/06) em um estudo sobre o sistema de transporte público de passageiros e os impactos na mobilidade urbana do Rio de Janeiro. A pesquisa foi apresentada pela gerente de mobilidade urbana da Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro (SEMOVE), Eunice Horácio, que abordou temas como a queda na demanda, valores das tarifas e a falta de integração e subsídio dos modais.
De acordo com Eunice, nos últimos 10 anos, o uso de transporte por aplicativos cresceu e os ônibus perderam espaço. Dados da amostra coletados de 2014 a 2024, identificaram uma diminuição no número de usuários de ônibus na Região Metropolitana, passando de 160 milhões para 86 milhões, ou seja, uma redução de 53%. Apesar da pandemia da COVID-19 e a falência de empresas do setor impactarem o resultado, a queda na demanda permaneceu após a crise.
“A gente percebe que esse número não voltou aos parâmetros que tínhamos antes da pandemia. A nossa frota também teve uma queda de mais de 50%. Contávamos com quase 20 mil ônibus em circulação em 2014 e agora temos em torno de 10 mil”, acrescentou.
A queda no número de coletivos em circulação, levou muitos colaboradores à demissão. Em compensação, a porcentagem de coletivos com ar condicionado aumentou de 26% para 74%, enquanto a idade média da frota cresceu de 5 para 9 anos. Entre os motivos pelos quais os passageiros deixaram de usar o modal, a representante citou o tempo de viagem, a falta de segurança que levaram as pessoas a aderirem às motos por aplicativo, aumentando também o número de acidentes urbanos. Uma das sugestões para a otimização do tempo de deslocamento trazidas pelos membros da Câmara foi a integração entre os modais.
“Existe um modelo europeu bem sedimentado com uma integração multimodal em que você tem a possibilidade de escolher o modal, tem bilhete único e uma série de vantagens. Tem uma questão de infraestrutura que vai além das faixas exclusivas, como a possibilidade de contar com estacionamento para veículos automotores e bicicletas próximos às estações de metrô e trem. Pensando no nosso contexto, precisamos além de aumentar a disponibilidade de estacionamentos, eles precisam ser seguros e com valor acessível”, disse.
Quanto à tarifa, visando incentivar o uso dos ônibus, foi levantada a possibilidade de o preço da passagem estar atrelado ao salário mínimo.
“Desta forma, teríamos um preço mais competitivo com relação ao valor dos aplicativos sem provocar uma perda financeira significativa na vida dos usuários”, afirmou.
Entendendo que a integração intermodal é viável e interessante para o estado aos olhos da SEMOVE, Eunice explicou que seria necessário estruturar uma rede cicloviária para a região. Sobre a mudança na tarifação, ela afirmou ser difícil de colocar em prática por conta dos insumos utilizados para o transporte funcionar e que deveria haver subsídios.
“O custo da passagem considera 90% da mão de obra, diesel e os insumos utilizados. Concordo que a capacidade de pagamento da população reduziu, mas o que precisamos fazer é dizer isso para o Poder Público, para haver subsídio para equiparar. É necessário diferenciar a tarifa pública da tarifa de remuneração”, explicou.
O especialista de assuntos econômicos da FIRJAN, Diogo Martins, reforçou a importância da ligação entre os transportes de baixa e de alta capacidade, a questão dos subsídios e destacou que já existem planos estratégicos que contemplam essa integração.
“Precisamos que o bilhete único seja realmente único e a integração entre os modais, seja efetiva porque os aplicativos são uma realidade hoje e não temos como mudar. Além de uma passagem única para todos os meios de transporte, o que facilita a integração, essa passagem tem que ser subsidiada. Só 6% dos municípios do país tem transporte público subsidiado e é ele que vai estimular a sua utilização porque, dessa forma, você consegue transportar muito mais gente de forma eficaz, gastando e poluindo menos. Os planos estratégicos que o estado tem precisam ser considerados e levados adiante, como o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), da Secretaria de Transporte, que contemplam essas questões”, finalizou.
Para o próximo semestre os membros darão continuidade à discussão de mobilidade urbana. Os encontros voltarão em agosto.
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