A Câmara Setorial de Formação Profissional e Educação Tecnológica esteve reunida nesta terça-feira (29/04) e demonstrou preocupação diante do atual sistema de ensino e os impactos disso no desenvolvimento do estado. Entre as principais questões debatidas pelo grupo estão a quantidade de vagas ociosas em instituições acadêmicas, além das características da nova geração em sala de aula.
O professor de mecânica do CEFET-RJ, Heitor Mendes, fez uma apresentação com o levantamento das vagas ociosas na formação profissional, com foco na formação profissional técnica de nível médio da instituição. Segundo ele, o problema é ainda maior nos cursos técnicos subsequentes, com uma procura muito baixa em relação à oferta. De 320 vagas oferecidas no primeiro semestre desse ano, 123 não foram preenchidas.
“Temos 40% de ociosidade em vagas de formação técnica com alta empregabilidade. Temos que descobrir por que as pessoas não procuram esses cursos”, ressaltou.
Já nos cursos técnicos integrados e concomitantes do CEFET-RJ, as vagas ociosas representam 7% e 5% respectivamente.
“Precisamos descobrir se essa ociosidade é geral no estado para entender por que essas vagas não estão sendo preenchidas e desenvolver estratégias para trabalhar essa ocupação. É uma formação estratégica para o crescimento do Rio de Janeiro e precisamos de ações que envolvam o desenvolvimento produtivo a partir das cadeias setoriais de valor dentro do estado. Até para consolidar cadeias produtivas, vamos precisar de mão de obra especializada e a gente está vendo que já temos dificuldade até para formar, mesmo ofertando vagas a mais. Estamos numa situação, no mínimo, surreal de ofertar cursos, ter a demanda das empresas, ter a necessidade das pessoas de se formar e melhorar o seu nível, promovendo-se socialmente, mas essas vagas não são ocupadas”, pontuou.
Heitor também questionou se os modelos de formação profissional oferecidos hoje estão de adequados às novas demandas de mercado e aos novos tempos. Como possíveis causas para ociosidade de vagas, ele citou a má divulgação institucional, a falta de interesse pelo curso ou o fato de as pessoas não se acharem capacitadas para buscar a formação ofertada.
Outra questão mencionada durante a reunião, foi a diminuição da capacidade cognitiva dos discentes, algo que, para o diretor de projetos da ABTELECOM, José Acha, acontece devido ao contato excessivo dos alunos com as tecnologias e uso de redes sociais por essa geração. Para ele, é preciso debater formas de reativar a atenção prolongada dessa geração.
“Já tem um estudo aqui na UFF em andamento para saber o que está acontecendo com esses jovens porque eles estão diferentes. Desenvolvemos um teste que pela primeira vez mostrou que essa geração tem um QI menor do que a anterior. Isso é preocupante. Os alunos não conseguem manter a atenção por mais de 15, 20 minutos, por causa de aplicativos que trazem satisfação rápida pela liberação de dopamina”, explicou José Acha.
A, conselheira do CRA-RJ, Ana Shirley, sugeriu que talvez a metodologia de ensino dos cursos não esteja adequada à atual geração.
“Não há mais espaço para insistir nas questões tradicionais da educação. Precisamos pensar em novas perspectivas para caminhar com o novo tempo. Saber que público é esse como ele se constrói. A questão dos conteúdos direcionados e breves é algo muito importante dentro da realidade educacional de hoje”, finalizou.