Nesta sexta-feira (25/04) o engenheiro Delmo Pinho, especialista em transporte e mobilidade urbana da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), apresentou uma atualização sobre o status do projeto de modelagem da Ferrovia Vitória–Rio (EF-118) durante o encontro on-line da Câmara de Infraestrutura e Logística. A EF-118 conectará a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), no Espírito Santo, à malha ferroviária da MRS, no Rio de Janeiro. Ao formar o Anel Ferroviário do Sudeste, a ferrovia integrará as capitais, polos industriais e portos da região.
As discussões em torno da renovação da concessão da malha da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) acontecem desde 2018 e tem contado com a realização de audiências públicas ao longo dos anos. Com o contrato atual expirando em agosto de 2026, as negociações para a prorrogação por mais 30 anos incluem novos investimentos, como a ampliação da capacidade de transporte de cargas e a modernização da malha. As negociações têm enfrentado desafios e controvérsias, com a possibilidade de devolução de trechos da malha que não seriam mais rentáveis para a concessionária.
De acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de 2017, mais de 60% da área do estado do Rio de Janeiro é desprovida de acesso ferroviário ativo. Já a malha ativa está concentrada na Região Metropolitana e no Médio Paraíba.
“Você só coloca ferrovia onde tem carga de fato para transportar. Nenhum concessionário vai colocar um trem de carga para não transportar nada, temos um problema grave de demanda”, pontuou Delmo,
A EF-118 é uma oportunidade de consolidar o estado como um hub de escoamento da produção brasileira, incluindo a redução de custos logísticos, o fortalecimento do transporte de cargas e a criação de oportunidades para a indústria, comércio e agronegócio. Ao conectar a ferrovia com os portos do Sudeste, o Rio de Janeiro se torna um ponto estratégico, fortalecendo sua posição como um centro logístico.
“O Brasil vive uma crise portuária por falta de capacidade operacional nos portos. Quando eu fui secretário de Transportes, em 2020, fizemos muitos estudos que mostravam que os navios ficavam, em média, 20 a 23 dias parado esperando para poder encostar no terminal agrícola de Vitória e para embarcar soja e milho no Porto de Tubarão, por exemplo. Olha a fortuna que isso custava. Isso se intensificou e hoje alcança também o Porto de Santos e os portos de Santa Catarina. O Rio de Janeiro tem essa reserva técnica portuária diferente da maioria dos locais do país”, afirmou.
Devido à complexidade e os custos de se construir uma ferrovia, Delmo reforçou a importância de investir em um projeto que seja viável para o transporte de cargas. Ele explicou que o Governo Federal está destinando recursos para a primeira etapa do projeto da EF-118, que vai do trecho do Porto de Açu até Anchieta, no entanto, a extensão do Açu até Nova Iguaçu, com 325 km, ainda não tem previsão porque necessita de investimento muito alto, estimado em mais de R$ 7 bilhões, e depende de uma maior demanda de cargas.
“Fizemos o traçado e estudamos detalhadamente a demanda até Nova Iguaçu. Entregamos o estudo completo para o Ministério na ocasião, mostrando que a demanda de carga tornava o empreendimento viável no trecho norte, desde que fosse apoiado financeiramente pela União. Ferrovia é um negócio caríssimo e é muito improvável que uma grande ferrovia seja feita sem ter um subsídio importante do governo em países em desenvolvimento. Então, tínhamos um projeto conceitual extremamente refinado, só faltava o dinheiro. Agora, o governo apresentou uma alternativa interessante para a EF-118, mas não dá para achar que vão fazer uma ferrovia do litoral brasileiro ao Mato Grosso numa tacada só e em um governo ou dois. São investimentos muito caros, com muitas questões técnicas e ambientais para serem resolvidas”, detalhou.
Delmo destacou ainda que a solução encontrada pelo Governo Federal foi entrar, então, com uma parcela dos recursos da renovação antecipada, que está sendo repactuada nesse momento, conseguindo assim, viabilizar a primeira etapa da EF-118, conectando a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, à ferrovia Vitória-Minas.
“A implantação do trecho entre Anchieta e o Porto do Açu, que está sendo viabilizado financeiramente pelo aporte da União, é uma grande oportunidade para o Rio de Janeiro. Eu diria que nem é coisa de pai para filho, mas de avô para neto. A decisão de priorizar inicialmente esse trecho deve-se ao fato de que não há um porto com capacidade excedente no Brasil, como o Porto do Açu, e com a ferrovia será possível puxar cargas do Centro-Oeste e do Oeste de Minas pela FCA e pela Vitória-Minas e descer para o Porto do Açu onde podem embarcar e desembarcar. Não é que eu não apoie fazer toda a ferrovia, mas como não há volume de recursos suficientes para complementar todo esse trecho, temos de apoiar o que é possível no momento. Então, que se faça faseado e começando por onde carrega a carga. Depois, vamos estudar uma forma de incluir o próximo trecho na mesma concessão, para que o concessionário tenha interesse em investir nele”, finalizou.