Na manhã desta quinta-feira (26/09), a Câmara Setorial de Desenvolvimento Sustentável realizou um painel de discussão com o tema “Cidades Resilientes em Foco”, no qual foram debatidas formas de mitigar os danos acarretados pelas mudanças climáticas.
Para o professor da UERJ, Antônio Gaspar, um dos grandes perigos associados à mudança do clima está relacionado às chuvas e ao excesso de calor, com um aumento significativo de temperatura planetária. Ele também elencou os desafios da adaptação no estado do Rio de Janeiro.
“Devido às características, seu relevo e outras condições, o Rio de Janeiro enfrenta três grandes perigos. O excesso de água, que vai provocando uma tipologia de desastres relacionados ao represamento de água, os domínios montanhosos e uma ocorrência de secas e estiagem no norte e noroeste fluminense. Há muitos dias secos consecutivos no Norte fluminense e em parte da Serra da Mantiqueira, fomentando o impacto das queimadas. Já os dias de chuva consecutivos são predominantes e com uma concentração de eventos intensos na região serrana, na área de Angra dos Reis, na Serra da Mantiqueira e no município do Rio de Janeiro. A chuva está concentrada onde tem um fenômeno de urbanização mais complexo, uma concentração de pessoas mais significativa, uma receita propícia para a deflagração de uma série de desastres que a gente vê acontecendo”, pontuou.
Segundo Gaspar observou em sua pesquisa, a precipitação total do estado do Rio de Janeiro tem aumentado em uma ordem de 30.5mm por década. Além disso, afirmou que as chuvas aumentaram também em volume e afirmou ser necessário pensar em formas de adaptação, conforme as necessidades e características de cada município, a fim de mitigar os danos causados pelas mudanças climáticas em curso. Entretanto, ele afirma que as gestões ainda não estão dedicando recursos o suficiente para isso.
“É possível perceber uma relação de centro- periferia, em que as cidades do Rio de Janeiro e Niterói têm uma condição de enfrentamento ótima, mas que há diversos municípios mais vulneráveis, sem infraestrutura pensada na mudança. Além disso, há uma concentração do poder público nos investimentos em estruturas nas capitais e os instrumentos de ordenamento e gestão do território nos municípios fluminenses ainda não consideram os riscos das mudanças climáticas”, colocou.
Durante o encontro, o coronel-bombeiro da Defesa Civil de Petrópolis, Rafael Simão, juntamente com o secretário municipal de Proteção e Defesa Civil, Rafael Simão, apresentaram as medidas e os planos de contingência da cidade, que tem um histórico de desastres causados pela chuva. Entre elas estão as capacitações internas dos agentes da Defesa Civil, da atualização anual dos planos de contingência, a vistoria em imóveis e análises geológicas, além de rondas para prevenção de fogo em vegetação.
“Também foram criados núcleos comunitários de Defesa Civil, compostos por pessoas da comunidade e ações comunitárias com mapeamento participativo de rotas de fuga e simulados de evacuação, assim como materiais educativos, escola resiliente e ferramentas de alerta e alarme, assim como criamos um protocolo de índices pluviométricos e de inundação, um Centro Integrado de Monitoramento de Petrópolis e um conselho e fundo de defesa civil”, elencou Werner.
Hospitais resilientes
Já Rogério Casemiro, presidente do Colégio Brasileiro de Medicina e Desastres, ressaltou a importância de os hospitais também estarem preparados para as catástrofes climáticas desenvolvendo os seus planos de contingência e explicou que a resiliência hospitalar está na capacidade de adaptação às demandas ou eventos adversos e disruptivos, como pandemias e desastres, ajustando o funcionamento a situações de estresse.
“Tanto no Brasil quanto fora, há ausência de planos de resposta, e isso leva a situações de estresse, desorganização inicial e fake news porque quando as pessoas não têm informação, elas começam a criar as informações”, salientou.
Ele também destacou que os hospitais precisam se preparar de forma individualizada para poderem melhor atender a população em eventos extremos e inesperados e que as unidades hospitalares podem aumentar sua capacidade instalada em 20% nessas situações desde que tenham um plano de resposta.
“É necessário você se reorganizar, porque as medidas que você toma normalmente não são o suficiente para lidar com situações de adversidade. As catástrofes externas e tudo o que acontece no nosso cotidiano vai para dentro de uma unidade hospitalar”, frisou.
A assistente social Dora Lima trouxe uma perspectiva com foco nos impactos que as mudanças e tragédias climáticas têm nos cidadãos. A especialista pontuou que esses eventos afetam de formas distintas as pessoas pertencentes as camadas sociais.
“Os diferentes grupos impactados por um desastre irão vivenciá-lo com potenciais de resiliência diferentes”, afirmou.
Segundo Dora, pessoas mais abastadas possuem maiores recursos e amparo para lidar com situações trágicas e inesperadas.
“Acaba que configura uma perda circunstancial se você está amparado por essa rede. É outro lugar de classe, com outro potencial de restabelecimento do bem-estar”, concluiu.
A assistente social disse que são necessários um esforço multidisciplinar e um planejamento maior do poder público a fim de fundamentar o combate e a mitigação às catástrofes climáticas.
“O desastre não termina quando o elemento natural ou externo deixa de atuar porque, apesar de ter cessado o impacto, o sofrimento social gerado pelo desastre permanece. Portanto, os processos de vulnerabilidade antecedem o impacto de um desastre é agravado por ele. Logo, as políticas sociais têm um papel fundamental na geração de proteção integral como contribuição à construção de resiliência”, concluiu.