A segurança pública e seus impactos na mobilidade continuam no foco da Câmara Setorial de Infraestrutura e Logística. Durante a reunião ordinária, realizada nesta quinta (09/05), o grupo decidiu trabalhar em uma nota técnica compilando dados fornecidos pelas instituições que compõem o Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico. O encontro pode ser assistido na íntegra no Canal do Fórum no Youtube.
A gerente de mobilidade urbana da Semove, Eunice Horácio, citou a pesquisa com a visão do usuário do transporte público na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, pré e pós-pandemia, realizada pela COPPE e que será apresentada no dia 15 de maio na Associação Comercial do Rio de Janeiro em busca de soluções.
“O objetivo do estudo era entender a migração da demanda do transporte público. Estamos vendo um aumento de carros na rua, como na Avenida Brasil, e queríamos compreender o motivo. A pesquisa apontou que 15% das pessoas mudaram a forma de deslocamento. Dentro desse grupo, 16% afirmou que passou a usar o carro por falta de segurança pública nos transportes”, mencionou.
Eunice também abordou uma pesquisa feita pela Semove e que será reaplicada no próximo mês, para tentar entender o que é segurança pública na visão dos nossos operadores e não apenas no cliente.
“As pessoas não têm noção de quanto a questão da segurança pública impacta afeta a operação dos transportes. Não estamos falando aqui dos assaltos e furtos, mas do vandalismo, dos ônibus usados em barricadas e o quanto isso afeta o custo operacional das empresas, que deixa de ofertar um serviço porque o carro está na oficina e isso vai impactar também na tarifa no final das contas”
O especialista de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), Diogo Martins, complementou a fala de Eunice citando a questão dos roubos de cargas. Segundo ele, a Firjan faz anualmente uma nota técnica com informações sobre o número de casos que podem ser incluídos no documento que o Fórum irá elaborar.
“Podemos incluir também os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), que temos acesso. A gente sabe que o número de roubos de cargas vem diminuindo, mas ainda é muito alto e inaceitável. São nove caminhões roubados por dia. Isso vira um custo porque o produto não chegou e o seguro fica mais caro ou o transportador não aceita mais trazer, ou tirar produtos aqui do Rio, por exemplo. O Porto também fica prejudicado porque não consegue escoar a carga e fazer o comércio internacional funcionar porque num estado que serve como polo logístico”, pontuou.
Já o coordenador da Comissão Especial de Logística do CRA-RJ, Julio Cesar Loureiro, destacou que a insegurança no estado afasta também as empresas de se instalarem por aqui.
“A Baixada Fluminense é um verdadeiro hub logístico no nosso estado, principalmente Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. Nessa região, havia muitos galpões logísticos, sedes de empresas de logística e ainda existem muitos terrenos que poderiam ser usados para essa finalidade. Porém, está ocorrendo um esvaziamento e muitas empresas estão optando em tirar as suas operações do Rio para outros estados. Empresas não só de logística, mas também manufaturas, pequenas fábricas e médios negócios. Se eu não tenho a fonte geradora de empregos, fica mais difícil das pessoas terem um trabalho digno e rentável Precisamos manter as empresas aqui, criar a condição necessária para que a gente consiga atrair novas também. Para isso é preciso conter ainda mais o roubo de cargas, assim como o de cabos de energia e telefonia que afetam diretamente o trabalho dessas empresas”, frisou.
O assessor especial da presidência da Fercomércio, Delmo Pinho, voltou a reforçar que a segurança pública precisa ser prioridade número um do estado.
“A falta de segurança pública está sufocando a economia do Rio de Janeiro há 40 anos. Com isso, não conseguimos competir para atrair investimentos nem com o Espírito Santo, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais ou Paraná. Estamos praticamente fora do jogo. Há quantos anos a gente não atrai um empreendimento forte? Nossa economia industrial está concentrada, lamentavelmente, em cima de cinco ou seis empreendimentos, não são nem segmentos. O Rio de Janeiro ainda se caracteriza por ser um estado caro em impostos, com serviços públicos de má qualidade e altamente burocrático. Então, se todas as entidades e eventos desse tipo entenderem que a prioridade única é a segurança pública, a gente começa a dar foco na questão”, concluiu.