Fortalecimento do ecossistema de inovação pode alavancar desenvolvimento de hub de eletromobilidade no estado

O uso de veículos movidos por eletricidade representa o futuro da mobilidade urbana. De acordo com especialistas, o Rio de Janeiro tem potencial para se tornar um hub de inovação em eletromobilidade, mas para que isso aconteça é preciso percorrer alguns caminhos. Entre eles está a criação de um ecossistema de inovação. O tema foi debatido nesta quinta (18/08) durante um painel promovido pelas Câmaras de Energia e Tecnologia. O evento pode ser conferido na íntegra no canal do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico no Youtube.

“Para que a inovação aconteça, é preciso ter um ambiente industrial com demanda, também é necessária muita capacitação técnica, com talentos e competências, e recursos para fomentar esse ambiente”, afirma o presidente do cluster automotivo do Sul Fluminense Itamar de Sousa.

De acordo com ele, o cluster automotivo do sul fluminense é o segundo maior cluster em número de empresas do país, quarto em capacidade de produção e o sexto em número de funcionários, empregando mais de 24 mil pessoas nos segmentos automotivo, borracha e sistemistas.

“Contamos com 23 empresas do setor que unem forças para o desenvolvimento da competitividade da região, mais de 20 instituições de ensino técnico no entorno com enorme potencial de geração de talentos e temos no radar 48 mecanismos de fomento entre incentivos, financiamentos e fundo. Estamos vivendo num momento ímpar de abundâncias de recursos para pesquisas e inovação”, cita.

Porém, segundo Itamar, apesar de contar com todos esses ingredientes para despontar como um polo de inovação em nível nacional, ainda está faltando unir as pontas.

“O trabalho que falta fazer agora é a criação de um verdadeiro ecossistema, com a coordenação e participação de todos esses atores, acelerando a competitividade e tornando a região mais atrativa. A inovação é um dos principais pilares para a eletromobilidade e estamos empenhados nisso agora”, complementa.

Itamar destaca também que o estímulo à mobilidade elétrica demanda transição de tecnologia, qualificação de mão de obra especializada, novos marcos regulatórios, atração de novos fornecedores e desenvolvimento de novas tecnologias, além de infraestrutura.

“A gente vai precisar de novas leis e incentivos que possam favorecer o desenvolvimento industrial e no que diz respeito a utilização desses novos produtos que queremos colocar à venda no mercado. Temos um ponto importante que pode ser trabalhado pela Alerj junto com os stakeholders para pensar em como o estado do Rio de Janeiro pode se antecipar e trazer novas tecnologias para o estado com a infraestrutura necessária para viabilizar as novas tecnologias veiculares”, frisa.

A especialista de Infraestrutura da Firjan, Tatiana Lauria, destacou que a eletromobilidade é uma pauta urbana prioritária do desenvolvimento regional, principalmente agora quando se fala muito de transição energética.

“A visão da Firjan é que a eletromobilidade traz desafios, mas também grandes oportunidades. É um tema muito transversal que inclui questões de saúde, meio ambiente, eficiência energética, urbanismos, acessibilidade, uma quantidade de vetores de desenvolvimento dentro de um só assunto. Isso traz também uma complexidade com uma diversidade de atores para organizar esse cenário”, enumera.

Tatiana também citou que, apesar de o país ter uma Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/12), ela ainda não dá conta de todos os desafios a serem enfrentados nessa agenda.

“A legislação trouxe grandes diretrizes para mobilidade, mas muito focada na parte de combustíveis renováveis, mas existem grandes desafios na parte de infraestrutura, recarga, qualificação de mão de obra, financiamento e governança disso tudo. Temos no Rio de Janeiro grandes centros de pesquisa que podem contribuir para dar essas respostas e ainda a Casa Firjan, onde debatemos o futuro, e o Senai com a capacitação de mão de obra para que a eletromobilidade se transforme num vetor de geração de emprego e renda com sustentabilidade”, aponta.

Durante o painel, o diretor de tecnologia da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) Maurício Guedes, abordou a questão da capacitação técnica e geração de talentos, funil da inovação. Dados apresentados por ele mostram que o número de pesquisadores no país por milhão de habitantes é ainda muito baixo se comparado ao das maiores potências científicas do planeta, assim como o número de mestres e doutores que atuam nas empresas.

“No Brasil temos 1,9 pesquisadores para cada mil pessoas ocupadas, um número muito baixo. No mundo esse número gira em torno de dez. Estamos formando cerca de 20 mil doutores e 50 mil mestres por ano no país, mas ainda é muito pouco. Para completar, o Brasil é recordista no número de pesquisadores que trabalham em universidades (69,9%), enquanto nos países desenvolvidos a maior parte desses pesquisadores estão nas empresas. Precisamos acelerar a formação de pesquisadores e mudar a cultura de que lugar de pesquisador é na universidade apenas”, enfatiza.

Guedes também anunciou que a Faperj está com um edital aberto para fomentar a integração de mestres e doutores para executar projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I) em empresas sediadas no estado.

“Temos implantado na Faperj uma série de programas visando modificar esse quadro. Um deles é um edital que está aberto até o dia 26 de agosto que é o pesquisador na empresa em que a Faperjj pagará durante um ano uma bolsa para cerca de 100 pesquisadores trabalharem em projetos de P,D& proposto pelas empresas, com características especiais, podendo o valor ser complementado pela contratante”, detalha.

Clique aqui para acessar o edital

Experiências no estado

O Rio de Janeiro é pioneiro na produção de veículos elétricos no país. A fábrica da Volkswagen, instalada no município de Resende, região Sul fluminense, entregou 300 unidades do e-Delivery, modelo de caminhão feito para uso urbano, levando carga de centros de distribuição para entregas locais.

“A gente acredita que a eletrificação irá se iniciar nos transportes das grandes cidades e queremos ser protagonistas neste processo, liderando esta transição”, afirmou gerente executivo de Estratégia & E-mobility da Volkswagen Caminhões e Ônibus Walter Pellizari.

Segundo ele, foram investidos 150 milhões de reais nesse projeto e foram muitos os desafios em ser pioneiros, num projeto nacional, desenvolvido e fabricado no Rio de Janeiro.

“Não existia uma empresa automotiva no mundo que fabricasse veículo elétrico e a combustão interna no mesmo local. As plantas que existiam somente faziam apenas veículos elétricos e tivemos que fazer também essa inovação e ajustar o processo produtivo”, exemplifica.

Além de desenvolver o caminhão elétrico em si, também foi preciso oferecer assistência para manutenção dos veículos, treinamento operacional e montagem da estrutura das recargas.

“Hoje todos os lugares que dispõe dos nossos caminhões elétricos têm uma concessionária preparada e treinada para atender esse tipo de veículo. Outro ponto foi a preparação para equipe de venda para esse veículo chegar ao mercado, como eu treino esse cliente para operar esse veículo, muda todo o conceito de venda e atendimento. Quanto melhor você conhece o veículo elétrico, melhor você usa a eficiência de energia. Pequenas inovações que precisamos aprender para sermos os pioneiros”, conta.

Já a Nissan Brasil, também localizada no Sul Fluminense, é a subsidiária mais antiga da região, tendo iniciado as suas atividades no mercado no ano 2000. O Nissan Leaf foi o primeiro veículo elétrico do mundo zero emissões de carbono produzido em larga escala. Com essa experiência, a Nissan vem desenvolvendo desde 2016 novas tecnologias no país e já conta com um protótipo de carro inteligente.

“Para além do carro elétrico, a Nissan vem fazendo testes no Brasil de um projeto de eletrificação através da célula de combustível do etanol (SOFC). A gente está falando de um carro que usa o combustível etanol, tipicamente brasileiro, de uma energia limpa para fomentar a bateria elétrica trazendo eficiência. Uma nova fonte de energia que faz com que o carro tenha uma autonomia para rodar sem depender dos pontos de recarga, utilizando a estrutura já existente para fomentar a bateria elétrica”, explica.