Atlas do Turismo Rural do Rio de Janeiro é lançado na abertura do Seminário que debate papel das paisagens rurais no estado

A pandemia fez crescer o interesse pelo turismo de curta distância e deixou as paisagens rurais em evidência. Para os especialistas, trata-se de uma grande oportunidade de desenvolver o interior tendo como base o turismo rural de experiência. O tema foi debatido no primeiro dia do Seminário Estadual sobre o Papel das Paisagens Rurais no Rio de Janeiro, realizado online nesta terça (31/05), que trouxe também casos nacionais e internacionais de cidades e países que definiram a atividade como estratégica e ao estruturá-la trouxeram impactos econômicos significativos. O evento foi promovido pelo Departamento de Geografia da UERJ, em parceria com o Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico e pode ser assistido no YouTube clicando aqui.

Durante a mesa de abertura do encontro foi lançado o Atlas das Paisagens Rurais do Estado do Rio de Janeiro, produzido com o apoio da Faperj pela equipe do professor Gláucio Marafon, da UERJ. O levantamento também contou com apoio da Secretaria de Estado de Turismo, Secretaria de Estado de Agricultura, além da parceria com as secretarias municipais das duas pastas. O projeto tem como intuito identificar e compreender as paisagens rurais resultantes da prática da agricultura familiar no estado nas 12 regiões turísticas dos 92 municípios fluminenses. O Atlas em formato digital e pode ser acessado aqui

“O Altas tem um formato digital e até o momento estivemos em nove regiões turísticas, 57 municípios, com cerca de 3 mil fotografias de campo e 450 pontos georreferenciados, o que contribui para facilitar a visitação. O que encontramos durante a pesquisa foi uma grande diversidade da atividade rural no interior fluminense, com grande potencial turístico, porém ainda pouco explorada”, detalhou Marafon, que também destacou a importância da pesquisa para subsidiar políticas públicas.

De acordo com o estudo, o que caracteriza o rural fluminense é uma produção agrícola familiar, atividades agroindustriais, produção local artesanal, turismo de experiência e pedagógico, reutilização de espaços e propriedades históricas e iniciativas e projetos ecológicos.

“Temos uma diversidade grande para além do turismo de sol e mar, o que possibilita o turismo de experiência de proximidade muito intenso no estado do Rio de Janeiro”

Segundo o presidente da TurisRio, Sérgio Ricardo, o Atlas contribuiu para a descoberta de que o Rio de Janeiro tem um potencial muito grande para o turismo rural.

“A pandemia fez com que as pessoas ficassem muito presas em casa e com isso as pessoas passaram a buscar mais o campo, a natureza e o interior tem despertado para essa procura. Cabe ao Estado transformar esses atrativos em produtos e estamos fazendo isso com esse levantamento. Já temos mais de 300 roteiros e produtos sugeridos, além da produção de livretos com essas informações”, frisou.

Para o subsecretário Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Leonardo Pinto, o turismo rural é essencial para alavancar as agroindústrias rurais.

“O turismo rural abre uma série de novas oportunidades de trabalhos, contribui para a diminuição do êxodo rural, gerando empregos, aumentando a renda do produtor e contribuindo para o desenvolvimento regional”, salientou.

Também participaram da mesa de abertura o reitor da UERJ, Mario Carneiro, e o presidente da Faperj, Jerson Lima.

Experiências Internacionais e Nacionais

O Seminário contou com a participação de palestrantes internacionais que detalharam a experiência da Costa Rica, que tem o turismo como principal atividade econômica do país.

“O turismo na Costa Rica cresceu a partir da década de 1980. Em 30 anos, passamos de um local de praia para um turismo sustentável, no início dos anos 2000, até chegarmos em um turismo de experiência, nos adequando à demanda internacional”, explicou Meylin Alvarado, da Escola de Ciências Geográficas da Universidade Nacional da Costa Rica (UNA), que destacou a parceria entre governo, universidades e a comunidade local como um dos principais fatores de sucesso das ações de fomento ao turismo.

A articulação entre o poder público, a iniciativa privada e a pequena produção também foram pontuadas como fundamentais para o desenvolvimento do turismo rural e de experiência em países como Itália, que trabalhou a sustentabilidade da produção agrícola, e no desenvolvimento de roteiros no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.

“A paisagem é a oportunidade de tornar cada lugar único no mundo. As políticas devem caminhar no sentido de proporcionar o reconhecimento, valorização e conservação dessas paisagens como patrimônio, contribuindo para a redução das desigualdades sociais no campo, reconhecimento da diversidade étnica e cultural dos seus habitantes assegurando a sustentabilidade socioambiental”, afirmou o professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

O professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e da Universidade Federal De Uberlândia (MG), Marcelo Cervo Chelotti, enfatiza que o papel das políticas públicas para o turismo rural e manutenção das paisagens deve reconhecer e assegurar a diversidade.

“Existe uma tendência de homogeneização das paisagens, causando uma perda coletiva. O ordenamento jurídico deve caminhar para garantir a diversidade das paisagens que é onde reside a sua maior riqueza”, concluiu.