Setor de transporte público fluminense tem déficit de R$ 3 bilhões, avalia ACRJ

O agravamento da crise econômica depois da epidemia de Covid-19 piorou a situação financeira das empresas de transporte público na região metropolitana do Rio e boa parte está à beira da falência. O déficit no setor passa de R$3 bilhões. As informações foram divulgadas nesta terça-feira (23/11) pelo presidente do Conselho Empresarial de Logística e Transportes da Associação Comercial do Estado do Rio (ACRJ), Delmo Pinho, durante o painel sobre mobilidade urbana realizado pela Câmara de Infraestrutura e Logística do Fórum da Alerj de Desenvolvimento. A reunião pode ser assista na íntegra clicando aqui.

“O sistema de transporte público vem enfrentando queda no número de passageiros há pelo menos 15 anos. A Covid-19 foi o tiro de misericórdia, com uma queda expressiva no número de passageiros. A Supervia, empresa responsável pela operação de trans urbanos, está em recuperação judicial e um grande número de empresas de ônibus, seja em âmbito municipal ou intermunicipal, já faliram. Com a inflação e as gratuidades, o desequilíbrio financeiro chega a quase R$ 3 bilhões”, destaca Delmo Pinho.

Delmo revela que houve queda de mais de 80% no número de passageiros no metrô e nos trens, e 70% nas barcas. Mais de um ano e meio depois da crise, a ocupação ainda está, em média, 50% abaixo do número de passageiros transportados antes da epidemia de Covid-19. Para os ônibus, a queda no número de passageiros ainda está em torno de 25%. Uma redução relativamente menor, mas de alto impacto para um segmento que já amargava prejuízos. “Apesar de a gente ver muitas pessoas nas ruas, o sistema de transporte não está recarregando. É preciso recompor o equilíbrio econômico-financeiro com uma política de subsídios ao transporte público, como é usual no Japão, na Europa e nos Estados Unidos. Só nos Estados Unidos, até outubro do ano passado, foram investidos US$25 bilhões no sistema de transportes públicos durante a Covid-19, mas no Brasil nada”, argumenta Pinho.

Conselheiro da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp), Vicente Loureiro reconhece a gravidade do problema. “Talvez essa seja a crise de transportes mais aguda da história. Um terço das empresas de ônibus estão falidas, trens, metrôs e barcas em situação financeira completamente estrangulada. O problema não é setorial, é sistêmico. Por isso precisamos constituir uma Autoridade Metropolitana que vá além do sistema de transportes e olhe para o território. Temos um problema de governança sério, que muitas vezes nos leva a impasses e contradições”, reflete.

Coordenadora do Observatório dos Trens e conselheira da Casa Fluminense, Rafaela Albergaria ressalta a precariedade que o sistema de transporte público impõe aos usuários. Também pesquisadora na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela lembra o caso de Joana Bonifácio que morreu ao ser arrastada por um trem, após ter o pé preso em uma das portas de uma composição que partia da estação Coelho da Rocha, no ramal Belford Roxo.

“Para ser alvo de políticas públicas, qualquer questão precisa ser primeiro mapeada. Mas hoje, os dados sobre as diversas violências que ocorrem no transporte público não são fornecidos adequadamente. A gente sabe que todos os dias alguém fica preso numa das portas dos trens da Supervia, alguém cai na plataforma, trens trafegam com portas abertas porque não fecham mais, especialmente no ramal de Belford Roxo, que é o pior em termos de qualidade. Quando nós sistematizamos estes dados produzindo indicadores descobrimos que só em 2018 foram 83 homicídios culposos por atropelamento ferroviário. São quase duas mortes por semana”, aponta.