Segurança alimentar e empreendedorismo fortalecem comunidades quilombolas e de pescadores

A pandemia afetou duramente os pequenos negócios e deixou em evidência os mais vulneráveis. Para atuar no enfrentamento às consequências da crise da Covid-19, o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS) criou o projeto Pessoas e Negócios Saudáveis. A iniciativa uniu pequenos empreendedores da área de alimentação e organizações sociais de base comunitária para servir refeições diárias para população necessitada, garantindo a segurança alimentar e a geração de renda em diferentes territórios do Brasil. No Rio em Foco desta segunda-feira (11/04) o presidente do CIEDS, Vandré Brilhante, fala sobre a implementação desse projeto na prática, quais as regiões atendidas e as expectativas desse trabalho nos próximos meses.

“A pandemia trouxe a fome de volta. Começamos a nos deparar com muitas famílias precisando de alimentos. Eram colônias de pescadores e comunidades quilombolas, por exemplo, em situação muito precária. Convocamos uma rede de parceiros e passamos a levar comida para quem precisava. A gente não queria levar só comida, mas desenvolvimento, uma perspectiva de mudança e de futuro”, explica Vandré.

Sobre o perfil dessa população, Vandré conta que são adultos, com uma baixa escolaridade, sendo que 70% das associações existentes nesses locais são chefiadas por mulheres.

“Os jovens estão saindo dos quilombos em busca de oportunidades, então o que encontramos é uma população entre 35 e 40 anos e que encontram na agricultura e na pesca a fonte de renda para sobreviver”, afirma.

A iniciativa surgiu no final de 2020 e ainda está em prática atendendo, atualmente, 18 comunidades remanescentes de quilombos e 8 colônias de pescadores que vão da Ilha do Governador a Campos de Goytacazes, somente no Rio de Janeiro.

“Já atingimos a marca de 740 mil refeições distribuídas no início de março deste ano e nossa meta é chegar a 850 mil”, frisa.

Porém, nem tudo foi fácil no início. Segundo Vandré, muitas comunidades não apresentavam o mínimo de estrutura e local adequado para produzir as refeições. “Não queríamos simplesmente contratar uma empresa que levasse a comida até eles, a gente queria mudar aquela realidade. Então em muitas comunidades quilombolas a gente montou cozinhas, comprou fogões e capacitamos as pessoas para a compra de alimentos, prestação de contas e montagem dos cardápios para tornar a produção possível”, salienta.

Um dos desdobramentos dessa ação foi a publicação “Receitas e histórias das colônias de pescadores e comunidades quilombolas do norte fluminense e sul capixaba” e “Esta Terra não foi dada”, um livro documental com as histórias da origem das comunidades, suas manifestações culturais, lendas, crenças, lutas e desafios. Ambos podem ser baixados gratuitamente no site do CIEDS.

“O livro de receitas trouxe uma proximidade com o passado, com a ancestralidade. Além da comida, levamos para esses locais negócios e desenvolvimento comunitário, comemora o presidente do CIEDS.

Vandré também relata que o cenário desafiador encontrado nesses locais levou a questionamentos de como fazer com que as políticas públicas alcancem esses grupos, principalmente nos quesitos educação, saúde e transporte.

“Essa população já vivia em isolamento geográfico anterior à pandemia. Eles geralmente produzem apenas alimentos na agricultura familiar, mas não conseguem escoar essa produção. Outro problema detectado foi a falta de interação entre as políticas municipais com os pequenos produtores. Poderia ser um foco de um trabalho para o fornecimento de alimentos para merenda escolar. O município precisava mudar o olhar para a comunidade quilombola e pescadores, valorizando a ancestralidade e tratá-la como um ativo, como um acervo cultural, contribuindo para o desenvolvimento comunitário integrado e sustentável”, observa.

O Rio em Foco é exibido as segundas-feiras, às 22h, na TV Alerj (canal UHF 10.2 e 12 da NET) com reprises no sábado (16/04), às 17h, e domingo (17/04), às 20h. A partir de terça-feira (12/04) o programa fica disponível no canal do YouTube do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio e no podcast “Quero Discutir o Meu Estado”, disponível nas principais plataformas de streaming.