Os desafios de mitigar os impactos socioambientais no setor da moda

Consumidores conscientes têm exigido produtos e serviços mais sustentáveis nos diferentes setores, e na indústria da moda também não é diferente. Nos últimos anos, o setor de vestuário vem buscando alinhar sua cadeia produtiva às pautas sociais e ambientais. Para apresentar essas transformações e iniciativas que trabalham por uma moda mais limpa, justa, segura e transparente, o Rio em Foco desta segunda-feira (14/03) recebe a coordenadora educacional e gestora do Índice de Transparência da Moda Brasil 2021, Isabella Luglio, e a gestora de Moda do Sebrae Rio, Camila Araújo.

O Instituto Fashion Revolution criou em 2018 o Índice de Transparência da Moda Brasil, uma pesquisa anual que classifica as grandes marcas varejistas que atuam no país de acordo com o nível de informações que divulgam publicamente sobre suas políticas, práticas e impactos nos direitos humanos e meio ambiente em suas operações próprias e também em suas cadeias de fornecedores.

Em sua 4° edição, o Índice avaliou 50 marcas nacionais dos diversos segmentos de moda e o resultado não foi nada animador. A pontuação média geral das empresas analisadas foi de 18% apenas. A pesquisa conta com 245 indicadores em cinco áreas como políticas e compromissos; governança; rastreabilidade, conhecer, comunicar e resolver e, no último ano, tiveram destaque tópicos como trabalho decente, combate à Covid-19, igualdade de gênero e racial, clima e biodiversidade, dentre outros.

“O resultado foi abaixo do esperado e das 50 marcas envolvidas na pesquisa, 17 zeraram o questionário, ou seja, elas não têm nenhuma informação em seus sites sobre qualquer uma das questões apresentadas no Índice. Porém, é preciso olhar para o lado positivo: a cada ano são adicionadas mais dez marcas ao levantamento e, ao analisarmos as 20 empresas iniciais, o resultado delas foi de 30%. ou seja, acima da média que foi de 18%. Dessa forma, é possível perceber que quando a empresa começa neste processo de transparência, o resultado tende a melhorar a cada ano”, analisa Isabella.

Para Camila Araújo do Sebrae Rio, a indústria da moda vive um momento de quebra de paradigmas em que é fundamental mudar a forma de ser deste segmento, tanto para as grandes empresas quanto para as pequenas. Porém, as menores ainda têm dificuldade em se enxergar nesse cenário e entender como podem contribuir.

“É uma mudança disruptiva, mas extremamente necessária, onde o consumidor quer saber a origem do produto que ele está comprando, como foi feito, as relações sociais, os impactos políticos de governança na cadeia de fornecedores. Trazer essa transparência para o consumidor final é um caminho sem volta e essencial neste momento”, frisa.

Ainda de acordo com a gestora do Sebrae Rio, a instituição já trabalha nessa agenda capacitando os pequenos negócios para este movimento e com editais direcionados para a sustentabilidade na moda. Camila também explica que a pandemia acelerou e impulsionou ainda mais a questão da moda com propósito.

“A crise da covid-19 fez com que os empresários se vissem obrigados a inovar, tudo se voltou para o virtual com a diminuição no consumo de insumos e a revisão dos processos. Foi um momento de grande impacto nos polos de moda praia da Região dos Lagos e também de moda íntima de Nova Friburgo, ambos afetados pelo fechamento das lojas e ausência do turismo. Hoje as empresas já nascem sustentáveis, não há mais essa transformação”, explica.

 Políticas Públicas

Camila e Isabela acreditam que a construção de leis governamentais pode contribuir para esse movimento de mudanças.

“O apoio legislativo é essencial para uma ação maior dentro da cadeia produtiva da moda. A gente precisa de leis que valorizem essa indústria, priorizando a agenda social e ambiental com mecanismos de monitoramento”, conclui Isabella.

O Rio em Foco é exibido as segundas-feiras, às 22h, na TV Alerj (canal UHF 10.2 e 12 da NET) com reprises no sábado (19/03), às 17h, e domingo (20/03), às 20h. A partir de terça-feira (15/03) o programa fica disponível no canal do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio no YouTube e no podcast “Quero Discutir o Meu Estado”, disponível nas principais plataformas de streaming.