Metade das empresas ligadas à Economia Criativa demitiu durante a pandemia, aponta estudo

Durante a pandemia do novo coronavírus, cinco em cada dez organizações ligadas à cadeia produtiva da Economia Criativa tiveram que demitir colaboradores, segundo pesquisa realizada em 2020 pelo Observatório da Economia Criativa da Bahia, apresentada durante evento realizado pela Rede Pró-Rio, think tank coordenado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que reuniu especialistas para debater o setor. O encontro aconteceu no dia 30 de junho, e contou com o apoio do Fórum da Alerj de Desenvolvimento do Estado.

“A paralisação das atividades presenciais gerou incerteza, muitos não sabiam como iriam sobreviver. Tem muita gente, grandes produtores culturais em situação de fome”, revela a Doutora em Políticas Culturais e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Luciana Guilherme, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo.

O levantamento mostra que, mesmo antes da pandemia, aqueles que se empregavam em setores da Economia Criativa já viviam sob um regime de precarização das condições de trabalho. Sete em cada dez trabalhadores desta cadeia produtiva não possuíam vínculo empregatício, trabalhavam mais de 44 horas semanais e não possuíam reservas financeiras para períodos superiores a três meses. Por este motivo, os dados mostram que a digitalização da atividade foi a solução possível para superar a crise.

“Antes da pandemia muitos utilizavam o digital mais na perspectiva de divulgação do trabalho. A crise tornou obrigatória a apropriação deste conhecimento, mas, ao mesmo tempo, nem todos tinham acesso a técnicas e estratégias realmente mais efetivas’, analisou Luciana Guilherme.

Crise econômica já afetava setor mesmo antes da pandemia

Dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) de 2019 mostram que 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado é gerado na cadeia produtiva da Economia Criativa, que incorpora treze segmentos, englobando desde a produção audiovisual até o registro de patentes. Menos de 5% de participação na atividade econômica pode parecer pouco, mas já confere ao Rio a liderança no setor, em empate técnico com São Paulo, e confirma o potencial e o pioneirismo fluminense na indústria criativa que todos os participantes do evento reconheceram. Os especialistas também foram unânimes em apontar a crise nacional do setor.

“A gente já vinha em crise econômica mesmo antes da pandemia, não só na economia criativa, mas na economia como um todo. Entre 2015 e 2017 mais de 80 mil estabelecimentos foram fechados no Brasil, com 1,7 milhão de postos de trabalho encerrados. O Rio de Janeiro foi um dos estados mais atingidos por essa recessão. Dados mostram que o Rio de Janeiro era o único estado que ainda não tinha voltado a contratar no pré-pandemia ”, revela Julia Zardo, gerente de Ambientes de Inovação da Firjan.

De acordo com Zardo, a Economia Criativa pode se tornar um setor estratégico para vencer a recessão, mas deve endereçar ações agora e no futuro que permitam sua expansão. “A pauta atual da Economia Criativa passa pela desburocratização do Estado, pela necessidade de infraestrutura e fomento. Precisamos destravar estes temas como qualquer outra indústria, mas não podemos esquecer das pautas de futuro: capacitação, parcerias público-privadas, inovação, regionalização”, enumera.

Lia Calabre, titular da Cátedra da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para Políticas Culturais, e ex-presidente da Casa Ruy Barbosa, destaca a importância de pensar as políticas para a cadeia produtiva da Economia Criativa atreladas ao desenvolvimento do território em que são desenvolvidas.

“As grandes ferramentas de política cultural encontram efetividade no território. Historicamente a cultura sempre foi pensada de maneira episódica, numa visão limitada a eventos pontuais e dispersos, que não dialogam entre si. O Rio de Janeiro tem um conjunto de práticas, um conjunto de saberes muito diverso e dinâmico que precisa ser mapeado, reconhecido. Precisamos conhecer melhor o conjunto de nossas cadeias criativas, que têm alto potencial de geração de emprego e renda, sem olhar só para o evento final”, avalia.

O encontro pode ser assistido na íntegra na página da Rede Pró-Rio no YouTube, clique aqui.