A primeira edição da Roda de Conversa de 2021, realizada nesta quinta-feira (25/02), contou com a participação de duas empreendedoras de impacto social que abordaram os desafios desse tipo de negócio no pós-pandemia. Duas mulheres que arregaçaram as mangas e estão à frente de empresas que vem promovendo a transformação social aliada ao lucro. O bate-papo on-line foi mediado pela secretária-geral do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico e coordenadora do movimento Rio de Impacto, Geiza Rocha, e pode ser conferido na íntegra no YouTube.
Sabe aquela sobra de tecido das indústrias têxteis e confecções? São nada menos do que 170 mil toneladas descartadas todo ano somente no Brasil. Com foco no potencial econômico de transformação desse resíduo em renda e trabalho para mulheres que a administradora e designer Ariane Santos criou a Badu Design, que transforma esse material que iria para o lixo em novos produtos. São itens de papelaria, moda e decoração, numa rede que inclui 486 mulheres em 21 municípios do Paraná.
“Atendemos mulheres em situação de vulnerabilidade e que estão afastadas de uma oportunidade de emprego porque estão cuidando de alguém, capacitando-as para uma nova atividade. Acreditamos que para que haja transformação social é preciso também desenvolvimento econômico. Queremos mostrar a potência dessas pessoas, trabalhando em rede, e levando produtos sustentáveis e bonitos, promovendo o reuso e minimizando os impactos ambientais”, explicou Ariane.
A Badu nasceu da perspectiva de envolver mulheres que realizassem o trabalho em seus lares para que assim pudessem continuar cuidando dos filhos ou de um ente enfermo. Porém, a crise da Covid-19 também forçou o empreendimento a se reinventar. De início foram produzidas mais de 25 mil máscaras em parceria com a inciativa privada, garantindo o sustento de 20 costureiras da rede. Em seguida foi a vez da criação de novos produtos, como os kits Badu Box, que continham atividades manuais para adultos e crianças se entreterem durante o período de isolamento social, vendidos on-line. De todas as mudanças, a mais impactante foram as capacitações que passaram a ser on-line, o que permitiu levar a metodologia da Badu para outros lugares.
“O contexto da pandemia ampliou a conscientização dos consumidores. Assim conseguimos fortalecer as bases de mercado sustentável proporcionando o resgate de renda dessas mulheres periféricas. Mas para que isso acontecesse foi preciso ensiná-las a usar as ferramentas de tecnologia e enfrentar os desafios da falta de conectividade. O lado bom foi que a internet proporcionou também a oportunidade de expandir nossa metodologia e chegar mais longe. Passamos a atender mulheres do Ceará e de São Paulo”, contou Ariane.
A exclusão digital também foi uma questão enfrentada pela educadora popular do curso Escola Saberes Comunitários, Anna Paula Sales, durante a pandemia. O empreendimento tem como objetivo empoderar as comunidades, por meio da inclusão social pela educação promovendo a justiça social e geração de emprego e renda.
“Eu sou uma mulher periférica, que teve a vida transformada pela educação, acredito nela como base de tudo. A pandemia nos trouxe dificuldades e tivemos de readaptar toda nossa metodologia de ensino para plataformas digitais. Porém, nosso grande obstáculo estava na exclusão digital. Além de não ter acesso à internet, nosso público não tinha sequer smartphones ou computadores para acessar o material”, falou Anna Paula.
Segundo ela, foi preciso buscar saídas para a questão fazendo parcerias e trabalhando em rede com outras instituições para garantir a conectividade e continuidade das aulas. “Também fizemos diversas ações humanitárias durante esse período porque não adianta querer ensinar uma pessoa que tem fome. Foi um período de grande produtividade e voltou nossos olhares para uma nova perspectiva, uma nova economia criativa e solidária. Os negócios de impacto serão a solução nesse pós-pandemia”, concluiu.
O próximo encontro da Roda de Conversa será realizado no dia 25 de março e faz parte da agenda do Movimento Rio de Impacto. A inciativa foi proposta pela Asplande, que coordena a incubadora de negócios sociais Impacta Mulher, junto com a Rede Cooperativa de Mulheres Empreendedoras.