Ações de combate à covid-19 no estado mobilizam discussões do Fórum Rio de Desenvolvimento 

As medidas para o enfrentamento dos desafios impostos pela crise sanitária da Covid-19 foram debatidas na manhã desta segunda-feira (14/12) pelo Fórum Rio de Desenvolvimento da Alerj. O encontro virtual foi conduzido pelo presidente da Casa, deputado André Ceciliano, e reuniu deputados estaduais e federais, especialistas, reitores das universidades públicas do estado e economistas. Dentre as prioridades destacadas no momento estão o aumento da oferta de leitos, ampliação da testagem com maior velocidade nos resultados, criação do plano de vacinação em conjunto com Ministério da Saúde, além de ações para mitigar os impactos econômicos da crise.

Na ocasião, a assessora da Secretaria Extraordinária da Covid-19, Luciane de Souza Velasque, apresentou o mapa de risco do estado atualizado, em que mostra as Regiões Metropolitanas 1 e 2, com Baixada e a Capital, além do Noroeste Fluminense com bandeira vermelha. Ela detalhou as ações que vêm sendo tomadas pela Secretaria de Saúde (SES), neste momento, que incluem ampliação de testagem, ampliação de leitos e diretrizes de comunicação.

“Estamos trabalhando para abrir 590 leitos na rede pública, sendo 336 de UTI. Até o momento já foram abertos 293. Sobre a testagem, passamos a incluir não só as pessoas com sintomas, mas também todos que tiveram contato com elas”, contou Velasque. Na parte de comunicação, a SES elaborou duas cartilhas com informações sobre testagem para profissionais de saúde e para a população em geral. Também foram apresentadas três resoluções recentes que abordam entre outras coisas o custeio para ampliação de leitos no interior.

O presidente da Associação Estadual dos Municípios do Rio (Aemerj), Luiz Antonio da Silva Neves, também prefeito de Piraí, classificou a dicotomia entre saúde e economia como absurda. “Precisamos de medidas de distanciamento para que as pessoas não aglomerem. Temos dificuldades em ampliar leitos e eles não serão suficientes caso continuemos nessa escalada. Além disso, não teremos capital humano suficiente para atender a demanda”, afirmou Neves. Ele também salientou que a velocidade dos resultados dos testes é um dos maiores entraves enfrentado.

De acordo a reitora da UFRJ, Denise Carvalho, o índice R na Região Metropolitana está em 1,35, o que significa que cada pessoa infectada contamina, em média, 1,35 pessoas. A universidade vem monitorando esses dados com preocupação. Já foram realizados mais 30 mil testes RT-PCR e mais de 10 mil pacientes estão sendo monitorados pela instituição junto com a Fiocruz.

“Já chegamos a ter um índice de transmissibilidade de 1,1, mas os números pioraram provavelmente por causa do aumento da mobilidade da população. Se o distanciamento não é possível como gostaríamos, precisamos insistir que as pessoas usem máscara corretamente e higienizem sempre as mãos”, ressaltou Denise. Em sua fala, ela pontuou a contribuição da Alerj no desenvolvimento de um ventilador mecânico pela Coppe-UFRJ para uso no tratamento de pacientes com Covid-19 e acrescentou que o Brasil é o 11º país no ranking dos que mais produzem publicações sobre o tema, tendo o Rio de Janeiro um lugar de destaque. “A USP junto com a Fiocruz e a UFRJ são as três instituições que mais produzem pesquisas sobre a Covid-19 no mundo. Se tivéssemos mais apoio e menos burocracia poderíamos estar ainda mais bem colocados”, observou.

Vacinas

A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, relatou durante a reunião como anda o processo de acompanhamento e produção das vacinas da Covid-19 pelo órgão, que é um dos principais produtores do mundo.

Foi feito um acordo com a biofarmacêutica AstraZeneca para produzir, no Brasil, a vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford, que garante não apenas o acesso a 100,4 milhões de doses, como também assegura a transferência total da tecnologia para Bio-Manguinhos/Fiocruz, colocando o Brasil em posição privilegiada.

“Até agosto estaremos fazendo todas as fases de produção dessa vacina no país, mostrando nossa potência. Será possível ter uma produção sustentável só com laboratórios públicos para dar sustentação à sociedade”, atestou Nísia.

Ela também pontuou como um grande passo a escritura definitiva do Complexo de Biotecnologia em Saúde, em Sana Cruz, para a produção de vacinas e outros insumos de saúde com o Governo do Estado. O espaço possibilitará quadruplicar a capacidade de processamento, ampliando significativamente o fornecimento de produtos vitais ao sistema público de saúde e podendo atender também aos órgãos internacionais.

“Além de garantir a nossa autossuficiência e autonomia no mercado mundial com a incorporação de novas tecnologias, o complexo vai gerar cerca de 1.500 novos empregos favorecendo o desenvolvimento do estado”, acrescentou.

Economia

Os impactos da crise do novo coronavírus na economia do estado também foram debatidos pelo grupo. Segundo o diretor da Assessoria Fiscal da Alerj, o economista Mauro Osório, o Rio de Janeiro tem hoje uma taxa maior de desemprego (19,1%) do que o Nordeste (17,9%).

“Vivemos um momento de dramaticidade econômica. O estado perdeu mais postos de trabalho com carteira assinada do que qualquer outro, aumentando a fragilidade social e econômica. Além disso, o Rio de Janeiro foi o estado em que o SUS menos avançou. Precisamos olhar para essas questões estruturais“, alertou.

Outro ponto levantado por Osório diz respeito ao fim do auxílio emergencial do governo federal, ainda esse mês, agravando ainda mais o problema e economia do estado. “Só no Rio de Janeiro mais de 32% da população vêm recebendo o auxílio. Como ficará isso? Temos muitos municípios da Região Metropolitana muito dependentes dessa renda”, argumentou Osório que chamou a atenção para o auxílio municipal que será concedido pela prefeitura de Niterói e o programa de renda básica de Maricá como bons exemplos.

A presidente da comissão de Saúde da Alerj, deputada Martha Rocha (PDT), destacou a atuação do legislativo estadual no enfrentamento das questões da pandemia ao longo do ano. “Foram realizadas inúmeras audiências públicas sobre o tema na Casa e desempenhamos um papel fundamental por meio de parcerias com instituições, recursos para os municípios e debate constante sobre o estado de calamidade pública. Não encerramos 2020 sem fazer nosso dever de casa”, frisou.

O presidente da Alerj, deputado André Ceciliano, fez coro ao discurso da deputada. ”Não paramos de trabalhar nesse período de crise sanitária no legislativo estadual. Foram aprovadas em plenário cerca de 250 projetos de leis diretamente ligados à pandemia e 212 deles se tornaram leis de proteção à vida. Identificamos muitos pontos nessa reunião que vamos atuar", reforçou. Ao final do encontro, o parlamentar comunicou que até o dia 15 de janeiro, a Assessoria Fiscal da Alerj publicará uma nova Nota Técnica, elaborada por economistas e especialistas, com informações sobre inovação em saúde.