Último dia do 5º Seminário de Negócios de Impacto mostra empreendimentos de sucesso

No último dia do 5º Seminário de Negócios de Impacto Social e Ambiental, realizado nessa sexta-feira 27/11, oito empreendedores apresentaram sua trajetória em negócios que estão ajudando a transformar diversas áreas importantes da economia fluminense: Educação, Saúde, Emprego, e até a Logística foram impactadas por soluções inovadoras que além de buscarem sustentabilidade financeira transformaram positivamente a vida de milhões de pessoas. Durante o evento, a Greenliving anunciou que implantará em parceria com o “IFood” a primeira fábrica de produção de embalagens de bagaço de cana do Brasil. Um produto 100% biodegradável e compostável.

Estima-se que em 2050 a população estará descartando quatro caminhões de lixo cheios de plástico por minuto no oceano, o equivalente a 13 bilhões de toneladas. Pensando nesse imenso passivo ambiental, a Greenliving, empresa acelerada na incubadora do Instituto Gênesis da PUC-RJ,  elaborou uma espécie de embalagem feita a partir do bagaço da cana. A solução, além de biodegradável, é 100% compostável. “Se continuarmos nessa tendência em 2050 nós teremos mais plástico do que peixe nos oceanos.  Por isso decidimos trabalhar para ser uma referência em produtos de origem vegetal em substituição ao plástico. Neste sentido, o bagaço da cana é a melhor solução. Ele é versátil, tem ótima rigidez, produção limpa e é 100% compostável. No ano que vem, vamos botar de pé a primeira fábrica de produtos de bagaço de cana no Brasil aqui no Rio de janeiro”, revela Antonio Luís Fernandes de Abreu, presidente da “Greenliving”.

Se por um lado a “Greenliving” trabalha para encontrar uma solução para o descarte de recursos, por outro "Whywaste” do Brasil pensa soluções para evitar o desperdício de alimentos como um dos caminhos para reduzir a fome e subnutrição. A empresa nasceu na Suécia, está presente em 15 países,  e trabalha para oferecer aos varejistas brasileiros do setor de alimentos soluções automatizadas para verificação da data de validade dos produtos, bem como uma resposta do algorítmica, que recalcula a composição de preço dos alimentos próximos do vencimento para estimular a venda mais rápida. Com isso, 100% dos produtos têm a data de validade monitorada digitalmente sem a necessidade de intervenção humana.

“Os supermercados brasileiros têm R$ 7 bilhões em perdas por ano causadas pelo desperdício de alimentos. Uma gestão manual impede até mesmo a doação de alimentos próximos ao vencimento. Se apenas 30% dos produtos que são jogados fora pelos supermercados fossem doados, eliminaríamos a fome entre crianças brasileiras até 12 anos. O gestor passa ter conhecimento de quais são os produtos que estão próximos a vencer com certa antecedência. Além disso, utilizamos a inteligência artificial para que o gestor saiba qual é o melhor desconto a ser dado para que o produto gire e não sobre na gôndola. Por fim, revelamos quando doar os produtos é vantajoso, uma vez que ao doar é possível abater até 40% do custo do produto em impostos. Fome não é uma questão de escassez, mas de tecnologia. Vamos conseguir reduzir isso quando abandonarmos o sistema de gestão manual em favor da tecnologia”, destaca Ricardo Salazar, presidente da Whywaste no Brasil.

Não resta dúvida de que a nutrição adequada é um dos pilares de manutenção da saúde, outro é a prevenção de doenças epidêmicas. Com este problema em mente, Pedro Souza fundou a Algorith, empresa acelerada na incubadora do Sebrae-RJ, que utiliza armadilhas controladas por computador para atrair e eliminar o aedes aegypti, mosquito que é vetor de doenças como a dengue, a Zika e Chikungunya. “O processo manual de combate a dengue é trabalhoso, ineficiente, lento e cheio de retrabalho. Então criamos um sistema de monitoramento de epidemias, apoiado por armadilhas de captura do mosquito, com alcance de 300 metros, que são posicionadas em toda a cidade e possuem um atrativo químico que  estimula o mosquito  a colocar os ovos naquele local.  Esta informação é enviada a um mapa digital e o gestor consegue saber com precisão onde estão os ninhos em tempo real”, explica Souza.

Outro grande problema que afeta a saúde de milhões de pessoas são as doenças relacionadas à visão. Mais de 35 milhões de brasileiros sofrem de problemas visuais e 20% deste total poderia ter as doenças solucionadas com práticas preventivas.  Ana Lucia Ferreira Barbosa, fundadora do Visão do Bem, empreendimento acelerado na Asplande, achou o caminho do empreendedorismo por sua vontade de ajudar pessoas da sua comunidade que precisavam de óculos e exames de correção visual.  “Primeiro conscientizamos  a pessoa para que entenda que é importante usar os óculos. Depois fazemos testes de acuidade visual usando as nossas agentes da visão, então trabalhamos para ampliar o acesso aos exames oftalmológicos em parceria com clínicas de oftalmológicas. Hoje conseguimos descontos de até 50% nos exames de vista para nossos clientes. Também oferecemos óculos de qualidade a baixo custo. Atendemos 763 comunidades no Rio de Janeiro com 3.600 clientes”, revela.

Um dos grandes problemas para que práticas preventivas em Saúde funcionem certamente é a falta de acesso à políticas de Educação, que levem em conta a realidade socioemocional das pessoas. Robson Melo, percebeu esse papel holístico da Educação, que impacta em todas as áreas da vida. Foi criado na Rocinha, maior comunidade da América Latina, por pais que tiveram pouco acesso à Educação, mas motivaram os filhos a estudar. Melo cresceu com exemplo a guiá-lo, graduou-se na mais renomada escola jurídica do país, a Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Poderia ter uma carreira jurídica de destaque, mas percebeu que sua maior motivação era a crença que herdou dos pais no poder transformador da Educação, fundou então a Estante Mágica, o maior projeto de incentivo à leitura já concebido no país que transforma crianças em autores de sua biografia e protagonistas de seu aprendizado. A Estante Mágica oferece às escolas um projeto que torna cada criança autora do próprio livro. 

"Permitimos que crianças dentro de sala de aula escrevam as suas histórias e façam as ilustrações com apoio e orientação dos professores. Depois que essas histórias estão prontas, escritas e ilustradas, os professores fazem o upload do material e isso vira um e-book gratuito para as crianças, para suas famílias. A partir do e-book as famílias podem comprar os livros que vão ser utilizados num grande dia de autógrafos. Um dia em que as crianças levam suas família e seus amigos, são fotografadas e são, de verdade, os grandes protagonistas desta festa que celebra a Educação, tudo que elas aprenderam, tudo que elas têm de mais rico, que são as histórias que têm para contar”, conta Melo que já levou o projeto a 5 mil escolas e transformou 400 mil crianças em pequenos autores.

Se a Educação é a maior plataforma de transformação à disposição da sociedade certamente sua plena realização se efetiva quando pessoas se qualificam para encontrar um emprego que dê propósito às suas vidas. Vivendo na pele a dificuldade de realizar esse sonho, Aira Luana do Nascimento fundou a Josefinas Colab & Espaço Cultural empreendimento focado em empoderar  mulheres e mães da periferia, que reúne quase 200 mulheres, oferecendo oficinas e práticas de autocuidados com foco na criação de startups, onde as mulheres podem desenvolver seus projetos e produtos “Quando a gente fecha o olho para imaginar, pensamos num empresário como um homem branco de meia idade, jamais imaginamos uma mulher negra da periferia criando um negócio. Criamos produtos que visem ao empoderamento das mulheres e reduzam o impacto ambiental".

Redução de impacto ambiental e superação também foram os ingredientes que mobilizaram Elizabeth Lima, co-fundadora e designer da Bell Lima Joias e Acessórios de Impacto, a criar sua empresa. Lima foi diagnosticada com câncer e os efeitos da doença comprometeram sua saúde e autoestima. Depois de abandonar o emprego por complicações da doença, ela voltou ao mercado  criando um empreendimento, acelerado pela Asplande, que utiliza cápsulas de café para produzir ornamentos  de diferentes estilos. A empresa tem um impacto ambiental altamente positivo por trabalhar com resíduos plásticos que são descartados em grande quantidade. Estima-se que o número de cápsulas de café descartadas chegue a 16 mil toneladas por ano, o suficiente para dar dez voltas em torno do planeta. Mas apenas 20% delas é reciclada. Neste ano, a Bell Lima Joias e acessórios de impacto já retirou 3,2  mil cápsulas do meio ambiente,transformadas em joias artesanalmente customizadas em edição única. 

“Empreender recuperou uma parte importante da minha vida, me ajudou a me  sentir bonita no meio daquele processo tão agressivo como foi o câncer. Hoje estamos fazendo uma Black Friday em que parte dos lucros será destinado  à ONG Anjos da Tia Stellinha, que trabalha na defesa dos direitos de crianças e adolescentes de baixa renda na Zona Norte do Rio de Janeiro”, conta Elizabeth Lima.

Coordenadora de Comunidade do Sebrae-RJ e uma das fundadoras do Movimento Rio de Impacto, Carla Teixeira Panisset comemorou a riqueza dos relatos compartilhado nos três dias de evento, mas avalia que ainda há mais a ser feito. “Nos últimos cinco anos, o campo evoluiu muito: nós temos uma quantidade maior de empreendedores, estamos trabalhando numa área muito difícil, em que, algumas vezes os empreendedores criam o próprio mercado em que vão atuar. Então, temos que ter paciência porque o caminho é longo, mas já andamos bastante. A gente viu isso no primeiro dia com o posicionamento das instituições de fomento. No segundo dia falamos com os intermediários. Há cinco anos só tínhamos o ICE (Instituto de Cidadania Empresarial). Hoje temos estes dinamizadores mais fortalecidos e distribuídos no nosso estado. E fechamos hoje coroando com o relato dos empreendedores, que é pra quem vivemos. Nós vemos empreendedores que estão chegando e outros que estão se fortalecendo. Estes empreendedores olham, sentem, e agem para transformar a realidade. Então, olhamos para  trás e vemos coisas muito legais. Mas ainda é preciso melhorar. Nós ainda somos um nicho, e precisamos abrir mais as portas para tornar o nosso movimento mais plural", avalia.  

Veiculado pela plataforma ECOA PUC-Rio, o evento foi organizado pela ALERJ, Sebrae-RJ, PUC-Rio, Sistema B, Esdi-UERJ e Instituto Ekloos, e contou com o apoio da Faperj. Para acessar a íntegra dos debates, clique aqui.

Acesse as apresentações:
Whywaste BR
Visão do Bem
Josefinas Colab & Espaço Cultural
Bell Lima Joias e Acessórios de Impacto