Rio de Janeiro perde competitividade por ter energia mais cara do país

O Rio de Janeiro possui a energia mais cara do país. O custo da energia no estado está 43% acima da média nacional. O dado foi revelado durante um painel sobre o setor em evento realizado nesta quinta-feira (24/09) pela Câmara Setorial de Energia do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico do Estado. O encontro pode ser assistido na íntegra aqui.

Especialista em Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Tatiana Lauria Vieira da Silva destacou que energia elétrica a preço justo é uma condição importante para a competitividade do setor produtivo fluminense.  “Qualidade no fornecimento de energia elétrica, é ter acesso à eletricidade de forma segura e a preços competitivos, de forma a garantir o bom funcionamento dos equipamentos, a eficiência do processo produtivo, além do bem-estar das pessoas e a sustentabilidade ambiental”, explica.

 A pesquisadora trouxe casos concretos em que a baixa qualidade do fornecimento de energia elétrica causou prejuízos recorrentes à produção industrial.  “Uma indústria química em apenas um fim de semana de agosto teve seis picos de energia consecutivos e 25 interrupções no fornecimento. Tiveram que adquirir um gerador e gastaram R$ 16 mil só naquela semana. Episódios ocorrem todos os dias”, relata. Segundo a especialista, a carga tributária embutida no fornecimento de energia elétrica encarece os produtos até mesmo no mercado varejista. “O ICMS (Imposto sobre a circulação de Mercadorias e Serviços) do Rio de Janeiro é altíssimo, torna a nossa energia mais cara e esse custo acaba sendo internalizado pelas empresas e sendo repassado ao preço final dos produtos”, avalia.

A presidente do Conselho Empresarial de Energia da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Joisa Dutra, destacou a importância de atualizar o marco regulatório do setor de energia elétrica. “Nós já tivemos um modelo que conseguiu promover grande expansão de investimentos e conectar mais de 99.8% da população. Por outro lado, esta expansão trouxe um peso tarifário muito grande para diversos segmentos, o que foi extremamente prejudicial para competitividade da indústria e do comércio”, analisa.

Dutra relembra que a renegociação dos contratos de concessão entre empresas do setor e o Estado abriu um espaço para ajustar demandas por aumento de eficiência do setor de energia fluminense mas, segundo ela, as concessionárias, em especial a Light, presente em 31 municípios do estado , não tem conseguido cumprir as metas e resultados estabelecidos em contrato.

“Temos um conjunto de renovações de concessões e de distribuição a partir de 2015.  Não foi o caso da Light, nem da Enel, que passaram por privatizações, mas foi criado um espaço para mudanças nos contratos e para o estabelecimento de um plano para algumas concessionárias que estavam com uma performance deficiente. A Light foi uma delas. A empresa tem precisado fazer muitos esforços para mostrar que é capaz tanto do ponto de vista técnico, quanto econômico-financeiro de atender as condições para continuar sendo a concessionária. A penalidade máxima é a caducidade (perder a concessão). O fato é que para realidade da região Sudeste, o nível de perdas não técnicas da Light é muito elevado”, afirmou.

Joisa Dutra destaca que as dificuldades para modernizar o setor elétrico podem ser resolvidas pela digitalização das redes de distribuição. “Problemas complexos podem ser resolvidos por soluções inovadoras. Planos de investimento que envolvam modernização, adoção de novas tecnologias, que podem dar respostas para consumidores de diferentes grupos já estão disponíveis na sociedade”, aponta. Dutra sublinhou a importância de a oportunidade de inovação partir da seleção do estado do Rio para participar do programa de aceleração de startups coordenado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) em parceria com o Laboratório de Inovação Tecnológica (LabrInTOS) da Coppe/UFRJ.

A iniciativa tem o objetivo de estimular a criação e o desenvolvimento de startups focadas nos setores de energia e sustentabilidade e, com isso, transformar o Rio de Janeiro no “Vale do Silício” destas áreas, por meio da aplicação da metodologia do MIT aos atores e contexto locais. “É importante que o Rio de Janeiro defina e invista na sua vocação inovadora. Nós temos espaço para investimento em tecnologia. No fundo, o que eles querem é trazer as pessoas que têm ideias inovadoras para que transformem isso em negócios, que se materializem em soluções negociáveis e lucrativas, que possam trazer benefícios para sociedade”, declara. 

Dentre os temas que podem ser abordados junto ao estado citados por Joisa está a necessidade de a Agenersa estabelecer convenio com a Aneel para fiscalização da qualidade da energia. "Já há mecanismos para isso, mas o Rio não aderiu a esse convenio. Nos estados em que a agência local fiscaliza, os ganhos foram visíveis", analisa Joisa. A secretária-geral do Fórum da Alerj, Geiza Rocha ressaltou a importância de discutir a fiscalização da qualidade da energia elétrica: “Essa agenda precisa repercutir no Legislativo, para mostrar como isso tem impacto na vida de todos e para podermos ter um controle mais próximo da qualidade da energia que tem chegado ao consumidor.”  

A próxima reunião da Câmara Setorial de Energia será dia 15/10, às 15h.

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Acesse a apresentação:

Qualidade da Energia e competitividade - Tatiana Lauria - Firjan