Empreendedoras relatam desafios trazidos pela pandemia

As oportunidades e os desafios em tempos de pandemia de três empreendimentos de impacto social liderados por mulheres estiveram em debate nesta quinta (24/09) durante uma nova rodada de conversas, mediada pela secretária-geral do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico, Geiza Rocha. Durante o encontro, as líderes dos negócios solidários destacaram a atuação em rede como fundamental para enfrentar as incertezas trazidas pela crise da covid-19.

“Já estávamos acostumadas a criar estratégias em um mundo caótico porque a realidade antes da pandemia, principalmente nos locais onde atuamos, já não era boa. Porém, o que nos fortaleceu foi atuar em rede e acabamos nos tornando clientes de outros empreendimentos sociais e vice-versa”, contou Jessica Santos, que está à frente do projeto Paiol Cultural, produtora cultural e de comunicação para ações que geram impactos positivos e transformação social e que tem como missão democratizar o acesso à cultura, arte e educação.

Segundo Jessica, o cenário de crise foi de reposicionamento e de adaptar o conteúdo a era digital que o momento exige. “Investimos em produções audiovisuais de programas on-line que abordaram a história do Brasil e passamos a desenvolver uma qualificação voltada para a utilização de ferramentas tecnológicas para professores da rede pública levando em conta as limitações de infraestrutura”, disse.

Outro empreendimento que descobriu oportunidades com a crise do novo coronavírus foi a Mimos, negócio social de cosméticos naturais veganos. Foi durante a pandemia que Clarice Seixas, fundadora da Mimos viu seu empreendimento crescer. Além da produção dos cosméticos, que era feita no ateliê de Clarice, na Comunidade Santa Marta, ela investiu na criação de um negócio de produtos de limpeza naturais, desenvolvido a partir de capacitações realizadas com mulheres das comunidades do Pavão Pavãozinho e Cantagalo. Na pandemia, os produtos foram essenciais no dia a dia da comunidade.

“A formação de redes me ajudou a encontrar formas e saídas para solucionar problemas de logística e cadastro, por exemplo. Acabei reescrevendo a história, passamos a produzir sabão em pó natural e abri uma nova empresa para produzir e comercializar esse produto e agora já penso em ampliar o projeto para outras comunidades”, relatou Clarice.

Criada há 15 anos, o Mulheres do Salgueiro evoluiu de um projeto de qualificação para mulheres em situação de vulnerabilidade para uma cooperativa de indústria têxtil. O empreendimento social tem como base a economia solidária e produz peças de roupas e artesanato a partir de materiais recicláveis. “Queremos promover o cooperativismo popular por meio de uma gestão coletiva e criar oportunidades de trabalho pela emancipação feminina”, explicou Janete Nazareth, que lidera a iniciativa.

No início das medidas de isolamento, ela voltou a produção para a confecção de máscaras e arrecadou recursos juntos aos parceiros, que foram direcionados para distribuição de alimentos e 450 kits de higienes no complexo do Salgueiro. “Após as duas primeiras semanas de tensão, começamos a produzir as máscaras de casa. Depois nos vimos frente a frente com o dilema na comunidade onde o pobre ou morre de covid ou morre de fome. Formamos uma rede de solidariedade e juntos distribuímos cestas básicas, além de máscaras, sabão e água sanitária”, contou.

Para Geiza Rocha, a rodada de hoje, que faz parte das iniciativas do movimento Rio de Impacto, ajuda a pensar em políticas públicas para que os empreendimentos de impacto possam ganhar impulso e se fortaleçam no estado. “A quarta roda de conversa mostrou a cooperação e solidariedade desses empreendimentos liderados por mulheres e foi um encontro muito rico para identificar os ganhos e visão de futuro dos negócios de impacto social e ambiental no Rio de Janeiro”, finalizou.