Logística e conectividade são os principais gargalos do agronegócio na pandemia

Em meio à crise do novo coronavírus, a agricultura fluminense encontrou maneiras de se reinventar. Com as medidas de isolamento social, muitos produtores, especialmente os pequenos, ficaram sem conseguir escoar a produção. Porém, as semanas de agonia do início da pandemia se transformaram em oportunidades. Para os especialistas, o uso das ferramentas digitais como canais de vendas e a articulação de diversos atores do setor para solucionar a questão logística foram fundamentais para reverter esse quadro e garantir o abastecimento da população fluminense. Mas a expansão do mercado ainda esbarra em questões de infraestrutura, como a falta de conectividade, e são gargalos para o desenvolvimento da atividade agrícola no estado. O tema foi debatido nesta quarta (16/09), durante um painel virtual realizado pela Câmara de Agronegócios quando foram apresentadas algumas iniciativas bem-sucedidas durante esse período. O encontro pode ser assistido na íntegra aqui.

“A pandemia nos reconectou com governos, instituições de apoio e com os nossos pares. Todos se uniram para buscar soluções. Chegamos a jogar fora 750 toneladas de caqui, sem falar nas folhosas e na tangerina ponkan perdidas nesta safra”, contou a gerente-geral da União das Associações e Cooperativas de Pequenos Produtores Rurais do Estado do Rio de Janeiro (UNACOOP), Margarete Teixeira.

Entre os desafios enfrentados, ela citou a falta de acesso à internet no campo e a logística ainda deficiente como os principais entraves. “A internet é muito precária ainda na roça. As vendas on-line vieram para ficar. Agora vamos precisar de uma capacitação por meio dos órgãos públicos para que possamos avançar ainda mais nas questões tecnológicas e continuarmos inseridos nesse mundo digital”, completou.

Iniciativas

Durante a pandemia, o Sebrae-RJ promoveu rodadas de negócios virtuais reunindo produtores rurais e mercados varejistas da Região Serrana com o intuito de abrir novas possibilidades de vendas para esses agricultores. O programa Terra Nossa também conecta os agricultores com as prefeituras facilitando e estimulando as compras públicas. O próximo passo será lançar uma plataforma on-line reunindo esses pequenos produtores e os varejistas cadastrados.

“Vamos lançar o Terra Nossa Negócios no dia 30 de setembro e será uma plataforma para conectar as demandas dos mercados aos agricultores. Também servirá como uma ferramenta de informação para solucionar as principais dúvidas dos pequenos produtores como a emissão de nota fiscal, como fornecer para a prefeitura, além de disponibilizar a oferta de capacitações oferecidas pelo Sebrae”, explicou a analista do Sebrae/RJ Raquel Mattos Stumm.

Outra iniciativa que culminou na construção de uma plataforma on-line veio da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Há cinco anos, a instituição abria espaço para a realização da Feira da Agricultura Familiar no Campus Seropédica (FAF Seropédica), com o apoio da EMATER. Com a crise sanitária da Covid-19, também foi preciso migrar para as cestas virtuais de forma a garantir a renda das 20 famílias atendidas pelo projeto. “A feira era um espaço importante para a renda dos produtores. No virtual agora temos o desafio de melhorar a qualidade do produto e a rotulagem, já que o consumidor não está presente para escolher os seus produtos”, afirmou a professora e pesquisadora do Instituto de Agronomia da UFRRJ, Anelise Dias.

Para o diretor-geral do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Leste Fluminense (Conleste), João Leal, a pandemia adiantou em alguns meses o que estava previsto para acontecer em anos. “É muito importante que os governos trabalhem a conectividade digital para dar suporte ao campo”, enfatizou. Segundo ele, o consórcio já vem desenvolvendo um projeto piloto junto à iniciativa privada para levar a internet aos agricultores de Teresópolis, que faz parte do cinturão verde do estado. Outro ponto levantado por ele diz respeito a melhoria da infraestrutura, com investimentos para as estradas vicinais para o escoamento da produção.

Já o diretor de Programas do Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense (CIDENNF), Ézio Tavares, afirmou que vem trabalhando para criar soluções digitais para conectar os profissionais das escolas públicas aos produtores e também para implementar o PNAE regional “Vamos ter que aprovar novas leis que permitam ampliar a oferta de produtos da agricultura familiar orgânica na região. Estamos falando de 840 escolas e cerca de 110 mil alunos. Um mercado que precisa de produtos e que hoje vem sendo atendido por produtores de fora do estado”, pontuou.

Cooperativismo e agronegócios

Segundo o superintendente da OCB/Sescoop, Abdul Nasser, o agronegócio fluminense pode alavancar com o cooperativismo. Dados do IBGE apontam que a participação do setor de agronegócios no PIB do Estado entre 2016 e 2017 foi de cerca de 0,5%, registrando uma queda de 2% em volume, e mantendo-se como a atividade de menor participação na economia fluminense. Levando-se em conta que o Rio de Janeiro é o segundo maior mercado consumidor do país, trata-se de uma grande oportunidade de expansão.

“Sem o cooperativismo não vamos avançar nesse setor. Os números mostram que onde tem cooperativas, a produção aumenta. A situação do agronegócios fluminense é uma escolha e não consequência do tamanho de seu território. Porém, precisamos de linhas de crédito para crescermos”, concluiu.

Acesse as apresentações:

Margarete Teixeira - UNACOOP 

Abdul Nasser - OCB/Sescoop 

Raquel Stumm - Sebrae/RJ 

João Leal - Conleste

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Assista a matéria da TV Alerj