Rio em Foco: investimento em “green bonds” deve crescer no país nos próximos anos

Em meio às oscilações do mercado financeiro, “as green bonds” têm chamado a atenção pelo ritmo de sua expansão como opção de investimento. Em 2019, a presença de títulos verdes cresceu 49% em relação ao ano anterior, registrando US$ 249 bilhões globalmente. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) apontou que cerca de 20% das operações dos maiores bancos brasileiros foram destinadas a atividades que apoiam o desenvolvimento sustentável, mas apenas R$ 5 bilhões destes recursos vinculados a “green bonds” nos últimos três anos, abrindo espaço para que as operações certificadas com o selo verde sejam uma das alavancas da retomada da economia. O Rio em Foco desta segunda-feira (29/06) entrevista membros do Laboratório de Inovação Financeira, instituição multilateral responsável por encurtar o caminho entre os empresários brasileiros e a captação de investidores em títulos verdes.

Articulado em 2017 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em conjunto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o Laboratório de Inovação Financeira (LAB) é um espaço em que diferentes atores dos setores público e privado se reúnem para discutir soluções e traçar estratégias que permitam a transição da economia para uma matriz de baixa emissão de carbono e maior impacto social. "O grande objetivo do LAB é oferecer um fórum e promoção das finanças sustentáveis no país, em seus diversos aspectos: tanto do ponto de vista do impacto social, quanto das adicionalidades ambientais e da gestão de risco A.S.G. (risco ambiental, social, e de governança), passando também por questões de tecnologia", afirmou Enilce Leite Mello,Coordenadora do Laboratório de Inovação Financeira.

Recentemente, o LAB lançou uma publicação desmistificando a ideia de que investir em finanças sustentáveis e títulos verdes é algo complexo, caro e com menor possibilidade de retorno. São consideradas finanças sustentáveis a parte dos portfólios de crédito com menores emissões de carbono, que contribuem para gerenciar riscos relacionados ao clima, assim como visam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e práticas de sustentabilidade. Os títulos verdes são uma forma de acessar carteiras que reúnem investidores interessados em empreendimentos cuja governança inclui a preocupação com questões ambientais e sociais.

O advogado Bruno Tuca, um dos integrantes do Lab de Inovação Financeira e um dos responsáveis por coordenar a publicação “Desmistificando os títulos verdes”, explica que os títulos verdes podem ser obtidos pelos produtores e empresários interessados em captação de recursos de forma relativamente simples. Basta destinar parte do portfólio para projetos que tenham comprovadamente impacto ambiental positivo.

"Existe um mito de que os títulos verdes são algo muito complexo, que precisam ser instrumentalizados por meio de um título específico, que normalmente o empresário não conhece. Não é esse o caso. Na verdade, estamos falando que, dentro das formas de financiamento que já existem, o empresário tenha uma destinação específica de recursos para reduzir o impacto ambiental. Existindo esta vinculação na emissão de um determinado título, é possível obter o Selo Verde e atrair um novo tipo de investidor com perfil de investimento voltado para projetos alinhados a critérios de sustentabilidade. Não é necessário mobilizar nenhuma documentação diferente da já utilizada para contratar os financiamentos. O que é necessário é detalhar qual é a destinação dos recursos obtidos. O valor adicional a ser pago por esse esforço não é relevante", explica. 

De acordo com Bruno Tuca, a expansão do mercado dos títulos verdes tendencialmente pode acelerar a retomada da economia: "o crédito obtido por essa iniciativa costuma ter um índice de inadimplentes menor, porque as empresas que acessam este tipo de crédito e costumam ter um melhor nível de governança que permite se preocupar não só com a gerência da atividade fim, mas também se preocupar com temas de sustentabilidade. Por isso tendem a cumprir com mais rigor os seus contratos", revela o advogado.

O Brasil é um país com potencial expressivo de crescimento na emissão de títulos verdes. Segundo Bruno Tuca, o Agronegócio será um protagonista no crescimento deste tipo de financiamento. "Apesar das críticas existentes, é um setor que está bastante alinhado com práticas sustentáveis, e por conta disso tem ampla capacidade de acessar esse mercado. Um dos exemplos é a produção de cana de açúcar para a geração de bioenergia. Eu acredito que em breve veremos este setor obtendo o selo verde", avalia.

O Rio em Foco é exibido as segundas-feiras, às 22h, na TV Alerj (canal UHF 15.2 e 12 da NET). A partir de terça-feira (30/06), o programa fica disponível também no canal do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio no YouTube, e no podcast "Quero Discutir o Meu Estado", disponível nas principais plataformas de Podcast. Na TV Alerj, as reprises serão exibidas no sábado (04/07), às 17h, e domingo (05/07), às 20h.