Reconfiguração do mundo do trabalho depende do investimento nos jovens

“A pandemia da Covid-19 será uma espécie de pêndulo entre o antes e depois, não só no mundo do trabalho, mas em relação à vida”. A afirmação do professor Gaudêncio Frigotto, do Programa de Pós-Graduação de Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) abriu o IX painel on-line de Avaliação dos impactos do novo Coronavírus no estado do Rio de Janeiro. O debate, realizado nesta quarta-feira (06/05), teve como tema as reconfigurações do mundo do trabalho no século XXI e foi transmitido pelo canal do Fórum de Desenvolvimento do Rio no YouTube. 

Segundo Frigotto, o futuro dependerá dos jovens e das forças sociais que perceberem o que esse momento representa para a humanidade. “O desemprego é uma questão estrutural no mundo, o emprego qualifica a vida. A era de ouro do capitalismo se deu quando a sociedade regulou o mercado. A partir da década de 1960 a gente vê que as decisões no mundo do trabalho vão numa rota contrária ao que a humanidade precisa, com as políticas neoliberais e a precarização do trabalho. A inversão do mercado controlando a sociedade causou essa calamidade”, ressaltou.

No caso do Brasil, o professor destacou o alto índice de desemprego entre os jovens que atinge cerca de 3,5 milhões de pessoas entre 18 e 23 anos. “O enfrentamento do desemprego passa por quem são esses jovens e onde eles estão. Se olharmos esses jovens precarizados, vamos ver que eles são vítimas de todas as explorações. Ou seguimos com as políticas neoliberais de desmantelar o trabalho e o emprego ou vamos criar alternativas. Os empregos que podem ser criados são os que qualificam a vida. Destacam-se as áreas de saúde, educação, cultura, saneamento e construção civil”, disse Frigotto que também destacou a importância do Estado incentivar as pequenas e médias empresas geradoras de empregos.

                                                                 

A questão do reconhecimento do trabalho foi levantada pela professora Heloísa Ferraz Ayres, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). “O cenário é de mudanças, incertezas e contradições, mas estamos sendo convocados a nos movimentar. O trabalho é central para a sociedade”, afirmou. Ela relata ter ficado muito impactada ao ver uma entrevista, com um operador de máquina de atividade essencial, na qual ele dizia que só agora tinha se dado conta da importância do trabalho dele. “O trabalho discrimina com sentidos e significados contraditórios. As pessoas se apresentam a partir de um cargo e uma empresa e o trabalho passa a ser um instrumento de valor de dignidade humana. Enquanto alguns têm o sentido de dignidade, outros têm de humilhação. A contribuição social do trabalho é um valor para as pessoas”, exemplificou.

Ayres lembrou que a Agenda Nacional de Trabalho Decente só chegou ao Brasil em 2006, e para a juventude, apenas em 2011. “Se a Organização Mundial do Trabalho define o trabalho decente é porque existe o indecente. Essa agenda envolve temas como o trabalho infantil, forçado, tráfico de pessoas e a igualdade de oportunidades e tratamento para todos”, completou. Os especialistas ressaltaram a riqueza do momento para a reflexão e a mudança de paradigmas. "A universidade pode contribuir muito nesse processo de reconfiguração das relações e do trabalho. Estamos abertos a isso", ressaltou Heloisa.

                                                                   

Para assistir a íntegra do debate clique aqui.

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