Alternativas para uma economia pós-coronavírus são debatidas por especialistas

A eclosão da pandemia do covid-19 trouxe consigo uma crise econômica de escala global, mas que também pode representar uma janela de oportunidades, principalmente para o Rio de Janeiro se reinventar. Essa foi a visão compartilhada na manhã dessa quinta-feira (02/04) pelos especialistas que participaram do segundo painel on-line que avaliou os impactos econômicos do novo coronavírus na economia do estado promovido pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio, órgão da ALERJ. O encontro virtual pode ser assistido na íntegra aqui.

Para o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente Alves, especialista em desenhos de cenários futuros, a pandemia pode ser analisada em parte por essa metodologia, mas a história mostra que os ciclos econômicos e duram cerca de 50/60 anos e terminam numa grande crise e forçam o investimento em novas tecnologias.

“Estamos no fim de um desses ciclos, que já podia ser identificado por acontecimentos como a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, recessões em vários países com uma série de protestos e o Brexit. Já a pandemia é um evento imprevisível, mas que também vem ocorrendo uma por década, só que essa veio muito mais forte, forçando o realinhamento da geopolítica mundial e mudando estruturalmente a sociedade. É preciso pensar fora da caixa, porque a caixa explodiu,” explicou o professor. Ainda segundo ele, o efeito disso tudo é o investimento de centenas de milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento, criando uma nova onda de tecnologia prevista para 2024.

                                                         

Para que o estado do Rio de Janeiro acompanhe essa tendência, ele sugere que a indústria se reinvente, apostando em rupturas tecnológicas como novas fontes de energia, indústria 4.0 e transformação digital e nas áreas da saúde humana como a nanotecnologia, biotecnologia, medicina avançada e neuroergonomia. “O Rio de Janeiro tem vantagens comparativas para essas 12 tecnologias, como capital intelectual diferenciado, portos e uma capacidade diferenciada de água da maioria dos estados, podendo aproveitar parte dessas mudanças estruturais, como a possibilidade de ser um centro de lançamento espacial”, disse.

Segundo o professor da Fundação Getulio Vargas e PhD Istvan Kasznar, o Brasil já vinha sofrendo com uma taxa de investimentos baixa e uma alta taxa de desemprego. O Rio de Janeiro, mais especificamente, em depressão econômica e com desinvestimentos que sucatearam boa parte do parque industrial e sendo ameaçado de perder ainda mais royalties do petróleo em maio de 2020 em decisão do Congresso.

“O clima político deixa muito a desejar, piorando a situação. O estado tem vários ex-governadores presos por conta de escândalos de corrupção, desmontando a credibilidade e criando um grave clima de desconfiança, o que faz os investimentos estrangeiros diminuírem. Por outro lado, o potencial do estado é enorme e positivo com pessoal qualificado e de custo baixo; petróleo e gás em quantidade; terras ociosas e vontade de atuar na produção. É preciso reordenar, reorganizar, reestruturar a governança pública e a matriz de produção estadual”, afirmou Istvan.

                                                         

Para o coordenador da Rede Pró-Rio/UERJ, professor Bruno Sobral, é preciso que o Governo Federal dê respostas nesse momento: “Nosso sistema tributário e o pacto federativo, que precisa ser revisto urgentemente, fazem com que as respostas e recursos necessários nesse momento sejam provenientes do governo federal”, disse. Para ele, a grande falácia é a de que o governo federal está falido. “O desafio atual explicita como nossas regras fiscais estão disfuncionais. Só o duro condicionamento às restrições legais explica a falta de iniciativa”, concluiu.

                                                         

Para a secretária-geral do Fórum de Desenvolvimento do Rio, Geiza Rocha, os painéis que tiveram início nessa semana têm o intuito de trazer os especialistas para apresentar uma visão do momento. “Essas análises podem guiar políticas públicas e projetos de lei que estão sendo votados para agir de forma emergencial e contribuir para os aspectos do desenvolvimento estratégico do estado que precisam estar no radar nesse momento”.

Na segunda feira (06/04) o Fórum realiza o terceiro painel on-line em que abordará a diversificação econômica. O encontro está marcado para as 10h e será transmitido pelo canal do Fórum no Youtube.

Acesse as apresentações:

Prof. Paulo Vicente - Fundação Dom Cabral.  

Prof. Istvan Kasznar - Fundação Getulio Vargas. 

Prof. Bruno Sobral - UERJ.