Especialistas debatem saídas frente à crise do novo coronavírus

Em busca de saídas para a crise econômica que a pandemia do coronavírus acarreta, o Fórum de Desenvolvimento do Rio realizou nesta segunda (30/03) o primeiro de uma série de painéis virtuais para debater os impactos do novo coronavírus na economia e no planejamento do estado do Rio de Janeiro. O encontrou reuniu especialistas para falar sobre as reconfigurações dos setores da economia e as medidas que pedem urgência neste cenário. O encontro virtual pode ser assistido na íntegra aqui.

Segundo o economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), João Gomes, o faturamento do comércio já projeta uma queda de 70% da demanda. “Ainda não vemos as microempresas contempladas nos discursos do governo federal. Elas correspondem a 90% dos negócios, e são responsáveis por mais de um quinto dos empregos formais. Os financiamentos do BNDES estão longe da realidade dos pequenos empresários que faturam entre R$5 e 10 mil, por exemplo. Precisamos de critérios claros para operacionalizar e fazer isso chegar na ponta de maneira eficiente a estes empresários”, explicou Gomes.

Nas próximas semanas o Instituto Fecomércio RJ de Pesquisas e Análises (IFec) vai a campo para avaliar se as vendas on-line estão conseguindo reduzir em alguma medida o impacto da crise. “É uma forma de escoamento nesse momento, e um terço dos estabelecimentos já caminhavam nesse sentido, mas esse percentual ainda é considerado baixo”.

                                                                 

O coordenador da linha de pesquisa "Futuro do Trabalho", do laboratório do Futuro da COPPE-UFRJ, Yuri Lima, apresentou um estudo sobre o impacto do Covid-19 no emprego. Para ele, a crise econômica vai durar muito mais do que a da saúde e pede decisões urgentes porque as pessoas irão sofrer as consequências muito rapidamente, já que os setores mais impactados são os que mais empregam como o comércio varejista não essencial, o de alimentação, seguido pelo transporte de passageiros, turismo e hospedagem, atividades esportivas e cultura. Yuri afirma que é preciso investir com inteligência nesse momento com o poder público se aproximando da academia e das pesquisas na hora das tomadas de decisões.

“Muitas dessas profissões não podem ser aproveitadas neste momento como garçons, vendedores, operadores de caixa, num cenário que indica o aumento da taxa de desemprego, que já é alta”, afirmou. Segundo Yuri não existe uma solução única para todo país e será preciso um olhar regional, setorial e da ocupação. “Os microempresários enfrentarão muitas dificuldades porque sem fluxo de caixa, vão ser mais impactados de forma mais rápida. Que tipo de plataforma pode ser criada para dar suporte a esses pequenos negócios, para que eles possam dar continuidade exigindo um menor suporte financeiro do governo? Também teremos de avaliar possíveis trajetórias de migração das ocupações mais afetadas, qualificando profissionais à distancia para outras áreas onde há demanda nesse momento”, sugeriu.

                                                                   

Outro ponto debatido durante o encontro foi o investimento em saneamento básico como forma de barrar novas epidemias como a do coronavírus. “Não vejo ninguém abordar a causa da crise, que foi o negligenciamento do planejamento do saneamento nas cidades. Existem boas soluções, na contramão das políticas públicas atuais que passam longe das parcerias público-privadas, com saídas caras que atendem apenas a grandes grupos. Existem soluções baratas e sustentáveis que geram renda e melhoram a saúde das pessoas que passam pelo tratamento de esgoto das comunidades, a gestão dos resíduos sólidos e a economia circular”, disse o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da UERJ Adacto Ottoni.

                                                                   

“A ideia é realizar permanentemente painéis que reúnam a visão de especialistas de diversas áreas que possam subsidiar o parlamento estadual com informações e contribuições para as tomadas de decisões. A Alerj não está parada nesse momento crucial e tem muita coisa que ainda precisa ser inserida no planejamento do estado de olho no futuro, porque não seremos mais os mesmos quando essa pandemia passar”, finalizou a secretária-geral do Fórum Geiza Rocha.

Acesse as apresentações:

Yuri Lima - laboratório do Futuro da COPPE-UFRJ. 

Prof. Adacto Ottoni - Depto. Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da UERJ.