Nessa quinta-feira (21/11), representantes do governo do estado, de empresas, do Sebrae e da Firjan assinaram o termo de cooperação para formação do Cluster Tecnológico Naval de Defesa do Rio de Janeiro. Formado com o objetivo de aumentar a produtividade no setor por meio da inovação e do desenvolvimento de novos produtos e serviços, o cluster tem como foco pautar as lideranças políticas e empresariais do País para o potencial da economia do mar, que representa 18,93% do PIB nacional.
“Como qualquer cluster, a intenção é criar postos de trabalho, aumentando a renda da população e a arrecadação de impostos com as cadeias de negócios que vão surgir. Queremos trazer melhorias para a população em relação às condições econômicas, sociais e principalmente educacionais”, afirmou o vice-almirante Edesio Teixeira Lima Junior, diretor da Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron) durante o I Seminário Internacional “A Economia do Mar como Política de Desenvolvimento”. Para isso está sendo criada uma associação que irá integrar as cadeias produtivas e buscar negócios na área da economia do mar para o Rio de Janeiro: “Atualmente o cluster é formado por cinco empresas. Além da Emgepron, temos a Nuclep (Nuclebras Equipamentos Pesados), Amazul (Amazônia Azul Tecnologias de Defesa) e Condor Tecnologias Não-Letais, mas o grupo está aberto a outras adesões. Serão convidadas também as secretarias de estado, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e o mundo acadêmico, já que as universidades são essenciais nesse projeto”, afirmou.
Entende-se por economia do mar toda atividade econômica que tenha influência direta do mar, incluindo as que não têm o mar como matéria-prima, mas que são realizadas em suas adjacências. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) são setores correlacionados à economia do mar a captura e processamento de pescado, transporte aquaviário, portos, construção e reparação naval, exploração offshore de óleo e gás em águas rasas, turismo marítimo e costeiro, educação pesquisa e desenvolvimento, dragagem entre outros já consolidados. Entre os segmentos emergentes destacam-se a aquicultura, exploração de óleo e águas profundas, energia eólica offshore e renováveis, mineração do leito marinho, defesa e segurança do mar, biotecnologia marinha, além de produtos e serviços marítimos de alta tecnologia que representam oportunidades para o estado.
Entre o modelo econômico que o cluster pretende adotar estão a parceria com agentes privados. Caberá ao poder público a formulação de políticas públicas, estratégias e regulação no âmbito federal e estadual. No que diz respeito à governança, o cluster contará com um conselho político-estratégico que incluirá o governo do estado, Secretaria de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, representantes da autoridade e comunidade marítima, autoridades ambientais, Firjan, Sebrae, BNDES, IBP e o Centro de Estudos Políticos-Estratégicos da Escola de Guerra Naval.
Para o deputado Luiz Paulo (PSDB), que esteve presente ao evento, a importância do cluster da economia naval e do mar para o estado é grande, podendo ativar também setores como o de serviços marítimos, offshore, portuário e de turismo. “Dentro do relatório da CPI da Crise Fiscal nós destacamos a relevância da economia do mar para o estado. O potencial turístico das nossas costas, os três portos importantíssimos (Itaguaí, Rio de Janeiro e Porto do Açu) e as 13 indústrias navais aqui presentes são provas disso, sem falar no polo metalomecânico do sul fluminense e da Região Serrana que pode ser beneficiado”, destacou o deputado. “Hoje eu fiquei muito satisfeito com a notícia de que a União começa a fazer um plano estratégico de desenvolvimento econômico. Isso foi o que cobramos em nível estadual, na CPI da Crise Fiscal da Casa, de forma a ter esse cluster do mar também inserido”, concluiu o deputado.
De acordo com o vice-almirante, a Alerj tem um papel fundamental no apoio às políticas públicas para o desenvolvimento do cluster. “O Rio de Janeiro tem um potencial enorme, já que é naturalmente um hub logístico para economia do mar. Temos três modais integrados e boas condições de comunicação e energia. Porém, a segurança é um elemento fundamental para que os negócios possam prosperar. Então, a Alerj como casa legisladora tem total responsabilidade e já estamos trabalhando juntos,” disse Edesio que citou como positiva a criação da Frente Parlamentar da Indústria Naval da Alerj em agosto deste ano.
Intercâmbio entre projetos
Durante o evento, foi apresentado o Polo do Mar Bretanha Atlântico, na França, como um exemplo de cluster de inovação marítima como impulsionador do crescimento econômico, servindo de exemplo para o estado. Segundo o diretor executivo do polo, Phil Monbet, em 15 anos de existência, o modelo francês conta com a participação de mais de 8 mil empresas e já gerou quase 61 mil postos de trabalho, tendo a certificação dos projetos como um fator de sucesso e a capacidade intelectual, com a participação das universidades, como ponto-chave.
O evento seguiu na parte da tarde com a realização de um painel sobre os desafios e oportunidade para o Brasil na economia do mar, além de duas mesas-redondas com casos de sucesso de clusters no país e no mundo. A importância da governança foi evidenciada pelos clusters de outras regiões como o Aeroespacial de São José dos Campos, Polo de Defesa e Segurança de Santa Maria e o APL Naval do Rio Grande do Sul. Os clusters apresentaram o funcionamento dos seus programas, apoiadores e parceiros. Todos possuem ecossistemas compostos por empresas, meio acadêmico, governo e sociedade civil.
A professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande Campus Carreiros (UFRG), Andréa Carvalho, foi uma das palestrantes convidada. Ela reforçou o potencial de empregabilidade e sustentabilidade que a economia do mar possui. “O Brasil é muito dependente do modal rodoviário, uma das alternativas é apostar no transporte marítimo. O custo é baixo, nós retiraríamos muito caminhões poluentes da estrada, transportaríamos maiores volumes de carga e com isso também as emissões de carbono seriam diminuídas. O transporte marítimo de cabotagem conseguira trazer todos esses benefícios”, exemplificou.
Segundo dados apresentados pela professora, o mercado do mar brasileiro tem valor de arrecadação entre os mais altos do mundo no que diz respeito a participação da economia do mar no lucro de um país. Andréa também reiterou que o Rio possui dois setores chaves que serão importantes nesse novo momento de cluster: o turismo e a construção naval. Mesma metodologia defendida pelo consultor de mercado internacional, Chris Wall, que participou da mesa de encerramento trazendo a experiência de cluster desenvolvida pelo governo do Reino Unido. O britânico também colocou o mapeamento do mercado como principal ponto de partida para o planejamento do cluster fluminense.
“É importante reconhecer o perfil propriamente dito do Rio, buscar entender quais são as suas riquezas humanas e expertises. Em seguida, é preciso fazer um levantamento do mercado internacional para buscar qual país tem mais potencialidade para receber os produtos, serviços e tecnologias que o Rio tem para oferecer”, afirmou o Wall.
Recentemente, o programa Rio em Foco abordou o papel do cluster marítimo e da Indústria da Defesa na economia do estado. Para assistir o programa na íntegra, clique aqui.