Por uma economia mais humana

“O Joan me fez ver o dinheiro de uma forma diferente. Eu sempre tive uma relação complicada com dinheiro e ele me fez entender que e ele tem uma função-sangue, Ele é que faz acontecer e a gente precisa estar com ele perto para fazer as coisas boas acontecerem”, afirmou o produtor cultural Perfeito Fortuna, fundador do Circo Voador e da Fundição Progresso, ao final da palestra “Fundamentos Humanos para uma Nova Economia” do catalão Joan Melé, nesta terça-feira (8/10) no plenário do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio. Perfeito contou ainda que conheceu o pregador dos bancos éticos em Barcelona e desde então vem se reunindo com investidores para lançar um fundo de investimentos inspirado nas ideias de Melé. “Já temos até nome: Bem Fundo”, conta.

 “Por que ao escolhermos uma escola para os nossos filhos buscamos uma de acordo com os nossos valores e não fazemos o mesmo ao optarmos por um banco?” Essa foi uma das reflexões propostas pelo economista Joan Melé durante o evento promovido pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio, em parceria com o Movimento Rio + B, que abordou o papel dos bancos e do setor financeiro na sustentabilidade e inspirou o público presente a se questionar sobre a sua relação entre consumo, dinheiro e o impacto dessa decisão no cenário socioeconômico mundial. Segundo Melé existem três grandes formas de se usar o dinheiro que são comprar, poupar e doar e propõe que para ampliar nossa consciência sobre o seu uso nos façamos perguntas como: O que, por que e de quem eu compro? Quanto dinheiro, por que e onde eu poupo? Quanto, por que e a quem eu doo?

Joan Melé tem mais de 40 anos de carreira em bancos tradicionais e no início dos anos 2000 começou a se questionar sobre o melhor uso do dinheiro. Sua busca o levou aos bancos éticos, instituições que só investem em empresas que respeitam o meio ambiente, a cultura e a sociedade. Esses bancos formam hoje uma aliança de 46 instituições financeiras ao redor do mundo que reúnem 41 milhões de consumidores e possuem 127 bilhões de dólares em ativos sob sua administração. Segundo Melé a sociedade contemporânea vive hoje em função do dinheiro e se esquece de viver e ver a beleza das coisas.

“A gente perdeu a dignidade humana, estamos obrigando as crianças a se adaptarem a uma sociedade doente que destrói o planeta e não valoriza a espiritualidade”, diz. Para o espanhol a mudança só é possível por meio da educação das crianças e jovens. “Por que isso não é falado nas escolas e universidades? Precisamos criar uma economia humana e aprender a nos relacionar em harmonia. Por que temos de competir se necessitamos uns dos outros? Precisamos descobrir o sentido da dependência mútua, já que tudo o que eu preciso é produzido por outro alguém”, explicou Melé que é presidente da Fundação Dinheiro e Consciência e no momento dedica-se à formação e acompanhamento de estudos e protótipos para a formação de um banco com diretrizes bancárias éticas na América Latina.

Ao ser questionado se a corrupção poderia ser um empecilho ao desenvolvimento desse tipo de negócio no Brasil ele é enfático em afirmar que não. “Também existe muita corrupção na Espanha e isso não impediu os bancos éticos de terem sucesso por lá. O desafio está nas pessoas, ao fazer uma mudança espiritual. A corrupção é como um câncer infiltrado, mas é necessário um esforço pessoal porque se esperarmos que ela venha de fora não vai acontecer. É preciso olhar para o futuro e deixar o passado para trás para recuperamos o entusiasmo, os meios de comunicação e os empresários podem nos ajudar com isso ao falarem das coisas boas que andam acontecendo”, finalizou Melé que terminou a palestra aplaudido de pé.

O seminário também contou com a presença do colíder do Rio +B, Pedro Telles, que falou sobre a atuação do movimento do estado; do fundador da Sitawi Finanças do Bem, Leonardo Letelier, que abordou as finanças sociais e os investimentos de impacto; e do superintendente do Sistema OCB/Sescoop, Abdul Nasser, que palestrou sobre as cooperativas como ferramentas de democratização e humanização dos serviços financeiros.

Para o deputado Chicão Bulhões que presidiu o evento, o encontro foi muito positivo e faz parte da agenda do Fórum e dos deputados reunir e valorizar as pessoas que se dedicam aos negócios de impacto no estado. “Um dos papéis dos políticos é unir essas pontas e trazer esses empreendedores e suas demandas para dentro da Assembleia para que possamos contribuir no incremento desse setor que atua em prol do coletivo”, disse.

No fim de setembro a Alerj aprovou a Política Estadual de Investimentos e Negócios de Impacto Social, por meio do projeto de lei 997/19, e que aguarda a sanção do governador Wilson Witzel. Desde 2016, quando criou um grupo de trabalho sobre o tema, o Fórum vem debatendo a necessidade de criação de uma legislação que fomente os negócios de impacto no estado. O projeto de lei de autoria dos deputados André Ceciliano (PT), Renan Ferreirinha (PSB) e Mônica Francisco (PSol), tem como objetivo articular órgãos e entidades da administração pública estadual, do setor privado e da sociedade civil, na promoção de um ambiente favorável e simplificado ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto social. O projeto também prevê como objetivo a capacitação para o desenvolvimento da economia popular solidária.

 

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Abdul Nasser

Pedro Telles 

Leonardo Letelier

 

Com fotos de Tainá Lima 

Tradução: Julia Nemirovsky