Ressignificando o trabalho

Empreendedorismo é a palavra da vez. Diante de um quadro onde, segundo o IBGE, 12,4 milhões de brasileiros estão desempregados e outros 4,9 milhões desistiram de procurar emprego, muitas pessoas buscam o caminho do empreendedorismo como solução para fugir das estatísticas. Mas antes de montar um negócio é necessário conhecer o mercado e, principalmente, o atual cenário econômico e político. Empreender também requer passar por algumas etapas e a primeira delas é se conhecer, dominar a área que deseja atuar e, naturalmente, se planejar. O Rio em Foco que vai ao nesta segunda-feira (5/08) na TV Alerj (Canal 12 da Net), entrevista a pedagoga, psicóloga e comunicóloga, Sandra Korman. Ela desenvolveu uma metodologia chamada “trajetórias de vida” que aborda os desafios e a importância de ressignificar o trabalho na vida das pessoas.

Sandra conta que toda vez que explica o programa "Trajetórias de Vida", as pessoas imaginam que ela está tratando de uma “incubadora de gente”. “Fica esquisito chamar de “incubadora de gente”, então trouxemos uma coisa que não tem como condição a ideia de um empreendimento formatado, é uma coisa anterior”, afirma. A metodologia começou a ser desenvolvida no fim dos anos 80 a partir das experiências de Sandra em sala de aula, observando como os estudantes se comportavam durante a graduação. “Eu percebi uma mutação na dúvida desses jovens. Em 1987 o estudante se perguntava “como eu me insiro” no mercado de trabalho.  Em 2007 a temática da dúvida já evoluíra para um não saber generalizado. Primeiro, o sujeito relata que não sabe o que quer. Quando sabe o que quer, não sabe se vai querer isso ao longo dos anos e ainda não sabe nem se terá garantias de alguma inserção profissional”, conta Sandra.

O aumento na longevidade da população contribuiu para criar esse signo de ameaça sobre os estudantes que, muitas vezes, se veem preparando para profissões que não necessariamente existirão mais em um futuro próximo. “Medo e futuro parecem ser sinônimos e isso é uma coisa muito ruim. A gente sabe que o futuro deveria ser o lugar do desejo. Daí a gente vai e conecta com medo? Medo do futuro profissional, do futuro do próprio corpo, medo dos afetos. Então em todas essas três instâncias que são extremamente fortes: corpo, trabalho e os afetos, o sujeito contemporâneo se vê com receio ou de não fazer parte ou de não ter nem o direito de fazer parte”, diz Sandra.

A pedagoga ressalta que o empreendedorismo não pode ser visto com um atalho. “A gente brinca que é igual colesterol: existe o bom e o mau empreendedorismo”, diz Sandra. O “mau exemplo” seria aquele dissociado do contexto das transformações macroeconômicas, sociais e políticas da sociedade, o que coloca o empreendedor enfrentando uma conjuntura imponderável. “Por isso a gente tenta resgatar a ideia de educação e trabalho.  Mas trabalho como valor. O trabalho numa sociedade não pode ser encarado como uma contingência”, diz ela.

Na PUC-Rio, o Instituto Gênesis lançou o programa “Trajetórias Experimentais”, que possibilita ao participante pensar no futuro antes de tomar a decisão de se tornar empreendedor. Aqui o foco é no sujeito e não necessariamente no projeto de um negócio inovador ou uma empresa. Entre os projetos há casos de planos de estudos, mestrados e até um aluno que está organizando uma banda de rock. “Para essa primeira turma, abrimos um processo de seleção multissetorial. Não focamos em nenhum setor específico nem limitamos idade. O resultado é que nosso perfil de participantes tem gente de 22 e de 70 anos”, conta Lara Frigotto, coordenadora da área de cultura empreendedora do Instituto Gênesis. Ano que vem, Lara adianta, o instituto lançará o primeiro programa “setorizado”.

“Eu iniciei o ‘Trajetórias Experimentais’ para fazer justamente o trabalho de projeto de vida”, conta o estudante Thiago Ribeiro.  “Eu vinha de vários anos no meio acadêmico, principalmente em laboratórios e muito envolvido em um tipo específico de pesquisa. Senti que precisava ampliar minhas perspectivas, inclusive podendo visualizar novas oportunidades e assim poder repensar minha trajetória além do doutorado”, conta. Outra entusiasta do programa é a empresária Martha Ribas, fundadora da editora Casa da Palavra. “Eu comecei a repensar a vida porque eu tinha resolvido ser editora lá atrás, quando resolvi fazer produção editorial. Depois casei, tive filhos e aquilo que fiz durante 22 anos de trabalho, parecia não fazer mais sentido”, conta ela: “Então eu consegui viver o luto da minha profissão e entender quais sãos os potenciais, as habilidades e possibilidades para redesenhar o meu futuro além do trabalho em si. E quando você consegue descobrir suas potências e olhar com alegria e esperança para a frente, não existe nada melhor”.

A partir dessa terça-feira (6/8), o programa estará disponível no canal do Fórum de Desenvolvimento do Rio no YouTube. Na TV Alerj, as reprises serão exibidas no sábado (10/8), às 17h, e domingo (11/8), às 20h.