Parceria entre município e universidade prepara Teresópolis para chuvas de verão

As fortes chuvas que desabaram sobre a Região Serrana do Rio em 2011 são consideradas até hoje a segunda maior tragédia climática da história do Brasil.  Somente em Teresópolis, um dos municípios mais atingidos, foram contabilizados 382 mortos e 180 desaparecidos na enxurrada que deixou mais de 35 mil pessoas desalojadas em toda a região. Na próxima edição do programa Rio em Foco, que vai ao ar nesta segunda-feira, às 22h, na TV Alerj (Canal 12 da Net), o secretário de Defesa Civil de Teresópolis, coronel Flávio de Castro, e a reitora da Unifeso, Verônica Albuquerque, falam sobre a parceria entre o centro universitário e a Prefeitura local que resultou no projeto “Proteger Teresópolis”, que tem como foco prevenir a população dos desastres naturais e ampliar o mapeamento da região e de seus riscos, para que até 2020 o município esteja melhor preparado para enfrentar períodos de forte chuva.

O projeto analisa também dados como a situação das moradias, necessidades especiais de alguns residentes e a grande concentração de crianças como fatores que muitas vezes podem dificultar o processo de evacuação daqueles locais durante as chuvas. Um levantamento preliminar do projeto demonstrou que nas duas comunidades analisadas (Vale da Revolta e Coréia), mais de 80% dos moradores de áreas de risco permaneciam em suas residências ao ouvirem as sirenes de alarme tocarem. Para ajudar a reduzir a vulnerabilidade dessas pessoas e aumentar o grau de confiança da população em relação às sirenes, equipes de alunos e professores da Unifeso, além de técnicos da Defesa Civil, tem feito visitas semanais a diversas residências nessas comunidades.

“Teresópolis, além de ter grandes índices pluviométricos, é uma cidade com altos relevos e índices significativos de deslizamentos”, diz o diretor operacional da Defesa Civil, Jacinto Silva Nascimento, em depoimento gravado para o programa. Segundo ele dentre os vários aspectos positivos da parceria com a Unifeso, o cadastramento das famílias e o monitoramento das áreas de risco estão entre os mais importantes. “Estamos falando de pessoas que muitas vezes não estão sendo assistidas, vivem no anonimato. Por isso a relevância desse trabalho que permite, ao mesmo tempo, que a Defesa Civil conheça melhor a comunidade e a comunidade conheça melhor o que é o trabalho da Defesa Civil”, diz.

O “Proteger Teresópolis” contemplará 20 comunidades em áreas de risco do município. Destas, três já receberam as visitas dos estudantes, professores e técnicos da Defesa Civil: Coréia, Vale da Revolta e Jardim Meu Dom. “Nesse momento as equipes estão na comunidade de Vila Lebrão”, conta a reitora da Unifeso, Verônica Albuquerque. “Já foram visitadas quase 1.400 residências o que resultou em um cadastro de mais de quatro mil moradores. A ideia é que até o fim do ano a gente finalize os trabalhos nas 20 comunidades e parta para a Fase 2, antes do Verão, que consiste na preparação de planos de contingência o que, na prática, ajuda no fortalecimento das comunidades”, diz ela.

“A Defesa Civil sempre teve planos de contingência, mas eles eram muito genéricos”, reconhece o secretário de Defesa Civil de Teresópolis, coronel Flávio de Castro. “Esse projeto é eficaz porque chega lá na ponta, no detalhamento, quando indica uma pessoa em uma situação na qual ela não consegue sair de casa, ou mesmo ouvir as sirenes”, diz ele.

Segundo o coronel, em 2011 Teresópolis tinha 93 áreas consideradas “de risco” e delas só duas foram atingidas pelas fortes chuvas.   “As outras, onde morreram as quase 400 pessoas, não estavam no nosso plano de redução de riscos”, lembra. A partir dali, lembra Flávio, Teresópolis viveu uma verdadeira “tragédia política” com uma sucessão de sete prefeitos em sete anos, o que inviabilizou qualquer planejamento de maior prazo. “Em fevereiro o prefeito me chamou, preocupado com a questão das chuvas de verão, e propôs ‘vamos tentar uma coisa diferente’, foi quando resolvi procurar a Unifeso e conversamos sobre a ideia de abordar o problema sob o prisma da transdisciplinaridade”, conta.

“No início trabalhamos com alunos e professores da Engenharia e da área de Saúde, em especial, Medicina e Enfermagem”, conta a reitora. “Já incluímos Ciências da Computação e os próximos passos serão incluir a Psicologia e o Direito, para ajudar na discussão da questão habitacional”, diz. O investimento total da Unifeso no projeto não ultrapassou R$ 50 mil. Hoje 50 alunos participam, sendo 33 bolsistas e o restante voluntários.  “Nesse sentido o projeto é emocionante. Porque há uma troca de experiências e a identificação de que todas as áreas da universidade podem se agregar em novas fases”, diz ela.

A partir dessa terça-feira, o programa estará disponível no canal do Fórum de Desenvolvimento do Rio no YouTube. Na TV Alerj, as reprises serão exibidas no sábado, às 17h, e domingo, às 20h.