A indústria de defesa pode salvar o Rio

Até poucos anos atrás, se um país quisesse destruir as bases econômicas de um inimigo necessariamente precisaria destruir fisicamente suas instalações.  “Nos dias de hoje precisamos apenas ter um bom conhecimento sobre ciber-ataques ou ciber-defesas: ciber-segurança de um modo geral. E um dos objetivos fundamentais da indústria de defesa mundial é se preparar para fazer frente a este tipo de conflito”, afirma o professor Antonio Fonfría, professor-doutor da Universidade Complutense de Madri (UCM).  Ele foi um dos entrevistados, ao lado do presidente da Emgepron, almirante Edesio Teixeira Lima Júnior, e do gerente de grandes empreendimentos do Sebrae Rio, Renato Regazzi, para o programa “Rio em Foco”, da TV Alerj, sobre a Indústria da Defesa,  que vai ao ar nesta segunda-feira, às 22h, na TV Alerj (Canal 12 da Net).

                                                                 

Vista muitas vezes como um setor estanque, a indústria de defesa tem uma importância particular devido à sua dualidade. “Temos centenas de exemplos de pesquisas na área de defesa e segurança que transbordaram para o público em geral”, comenta o almirante Lima Júnior. “Nos anos 60, por exemplo, durante a corrida espacial, havia um grande problema relacionado à conservação da alimentação. A solução foram aquelas embalagens aluminizadas. Hoje, ninguém consegue pensar em conservação de alimentos por longos períodos sem recorrer àquele tipo de embalagem”.

Semanas atrás, um grupo de representantes da bancada federal do Rio esteve em uma visita ao porta-helicópteros Atlântico, o maior navio da frota brasileira. Ao fim da visita, os parlamentares assistiram a uma exposição sobre a Economia do Mar e seu potencial como solução de desenvolvimento para o Rio de Janeiro. “Mas a criação de um “cluster”, ou o desenvolvimento da Economia do Mar não vai se dar de maneira espontânea”, explica o almirante Lima Júnior. “É preciso ter um negócio-foco. E o nosso negócio-foco é justamente construção, reparação, manutenção e off shore. Então, com isso, podemos ter perspectivas enormes para o Rio de Janeiro”.

“Clusters” não são necessariamente uma novidade no mundo da economia. Eles vieram da ideia original do economista inglês Alfred Marshall, que no fim do século XIX defendeu a criação de distritos industriais cuja vantagem é gerar cooperação, troca de conhecimento e economia quando pequenas empresas se aglomeram em um mesmo território. Um século mais tarde o americano Michel E. Porter, da Universidade de Harvard, popularizou o termo “cluster” no livro "As vantagens competitivas das nações". Na definição de Porter, um “cluster” é uma concentração de empresas que se comunicam por possuírem características semelhantes e coabitarem no mesmo local. Elas colaboram entre si e, assim, tornam-se mais eficientes.

“Ele permite que se criem cadeias de valor e essas cadeias transmitem um efeito multiplicador para a economia em termos de renda, emprego e geração de impostos”, diz o almirante Lima Júnior, frisando que a importância do “cluster” é que as empresas especializadas não apenas competem nesse ambiente, mas também cooperam, criam rendimento de escala crescente, novas tecnologias e inovação. “Mas o importante é que ele tenha uma atividade fim, que no Rio de Janeiro é a Indústria Naval”.

“Ele seria um vetor de desenvolvimento ligado ao mar, aonde você junta vários setores econômicos. Desde o setor de Defesa, construção off shore, marinha mercante e turismo, que é muito relevante se você considerar os modelos europeus como na Côte D’Azur, na França”, conta o gerente de grandes empreendimentos do Sebrae Rio, Renato Regazzi. A famosa costa azul francesa, que tem no turismo sua principal atividade econômica, se estende por 150 km onde estão localizados grandes conjuntos de marinas e portos paras veleiros e embarcações.  A manutenção e revisão dos motores assim como os cuidados com cascos e acessórios geram dezenas de milhares de empregos nos iates clubes e marinas. Além disso, os equipamentos hoteleiros são responsáveis por outra grande oferta de empregos na região, que abrange desde a hospedagem propriamente dita e gastronomia, a serviços de spa e competições esportivas.

“Às vezes o Rio fica de costas para o mar”, ironiza Renato Regazzi. Ele cita o exemplo da construção do Riachuelo, o primeiro submarino nuclear brasileiro no porto de Itaguaí, como um “grande alavancador” da economia fluminense. “Ali você tem militares e civis trabalhando em conjunto. E quem entende mais de tecnologia de subsistemas hoje do que os militares? Essas tecnologias podem ser usadas no setor off shore também. Isso é tecnologia dual. É olhar o setor de Defesa como estratégico para gerar tecnologia e inovação. Isso já é feito no mundo todo e pode acontecer aqui também”, defende Renato.

A partir dessa terça-feira, o programa estará disponível no canal do Fórum de Desenvolvimento do Rio no YouTube. Na TV Alerj, as reprises serão exibidas no sábado, às 17h, e domingo, às 20h.