Copinhos feitos a partir de fécula de mandioca, pares de óculos produzidos a partir de embalagens descartadas de pasta de dente e relógios à base de madeira reutilizada. Todos os exemplos anteriores marcam um novo tempo nos debates sobre sustentabilidade nos meios de produção, onde é cada vez mais presente a busca em reduzir ao máximo os descartes industriais. A velha e popular ideia da reciclagem, hoje, começa a subir o telhado, e países como a Inglaterra projetam livrar-se dos seus resíduos sólidos até o ano de 2050.
Se a proposta dos britânicos parece ousada, este e outros desafios estiveram presentes nos debates do seminário “Economia Circular na Prática”, realizado nesta quarta (08/05), pela Câmara de Desenvolvimento Sustentável do Fórum de Desenvolvimento do Rio, órgão da Alerj. O encontro reuniu especialistas no tema da CNI, Firjan, representantes de universidades do Brasil e exterior, além de empreendedores da chamada Economia Circular _ setor da economia onde os resíduos de uma indústria podem servir como matéria-prima reciclada para outra indústria ou a própria.
“A economia circular vai além da reciclagem. É preciso pensar em outras formas de prolongar o tempo de vida útil do produto que começa no design, com materiais mais eficientes, passando pela eliminação dos desperdícios no processo de fabricação, manutenção, até chegar na reciclagem com a logística reversa”, explicou a analista de Meio Ambiente da Firjan, Renata Rocha.
Apesar da reciclagem ainda não ser prioridade para muitos administradores _ já que exige inserir energia, trabalho e material em seus processos _, na avaliação dos palestrantes o Rio de Janeiro ainda precisa avançar muito na questão de reaproveitamento dos resíduos como passo inicial para se construir um caminho que leve à economia circular. Hoje, apenas 1,3% dos resíduos do estado são reaproveitados, segundo dados da Fundação Ceperj.
“Ainda temos no estado uma grande geração de resíduos e um baixo aproveitamento desse material. Então, apesar da reciclagem ser a fase final da economia circular, a gente deveria focar nesse ponto pela oportunidade que ele traz já que ainda vivemos numa economia linear para depois evoluirmos para as outras etapas, construindo o caminho da economia circular no estado”, afirmou o professor da Universidade Veiga de Almeida Wladmir Motta, pesquisador do tema da Economia Circular nas áreas de eco-inovação e abordagem do ciclo de vida.
Entre os gargalos identificados que dificultam o estímulo à economia circular no estado, uma das principais questões é a tributação dos produtos, já que muitas vezes fica mais caro produzir um produto com material reciclado do que utilizando matéria-prima virgem. A desoneração fiscal da cadeia produtiva da reciclagem para aumentar a produção e baratear o preço dos produtos provenientes de resíduos sólidos é considerada uma das principais medidas para o desenvolvimento da atividade.
Segundo Sérgio Monforte, especialista em Sustentabilidade na Confederação Nacional da Indústria (CNI), os recursos naturais encontrados no país são uma grande vantagem competitiva que deve ser usada a favor do Brasil e que nos difere da Europa, onde o modelo de economia circular já está consolidado.
“Os recursos naturais nos trazem competitividade com sustentabilidade e precisamos aproveitar essas oportunidades para vencer os nossos desafios. Porém, ninguém é capaz de promover essa mudança sozinho e precisamos de ações coordenadas de quem pensa, com quem faz e quem legisla para avançarmos nesta agenda”, explicou Monforte.
Cases de sucesso
Durante o seminário, o engenheiro e empreendedor na CBPak, Cláudio Bastos, apresentou o case de sucesso da sua empresa que produz e comercializa embalagens biodegradáveis e compostáveis a partir da fécula de mandioca. Para ele, as empresas devem absorver as tecnologias para mudar o mindset e volta-lo à sustentabilidade. Porém, a mudança maior precisa ser nas pessoas. Outros exemplos apresentados foram os da empresa Sagui, que produz pares de óculos a partir do plástico das embalagens de pasta de dente e da Maré, marca carioca de óculos e relógios produzidos com madeira reaproveitada. O próximo passo da Câmara Setorial será elaborar um documento sobre economia circular para circulação no parlamento estadual.
“O tema foi proposto pelos próprios integrantes da Câmara de Desenvolvimento Sustentável e tivemos um mergulho interessante que pode ter desdobramentos na síntese que será entregue aos deputados com estudos que podem ajudar o Rio de Janeiro a entrar nesse circuito da economia circular”, finalizou Geiza Rocha, secretária-geral do Fórum de Desenvolvimento do Rio.
Para ler a apresentação de Wladmir Mota, da Universidade Veiga de Almeia, basta clicar aqui.
Para ler a apresentação de Carolina Zoccoli e Renata Rocha, da Firjan, clique aqui.
Para ler a apresentação de Sérgio Monforte, da CNI, clique aqui.