As imagens de tartarugas com canudinhos enfiados no nariz ou com o casco esmagado por aramados de cerveja, ajudaram a consolidar entre a população a imagem do Plástico como o grande vilão dos tempos modernos. E não é para menos. A prestigiada organização não governamental World Wide Fund for Nature (WWF) publicou no início deste ano o relatório “Solucionar a poluição plástica: transparência e responsabilização” mostrando que 75% de todo o plástico já produzido no mundo foi parar no lixo. Mas onde alguns enxergam crise, outros vêem oportunidades, e já há quem trate esse material descartado como uma possibilidade de desenvolvimento econômico.
Segundo a pesquisadora e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Elen Pacheco, ao não enxergar as potencialidades do material plástico descartado, o Rio está perdendo uma grande oportunidade de gerar empregos. Elen é coordenadora do laboratório Nerds (Núcleo de Excelência e Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável), do Instituto de Macromoléculas da UFRJ, que tem como objetivo o desenvolvimento de materiais e produtos mais sustentáveis. Para ela, com o incentivo correto é possível beneficiar a população direta ou indiretamente com a coleta e reprocessamento do resíduo plástico coletado.
“Os parlamentares poderiam pensar em incentivos para a coleta seletiva que é uma ótima fonte de geração de emprego, ajuda os catadores e as indústrias. É importante também que haja uma política mais rígida para que a lei funcione, as coletas precisam necessariamente serem direcionadas para centros de reciclagem. Outra sugestão seria mais apoio a centros de pesquisa que estão desenvolvendo a fundo experimentos em prol do tema”, explica a professora.
No Brasil, dados do Banco Mundial apresentam que mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular em lixões a céu a aberto, e outros 7,7 milhões de toneladas vão parar em aterros sanitários. Em metrópoles como Rio de Janeiro os dados não melhoram, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) relevou que o descarte de plástico na cidade vem aumentando e já representa 24% do lixo doméstico coletado no Rio. No ano passado, foi sancionado uma lei que coloca metas para o crescimento da coleta seletiva no estado. Com a determinação da Lei n° 8151/2018, a partir deste ano o recolhimento deve crescer no mínimo 10% a cada dois anos.
Uma maneira de reaproveitar o plástico é reinventando sua forma. O curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolveu um novo projeto chamado Plástico Vivo. Com a ajuda do professor Márcio Cataldi, um grupo de estudantes criou um sistema de reciclagem visando a reduzir os danos locais causados pela poluição. Nas primeiras coletas de material, Cataldi se espantou com a quantidade de tampinhas recolhidas em pouco tempo de coleta. “A quantidade de material que já temos cobre quase que metade da sala, a gente não tem noção de quanto lixo devolvemos de forma irregular para o meio ambiente todos os dias, chega a ser agressivo de se ver.”
O plástico recolhido no campus agora se torna matéria prima para as impressoras 3D da faculdade. Percebendo a diversidade do material das PETS recolhidas e a dificuldade de trabalhar com o material, os pesquisadores resolveram usar apenas as tampinhas para a impressão 3D. Para as garrafas, o professor adianta que já está sendo desenvolvido outro projeto já em teste para tornar este plástico em “compensado PETs” que resultaria uma matéria prima capaz de montar móveis.
Exemplos como o da UFF mostram como pode ser economicamente estratégico trabalhar com o plástico em todo o seu ciclo de vida. Desde o momento de coleta por exemplo, há espaço para empreender. É o caso da Renova Lixo, uma empresa que recolhe lixo doméstico reciclado e dirige este material para cooperativas de catadores. Segundo a idealizadora do projeto, Ana Vasconcellos, o projeto é uma das formas que ela encontrou para contribuir com o meio ambiente da sua cidade. “Nosso propósito é criar soluções sustentáveis para que haja a reciclagem além de fomentar uma melhora no trabalho dos catadores da cidade do Rio. “
Segundo Ana, do material recolhido mensalmente pela empresa cerca de 60% é lixo plástico. O copos, pratos e talheres descartáveis estão localizado no tipo 6 de plástico, este indicador mostra que os materiais não podem ser reciclados por se tratarem de uma mistura entre plásticos. Os copos descartáveis, por exemplo, são muito frágeis e não aguentam passar pelos processos de reciclagem.
Existem duas categorias de plástico: os que podem ser reprocessados chamados de termoplásticos; e os que não podem, os termofixos. Dentro do primeiro grupo (o mais usado) existem 6 subdivisões e cada uma delas pode ser vista como uma sinalização do grau de reciclagem que o material possui. O tipo PET marca o grupo mais famoso presente em embalagens, através da reciclagem o material pode ser transformado em fibra para a indústria têxtil. Outro tipo é o PVC que é comumente associado a tubulações de esgoto que na verdade são seu uso reciclado, originalmente ele é processado para ser usado como filme estirável, frasco e até na indústria de calçados.
O plástico está intensamente presente em nosso cotidiano em diferentes formas, pensando no setor de transporte, por exemplo, seu uso vai desde as embalagens de produtos que são transportadas nos veículos até na fuselagem dos aviões. E cada tipo de plástico e sua destinação na indústria implica na vida útil deste material que não vem sendo descartado de maneira correta.
Créditos da imagem: Agência Petrobras / Stéferson Faria