Os desafios da educação e trabalho para assegurar a inclusão e preparar as novas gerações para um mercado inovador, tecnológico e sustentável foram o foco dos debates no segundo e último dia do Fórum Global de Inovação e Tecnologia em Sustentabilidade (FITS), que está sendo realizado no Museu do Amanhã. O painel contou com a presença do senador Cristovam Buarque, do curador do Museu do Amanhã Luiz Alberto Oliveira, do CEO da Geekie Claudio Sassaki e da analista do Sebrae Mirella Condé. Para os debatedores, as escolas de hoje ainda trabalham num modelo analógico, em que o professor é apenas um transmissor de conhecimento, o aluno um mero expectador onde as competências socioemocionais não são trabalhadas.
A célebre frase de Mozart Neves que diz que “temos escolas do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI” foi lembrada pelos participantes que afirmaram ser esse um dos motivos para a grande evasão escolar no ensino médio no Brasil. “É preciso desenvolver o pensamento crítico dentro das escolas e preparar os alunos para esse novo mundo que está por vir. O grande desafio dos educadores hoje é que estamos educando crianças para trabalhos que ainda não existem, para resolverem problemas que não sabemos quais, com tecnologias que ainda não foram inventadas”, afirmou Claudio Sassaki.
O Senador Cristovam Buarque destacou a importância de qualificar os professores neste processo e oferecer salários competitivos, com avaliações periódicas do corpo docente, para este novo momento. “Precisamos debater como as escolas vão chegar ao século XXI antes que ele termine. É necessário um novo sistema educacional com novas tecnologias para atender as 200 mil escolas, 2 milhões de professores e 50 milhões de alunos dessa escola chamada Brasil. A descentralização é necessária, é preciso dar liberdade para que essa nova escola seja criada”, frisou Buarque.
O senador ainda afirmou que o problema no Brasil é político já que 6% do PIB é gasto em educação de maneira ineficiente. “Precisamos garantir que todos tenham acesso à educação de qualidade já que o conhecimento é o principal capital dos novos tempos. Nossos alunos precisam não apenas absorver, mas produzir o conhecimento”, concluiu.
O crescimento populacional, o aumento da longevidade e das desigualdades foram outros desafios levantados pelo curador do Museu do Amanhã Luiz Alberto Vieira, assim como a quarta revolução industrial. Segundo Vieira, o mercado exigirá novas habilidades e um constante aprendizado até o fim da vida. Para ele, diferentemente de agora, a nova geração não passará um terço da vida estudando, outro terço trabalhando e o restante descansando na aposentadoria.
Educação Empreendedora
Já Mirella Condé reforçou a necessidade da educação empreendedora nos novos currículos escolares. “Aqui no Brasil as pessoas associam empreendedorismo ao empresário, enquanto em outros países ela é mais do que isso. É a busca pela motivação para a ação, desenvolvendo habilidade e competências para o trabalho e para a vida na busca por soluções para problemas complexos”, finalizou.
Agoreconomia
O painel que abordou como as novas tecnologias digitais e as inovações disruptivas podem alavancar a competitividade e a produtividade na agroeconomia fechou a programação da parte da manhã do evento. Os debatedores Alan Bojanic, Representante da FAO no Brasil, Alysson Paulinelli, presidente do conselho do Instituto Fórum do Futuro, Cássia Mendes, chefe de Administração da EMBRAPA Informática Agropecuária e Roberto Jaguaribe, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – APEX. O grupo foi unânime em concordar que a pujança da agroeconomia brasileira se deu graças à adesão às novas tecnologias no campo fruto das pesquisas e estudos na área.
Para eles, cada vez mais os produtores rurais estão optando pelo uso de novas tecnologias digitais para o agronegócio, produzidas muitas vezes por startups que surgiram país afora nos últimos anos. Pesquisas apontam que um terço dos produtores já utilizam tecnologias digitais em suas lavouras. “Os dados mostram que o agronegócio no país não tem mais espaço para amadores e mesmo os pequenos já se beneficiam da tecnologia no campo por meio de muita ciência”, enfatizou a diretora da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG RP) Monika Mergamaschi.
O agronegócio já responde por cerca de 30% do PIB brasileiro. Em 2017, o crescimento do setor foi de 13%, enquanto a indústria não cresceu e os serviços, apenas 0,5%. A estimativa é de que o planeta chegue em 2050 com 10 bilhões de habitantes, o que torna o aumento da produtividade nos pastos e lavouras essencial, já que sem isso não será possível alimentar todas essas pessoas. A grande questão é como fazer isso sem exaurir os recursos naturais. “O Brasil tem a oportunidade de se posicionar como o celeiro do mundo, com uma das produções e agricultura mais sustentáveis do planeta”, afirmou Roberto Jaguaribe, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento (Apex- Brasil).
Para Jaguaribe um dos grandes entraves hoje está na comunicação. “Os movimentos ambientalistas sempre estão na mídia dizendo que a agricultura é predadora e os veículos de comunicação compram essa bandeira, denigrindo nossa imagem enquanto não passa de uma falácia que atende a interesses comercias de outros países”, disse.