O processo de busca da sustentabilidade tem recebido o enfoque da inovação com base na construção de dinâmicas voltadas para uma transição. Segundo especialistas, existem saídas para continuarmos existindo como ser humano e planeta, mas não são fáceis. As mudanças sociotécnicas são fundamentais neste processo que exigirá, além das melhorias de eficiência, mudanças profundas e de longo prazo em práticas e modos de pensar. Para eles, é preciso abandonar a visão de curto prazo do pensamento político e econômico para se concentrar em perspectivas mais globais e integradas. Este foi o foco do primeiro dia do Fórum Global de Inovação e Tecnologia em Sustentabilidade (FITS), que está sendo realizado entre os dias 28 e 29 de dezembro, no Museu do Amanhã. O evento conta com apoio do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro.
O papel das políticas públicas de inovação e tecnologia para o desenvolvimento sustentável foi tema do primeiro painel do dia que reuniu o gerente do Departamento de Projetos Estruturais da FINEP, Rodrigo Fonseca como mediador, e teve como um dos palestrantes o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Alvaro Prata.
“Será que as políticas públicas de hoje são suficientes? O que estamos fazendo não está adiantando e precisamos descobrir outras maneiras, fomentando uma inovação alinhada à cultura da sustentabilidade”, disse Fonseca.
Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI)
Para Álvaro Prata, a inovação notoriamente contribui para a desigualdade no mundo, mas no Brasil ela tem um efeito contrário dos países mais desenvolvidos e uma das razões disso é o papel do setor público na ciência e tecnologia. “Por aqui, grande parte do conhecimento científico e pesquisa está concentrado nos entes públicos, como as universidades, e não nas empresas como no resto do mundo. Por isso, as políticas públicas influenciam positivamente nas questões de sustentabilidade”, explicou ele que também afirmou que o Brasil tem boa ciência, mas é pouco competitivo e que o conhecimento científico e social não dialoga com a sociedade de maneira mais ampla.
A Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) 2016-2022 também foi apresentada como uma ferramenta para nortear os avanços da área no país e que precisa ser visto como uma política de estado que deve ser revisitada sempre, assim como seus planos de ação.
Prata destacou, ainda, a expectativa em torno do novo marco legal da inovação como um facilitador para destravar burocracias existentes nas parcerias entre o setor acadêmico e industrial e o desafio de levar o conhecimento científico para um país do tamanho do Brasil de forma que a ciência sirva de vertente para o desenvolvimento social.
“Precisamos trabalhar o empoderamento regional legitimando a ciência e tecnologia e suas diretrizes a partir das competências locais em um país com as dimensões do nosso”, completou.
Agenda 2030
Já a diretora do Escritório Regional de Ciências da Unesco para América Latina e Caribe, Lidia Brito, reforçou a importância da Agenda 2030 como um instrumento de alinhamento das políticas públicas para o desenvolvimento sustentável. Para ela, o tipo de ciência e tecnologia da qual precisamos é aquela em que a ciência básica e aplicada trabalham juntas.
“A universalidade dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a integração entre eles obriga todos os atores a participar dessa agenda transformadora, em que tudo está interligado, interconectado assim como as soluções”, afirmou. Sobre as políticas públicas, Brito acrescentou que é necessário uma governança inclusiva, além de uma educação que ensine a pensar de forma crítica e proativa, que transforme pensamentos em ações e reforce as questões éticas.
Os desafios da comunicação e a disseminação dos ODS, assim como das questões climáticas, o cumprimento do Acordo de Paris e as oportunidades que elas trazem foram abordados pela ministra-conselheira, chefe da Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável da Embaixada da Alemanha, Annette Windmeisser.
“É necessário um grande esforço de comunicação para que consigamos mobilizar as pessoas em torno do desenvolvimento sustentável e para que elas se sintam parte e responsáveis por isso”, disse Windmeisser. Segundo ela, não é mais possível continuarmos a fazer negócios do jeito que estamos fazendo, e apresentou diversas oportunidades que o setor de energias renováveis pode trazer para o nosso país, gerando emprego e renda.
Como realizado hoje, o segundo dia do evento também será transmitido ao vivo pelas redes sociais do Fórum de Desenvolvimento do Rio: Facebook / Twitter / Linkedin