Coloque os ativos para trabalhar: O caminho para a retomada do crescimento do Estado do Rio de Janeiro

É notória a dificuldade pela qual a economia fluminense vem passando nos últimos quatro anos, consequência da falência do Estado e da crise econômica deste período, agravada pela corrupção sistêmica instalada. Mais do que nunca, e por conta destes problemas, o Estado do Rio de Janeiro necessita fortemente de novos estímulos e diferentes caminhos para que a “segunda economia brasileira” volte a se estabilizar e crescer.

Economistas e especialistas, bem como entidades de fomento e de representação empresarial, vêm fazendo um grande esforço para compreender toda essa situação e, assim, propor caminhos viáveis e factíveis para a retomada econômica do Estado, visto os altos índices de desemprego, de violência e degradação social, principalmente, nos setores da saúde e de segurança.

Apesar de sua grande crise econômica e social, podemos observar que o Estado do Rio de Janeiro apresenta uma infraestrutura extremamente relevante do ponto de vista de ativos econômicos importantes.

Comparado há 10 anos, quando a economia fluminense parecia viver seu auge, os ativos econômicos atuais, devido aos grandes investimentos no período, são mais relevantes do ponto de vista do potencial econômico e se encontram disponíveis. Como exemplo o setor de logística, podemos destacar o “Complexo do Açu”, localizado no norte do Estado, um ativo em funcionamento e uma infraestrutura invejável em qualquer lugar do mundo, com a presença de grandes empresas como a Prumo (Porto do Açu), AngloAmerican, Ferroport, ThecnipFMC, Wartsila, BP e NOV, dentre outras. Este complexo une infraestrutura da cadeia produtiva do setor siderúrgico, de óleo e gás e portuário para transporte a granel e contêiner.

No mesmo caminho, se destaca o “Complexo Industrial e Portuário de Itaguaí e Região”, com destaque para o setor siderúrgico, portuário e de defesa, este último com um complexo naval de defesa da Marinha do Brasil, com a indústria de construção de submarinos (ICN – Itaguaí Construção Naval) e estaleiro. Várias empresas de grande relevância se encontram nesta região, com infraestruturas industriais importantes, como CSA, Gerdau, Vale, CSN Tecon (Porto), ICN, Nuclep e Porto do Sudeste, entre outras. No entorno de ambas regiões está se organizando uma rede de fornecedores locais estimulada por estas grandes empresas, desenvolvendo micro e pequenas empresas locais em parceria com entidades de representação e de fomento do Estado.

É importante destacar, ainda, o setor automotivo, que conta com grandes montadoras, como Man, Peugeot, Nissan, Land Rover e sua cadeia de fornecedores de primeira camada, na região do Médio Paraíba, com ênfase para o impacto nas micro e pequenas empresas locais.

Ainda do ponto de vista das grandes infraestruturas existentes, não podemos deixar de elencar o “Complexo de Petróleo e Gás”, com infraestruturas de estaleiros e petroquímicas relevantes, e de empresas fornecedoras desta cadeia produtiva, com destaque para a região de Duque de Caxias por meio da refinaria Reduc e do polo petroquímico do setor plástico, representado pela Braskem e outras grandes empresas.

Também podemos destacar a infraestrutura elétrica, hidrelétrica e termoelétrica do Estado, com novas empresas, como a hidrelétrica de Simplício, em Sapucaia, já em funcionamento, e as térmicas instaladas no Estado. Temos, ainda, a melhoraria da infraestrutura aeroportuária, como o novo Galeão e Santos Dumont e a excelente estrutura do aeroporto de Cabo Frio e do porto de Arraial do Cabo, como também dos demais portos do Rio, Açu, Macaé, Sepetiba, Itaguaí e Angra, sem falar nas rodovias e do setor metro ferroviário.
Ainda em relação aos grandes ativos econômicos existentes, o Complexo Turístico do Estado se sobressai por meio do grande número de hotéis e redes internacionais e infraestrutura para eventos de negócios e entretenimento. Outra grande infraestrutura é a do áudio visual, como o “Polo de Cine e Vídeo”, Complexo do Projac (Globo) e Record, entre outras grandes empresas e sua rede de pequenas e médios fornecedores locais. É preciso acrescentar que existem setores que também apresentam um grande número de empresas e ativos relevantes, como os da cadeia produtiva da construção civil, confecções, do setor gráfico e editorial, saúde, defesa e segurança, da indústria metalmecânica e dos centros de comércio e serviços do Estado.

Além desta pujante infraestrutura econômica, não se pode negligenciar a excelente infraestrutura tecnológica de universidades e cursos técnicos existentes no Estado, instituições estas que são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento de uma economia moderna.

Como é possível observar, contamos com ativos econômicos e tecnológicos importantes instalados no Estado do Rio de Janeiro, o que facilita muito o planejamento de novos caminhos para o desenvolvimento. Ou seja, o Rio de Janeiro não é um “deserto” onde não há nada e que a partir daí se faz necessário pensar em seu desenvolvimento. Pelo contrário, o Rio de Janeiro tem ativos de grande relevância econômica, se comparado a outras regiões de grande dinamismo econômico, no Brasil e no exterior. Então, perguntamos: o que está faltando para o Estado retomar o seu crescimento?

O caminho mais simples e óbvio é “colocar estes ativos para trabalhar”. Ocupar estes recursos e integrá-los. Reduzir a ociosidade destes ativos econômicos e ajudá-los a alcançarem seu pleno funcionamento, tornando-os mais competitivos. Se estes ativos tiverem sua capacidade de utilização próximo de 80%, a crise econômica do Estado do Rio de Janeiro simplesmente “vai para o espaço”. Para isso, é preciso elaborar uma nova política econômica e industrial que “empreenda” estes ativos, disponibilizando os respectivos recursos para o mercado local, nacional e internacional.

O Rio de Janeiro necessita de um elaborado “plano de negócio”, seu “Canvas” (ferramenta de estruturação de negócio), e ser tratado como um “Grande Empreendimento” que, para dar certo, precisa planejar a melhor utilização dos recursos disponíveis e identificar novos mercados para seus ativos. Além de divulgar e fazer um bom “plano de marketing” de sua economia, integrando estes recursos entre si e as cadeias produtivas e de valor nacionais e internacionais, promovendo a integração e a convergência setorial, fomentando redes de negócios de forma compartilhada e colaborativa, mais dinâmicas e “inovadoras” para o Estado.

A saída, então, é conhecer os ativos existentes, integrá-los e empreendê-los, colocando-os para trabalhar e produzir com toda a sua capacidade disponível, retomando os empregos e melhorando a arrecadação por meio de uma economia mais dinâmica e equilibrada. O Rio de Janeiro tem saída. Vamos empreendê-lo.

 

Renato Regazzi - Mestre em tecnologia, especialista em desenvolvimento regional e gerente do Sebrae-RJ.

Carlos Di Giorgio – Empresário e presidente do SIGRAF-RJ

Luiz Carlos Prestes Filho – Especialista em economia da cultura e desenvolvimento regional