Políticas públicas voltadas para prevenção são fortes aliadas da economia e qualidade de vida da população

A adoção de um estilo de vida saudável, com bons hábitos alimentares associados à prática de atividades física, é uma poderosa arma contra inúmeras doenças e deve ser estimulada por meio de políticas públicas. Segundo especialistas, no caso do Brasil, em que o setor saúde é financiado em grande parte por recursos públicos, as medidas preventivas geram também impactos econômicos positivos. A constatação foi feita durante o Seminário "Prevenção, Qualidade de Vida e Sustentabilidade na agenda das políticas públicas", realizado nesta quarta (14/11) no Plenário da Alerj. O evento, organizado pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio, em parceria com a Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Câncer, abordou temas como a alimentação saudável e sustentável e a atividade física, além de propostas bem sucedidas no combate ao tabagismo.

Dados apresentados durante o evento comprovam os elevados custos e prejuízos, tanto humanos como sociais e econômicos, registrados pelas estatísticas oficiais. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 90% dos casos de câncer de pulmão no país são causados pelo uso de derivados do tabaco. Segundo Paula Johns, diretora executiva da Aliança de Controle do Tabagismo, o aumento do imposto sobre o produto e a elaboração de outras estratégias antitabagismo foram essenciais na diminuição do percentual de fumantes no país.

“O aumento de 10% no preço do produto representou uma queda de 8% no consumo”, explicou Paula Jonhs. Já os impactos na esfera econômica apontam que são gastos R$56,9 bilhões ao ano com o tratamento de doenças causadas pelo tabagismo enquanto a arrecadação de impostos sobre a venda de cigarros é de apenas R$13 bilhões ao ano. “Diante da crise que estamos vivendo, a indústria do tabaco é um lugar legítimo para levantar impostos”, completou Paula.

A deputada Ana Paula Rechuan (PMDB), presidente da Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Câncer da Alerj, também defendeu a importância de discutir o aumento da taxação do cigarro. “Além de desestimular o fumo e aumentar a arrecadação, esse imposto poderia ser revertido positivamente para a população. Essa verba seria destinada a estratégias de prevenção e tratamento de doenças causadas pelo tabagismo”, disse Rechuan.

Na ocasião, Paula Johns também detalhou outras ações efetivas adotadas pelos governos, além do aumento de impostos, que surtiram efeito no combate ao fumo e que também podem ser replicadas para setores como a proibição de propaganda promoção e patrocínio; proibição de venda de produtos não saudáveis em escolas e criação de espaços públicos atraentes e seguros para a atividade física.

Importância da atividade física e da alimentação

Depois do cigarro, o sedentarismo é o fator de risco que mais mata no mundo, responsável por 5,3 milhões de vítimas anuais. De acordo com Ricardo Brandão, doutor em Educação Física pela Stanford University School of Medicine, a literatura científica já comprovou a relação direta entre a falta de exercício e algumas doenças como o câncer de cólon e útero, hipertensão, diabetes tipo II, acidente vascular entre outras. Já a prática de atividade física pode reduzir em cerca de 10% a incidência dessas patologias.

“A atividade física previne o surgimento de algumas formas da doença. É preciso estimular a prática com a construção de políticas que contribuam para a mudança de hábitos como um planejamento urbano voltado ao transporte ativo, campanhas de mídias de massa com a valorização cultural, programas escolares voltados à atividade física, além de aumentar a oferta de ambientes e espaços recreacionais seguros”, afirmou Ricardo.

Já Mónica Guerra Rocha, fundadora da iniciativa Comida do Amanhã, sugere uma alteração no modelo de cesta básica, levando em consideração dois aspectos: o valor nutricional dos alimentos e também o respeito à biodiversidade da produção agrícola brasileira.

“A cesta básica atual é o modelo dos anos 70, e contém açúcar refinado e farinha branca, por exemplo. Além disso, não respeita as individualidades de cada parte do país. Atualizar esses alimentos pode causar um impacto significativo nos hábitos alimentares da população brasileira”, defendeu Mónica.

Acesse aqui as notas taquigráficas do evento.

Confira aqui as apresentações realizadas durante o seminário.

O tema Desperdício de Alimentos também foi tema do Rio em Foco. Assista aqui