“O estado do Rio de Janeiro ainda vive uma crise hídrica. Apesar de os reservatórios do Rio Paraíba do Sul estarem operando em quase 44% do nível de reservação, a série histórica indica que esse número deveria girar entre 60 a 70%”, alertou Jorge Peron, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), durante a reunião da Câmara Setorial de Desenvolvimento Sustentável. No encontro, realizado nesta quinta (12/05) na sede da Associação da Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro, Peron apresentou os resultados do estudo “Impactos da Escassez de Água 2015”, dando continuidade ao debate sobre a crise hídrica no estado na pauta do Fórum de Desenvolvimento do Rio, presidido pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A pesquisa apontou as principais ações adotadas pelas indústrias fluminenses para economia de água.
As principais conseqüências da escassez de água nos anos de 2014 e 2015, medidos a partir de pesquisas feitas pela Federação, na percepção do setor industrial foram o aumento nos custos, a redução na produção, a interrupção temporária da produção e até mesmo demissões. Segundo Peron, as medidas preventivas mais utilizadas são o controle do consumo e as campanhas de conscientização, apontadas por 69,8% e 69,3% do total das empresas entrevistadas. Também foram citadas o controle de perdas na rede de distribuição (37,2%) e o reuso de água (29,6%). “Em 2014, 57% das indústrias disseram que já vinham realizando um conjunto de ações estruturais que levaram a uma mudança no perfil de consumo antes mesmo da crise hídrica ser decretada no estado. As empresas estão investindo na diversificação de fontes, como a captação de água de chuva e de poço como alternativas para tornar a produção industrial mais eficiente e depender cada vez menos dos serviços das concessionárias, que têm um custo elevado. Com isso, 27,7% das empresas que não são afetadas diretamente pela escassez de água afirmaram que pretendem adotar medidas preventivas”, explicou.
A subdiretora Geral do Fórum, Geiza Rocha, informou sobre a tramitação de dois projetos, que estiveram na ordem do Dia desta quarta-feira, e que versavam justamente sobre o reuso de água nas indústrias, de autoria do deputado Jorge Picciani e o que regulamenta os procedimentos para armazenamento de águas pluviais e águas cinzas para reaproveitamento e retardo na descarga na rede pública, dos deputados Luiz Paulo e Samuel Malafaia. "Esses projetos mostram a sintonia da Casa com o tema e esse debate abre a possibilidade de o setor produtivo ter ciência do projeto, como também formular sugestões para aperfeiçoá-los", explica.
Segundo Peron, as conclusões do estudo apontam que a disponibilidade hídrica já pode ser considerada como fator determinante para o planejamento de novos investimentos da indústria no estado. “A oferta de água é um fator limitante ao crescimento econômico e industrial do Rio de Janeiro”.
Para Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Associação Comercial do Rio (ACRio), a segurança hídrica também precisa ser levada em conta. “Estamos colocando todas as frutas numa mesma cesta ao dependermos praticamente de uma única estação de tratamento de água, como o Guandu, que está sendo ampliado. Não estamos acostumados a fazer análise de risco. O reflorestamento, o reuso, a captação de água de chuva são ações que não se sustentam caso haja uma seca prolongada, por exemplo. Se tivermos um acidente sério, não teremos água nem para as situações de emergências como hospitais. Precisamos discutir a dessanilização da água do mar, que já é uma realidade em Barcelona, Austrália e Cingapura”, defendeu.
O gerente de meio ambiente da Firjan sinalizou que a federação é favorável a descentralização dos sistemas de abastecimento. “A criação de estações menores é possível caso haja um investimento na melhoria da qualidade dos rios, como os da Baixada Fluminense", afirmou. Ele informou, ainda, que sobre a dessalinização, a Firjan tem um estudo sobre fontes alternativas para o abastecimento de água no Rio de Janeiro, que será apresentado na próxima reunião da Câmara de Desenvolvimento Sustentável, marcada para o dia 16 de junho.
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