Para especialista, frequência de desastres mudou percepção da sociedade

O crescimento desordenado da população nas áreas urbanas têm aumentado o número de desastres naturais. Assim, trabalhar na prevenção dos desastras é cada vez mais importante, como aponta o pesquisador da Academia Brasileira de Ciências, Carlos Nobre.

"Os desastres naturais têm ocorrido com uma frequência cada vez maior e é difícil definir as exatas causas disso. Um dos principais motivos é o aumento da população em áreas urbanas de forma desordenada", afirmou Carlos Nobre, secretário de políticas e programas de pesquisa e desenvolvimento, pesquisador do INPE e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na reunião magna que aconteceu no dia 8 de maio sobre desastres naturais. Segundo o último censo do IBGE, 84% da população brasileira vive em áreas urbanas.

"As pessoas estão cada vez mais ocupando periferias e transformando comunidades em grandes conglomerados. E tudo isso de forma desordenada. Assim, cresce a densidade populacional em áreas de mais exposição", disse Nobre.

Para ele, não existe um investimento na prevenção dos desastres e o reflexo disso é um profundo impacto no orçamento. Só em 2012, já foram gastos R$ 2 bilhões com a seca do Nordeste e em 2011, R$ 444 milhões foram usados na reconstrução da região serrana do Rio de Janeiro.

Cláudia Melo, gerente da Swiss Re, resseguradora que trabalha com gerenciamento de riscos, acredita que a falta de investimentos na prevenção resulta na realocação monetária. "Diante de uma situação emergencial, o governo transfere o dinheiro da educação ou da saúde para a reconstrução. Não existe um gerenciamento de riscos ou um planejamento estratégico", aponta Cláudia.

Porém, com o desastre da região serrana em janeiro de 2011, que deixou mais de oitocentos mortos, o quadro mudou. "Antes se atribuía um desastre a um fato isolado e inevitável. O marco foi o desastre da região serrana. A sociedade e a mídia começaram a cobrar medidas de prevenção. Mudou a percepção da sociedade", afirmou Carlos Nobre.

Pensando em prevenção foi arrecadado de todos os ministérios um total de R$ 100 milhões para a ordenação da população e R$16 bilhões de reais para aumentar a resiliência das cidades diminuindo o risco do impacto.

Segundo uma pesquisa da Swiss Re, mesmo com esse investimento ainda existem novecentas mil pessoas em áreas de risco somente na cidade do Rio de Janeiro. "E isso só tende a piorar. Se a construção de estádios, estradas e prédios para os megaeventos não forem pensados de forma sustentável, o aumento desordenado da população só vai crescer deixando mais gente em áreas expostas a desastres naturais", alerta a gerente Cláudia Melo.

Outra medida de prevenção foi a criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais na região serrana do Rio de Janeira. Só em 2012, já foram feitos mais de cem alertas com uma alta taxa de acerto. “Houve uma necessidade de converter alertas meteorológicos em alertas de desastres do governo. Com esse sistema reduzimos o números de mortes em desastres naturais”, afirmou Carlos Nobre.

Para José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Internacional, IIEGA, e também membro da Academia Brasileira de Ciências, a prevenção de desastres naturais é importante para evitar os efeitos indiretos como a epidemia de Hepatite E no Rio de Janeiro depois da catástrofe na região serrana. “As fortes chuvas e os deslizamentos romperam tubulações e misturaram esgoto com água potável. A doença rapidamente se alastrou. A prevenção tem que pensar também nos efeitos secundários”, afirma Tundisi.

Em abril deste ano, em Teresópolis, um alerta de que fortes chuvas estavam por vir foi lançado. Mesmo com o aviso, cinco pessoas morreram. “O Brasil está atrasado em relação à prevenção de desastres. Estamos finalmente recuperando esse atraso histórico”, acredita Carlos Nobre.