Empreendimentos imobiliários buscam selo verde

A procura pela certificação “verde” em edifícios brasileiros dobrou nos últimos dois anos. Além de serem reconhecidas como ecologicamente corretas, essas empresas buscam melhorar a imagem ao mesmo tempo em que ocorre uma redução dos custos operacionais.

 

A procura pela certificação “verde” em edifícios brasileiros dobrou nos últimos dois anos e a expectativa é de que cresça ainda mais em 2012. O selo certifica que um empreendimento adota medidas sustentáveis e ecologicamente corretas tanto na obra como no dia a dia. Além de serem reconhecidas como ecologicamente corretas, essas empresas buscam uma melhora da própria imagem e uma redução de custos operacionais.

Isso porque, apesar do custo da construção ser de até 10% a 20% mais caro, de acordo com uma pesquisa da Colliers International, consultora de empresas que desejam ganhar o selo verde, o investimento pode proporcionar até 30% de redução no valor do condomínio e diminuição média de 9% no custo de operação durante toda a vida útil. Um edifício verde pode reduzir em até 70% a emissão de resíduos sólidos (lixo, papel, madeira, carcaça), 40% o uso de água potável, de 33% a 39% a emissão de CO2 e de 24% a 50% o uso de energia elétrica.

Mony Lacerda, da Colliers, em entrevista para o site G1, afirmou acreditar que o custo na obra vale a pena. "Isso é reavido no futuro. Se o investidor considerar até 10% a mais do custo para ser certificado, isso vai ser para sempre e a longo prazo. Depois, há o ganho na redução de custo operacional”, diz.

Para o secretário municipal de Urbanismo, Sérgio Dias, mesmo sabendo que vão economizar a longo prazo, os empresários nem sempre estão dispostos a pagar por isso. Mas com o selo verde, isso pode mudar. 

"O impacto eventual de uma perda de receita poderá ser compensado com a valorização dos imóveis certificados", indica Sérgio Dias.

No Rio de Janeiro, o aumento do número de empreendimentos imobiliários com selos verdes pode ser associado a incentivos fiscais e leis municipais. De acordo com o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro, Jorge Luiz Arraes, até o momento, mais de 160 mil metros quadrados de projetos ambientalmente sustentáveis já foram aprovados na região portuária, que passa por um processo de revitalização para a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016.

“São entre 13 e 15 prédios que estão seguindo todas as regras urbanísticas e ambientais da prefeitura. A legislação obriga que novos empreendimentos na área portuária obedeçam a parâmetros específicos como economia de consumo de água e reaproveitamento da água da chuva, uso de aquecimento solar, acesso facilitado para bicicletas, materiais com certificação ambiental, entre outros", afirma Arraes.

Outra iniciativa do poder público do Rio de Janeiro está em estudo na prefeitura que vai apresentar à Câmara dos Vereadores um projeto de lei que incentivar a construção e a reforma sustentável de imóveis, com o reaproveitamento de materiais e o uso de técnicas para reduzir o consumo de água e energia.

Segundo a proposta, o empreeendimento que tiver o selo municipal batizado de Qualiverde terá direito a incentivos fiscais, como redução dos valores de IPTU, ITBI e ISS.

Entre os principais selos que já estão sendo certificados no Brasil, estão o Internacional Leed, sigla em inglês para liderança em design em energia e meio ambiente, e os nacionais como o Procel Edifica, da Eletrobras; o Casa Azul, da Caixa Econômica Federal;  e o nacional Aqua, criado pela Fundação Vanzolini, ligada à Universidade de São Paulo (USP). 

“Através de pesquisa de mercado, identificamos que o mercado está interessado na sustentabilidade do empreendimento da construção em si. O número de selos está cada vez maior, mas o que se faz no Brasil, de fato, ainda é pouco. Pelo menos a preocupação começou a se formar", afirma Manuel Martins, coordenador executivo do Aqua.

O número de empreendimentos na fila para conseguir certificados verdes no Brasil passou de 237 ao fim de 2010 para 434 em 2011. A expectativa é fechar 2012 com aproximadamente 650.

Como existem muitos requisitos, o tempo para se obter o selo pode ser de até dois anos após a conclusão das obras. O empreendimento precisa ter características que visem à economia de recursos, como água e energia, reciclagem e descarte de materiais, e na saúde e bem estar de moradores, funcionários e da sociedade em geral, além do fomento à economia loca.


Estádios com certificado de sustentabilidade                                                                                                               

Entre os empreendimentos que esperam conseguir o selo, existem edifícios comerciais, residenciais, industriais e de varejo. Até os estádios da Copa estão registrados para a certificação, tanto nas novas construções quanto nas reformas, como por exemplo, os de Brasília que já enviaram a documentação exigida. Também buscam certificação os estádios de Belo Horizonte, Manaus, Natal, Fortaleza, Salvador e Recife. 

Felipe Faria, gerente da GBC Brasil, empresa que faz consultoria para obtenção de selos verdes, acredita que é só uma questão de tempo para o Maracanã obter a certificação. "Ainda não pediram registro de certificação, mas temos certeza que a obra segue padrões de um empreendimento sustentável. A solicitação deve ser feita a qualquer hora", acredita Faria.

Para a certificação verde em Estádios é necessário observar alguns requisitos básicos, como,  por exemplo, adoção de materiais de baixo impacto ambiental como o aço e alumínio produzidos com matéria-prima reciclada, tintas e vernizes com compostos orgânicos voláteis, pisos drenantes, etc. 

Além disso, estádios que tenham obras de demolição devem reciclar os resíduos gerados e dar destinação correta ao que não pode ser aproveitado, como vem sendo feito na obra do Maracanã, segundo Faria.   

"Sustentabilidade não deixa a obra mais cara, já que com planejamento, pode-se reduzir em muitos os custos", conclui Faria. 

Dos 12 estádios que serão sede, apenas o Internacional, em Porto Alegre, e o Corinthians, em São Paulo, ainda não estão registrados em busca do selo verde.


"Selos verdes": um mercado em expansão

Apesar da busca pelos certificados estar crescendo, os chamados prédios verdes representam apenas 1%. Um estudo feito pela GBC Brasil indica que até 2013, o Estado do Rio de Janeiro deverá chegar a ter quase 50% dos prédios com certificados de sustentabilidade.

Pensando nesse mercado em crescimento, a UFRJ abriu inscrições para MBA em Construções Sustentáveis. Engenheiros, arquitetos, gestores e outros profissionais de formação superior que desejam se especializar em Construções Sustentáveis podem fazer a inscrição. O início do curso está previsto para o mês de maio.