Uma rede para superar o “apagão de mão de obra”

Leia a entrevista dada à jornalista Alessandra Bizoni, do Jornal Folha Dirigida, nesta terça-feira(23/11). Nela a secretária-geral do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado, Geiza Rocha, fala sobre o Fórum e projetos como o da Rede de Educação Profissional e Tecnológica Continuada.

*Jornalista Alessandra Moura Bizoni


Secretária-executiva do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado Jornalista Roberto Marinho, da Alerj, Geiza Rocha explica, nesta entrevista, como funcionará a Rede de Educação Profissional e Tecnológica Continuada, que tem como um dos objetivos principais formar mão-de-obra qualificada para atender as demandas do Estado para os grandes eventos esportivos dos próximos anos.


Os grandes eventos que acontecerão no Estado do Rio de Janeiro – Jogos Mundiais Militares, Copa do Mundo de 2014, Jogos Olímpicos de 2016 – e o desenvolvimento da Indústria do Petróleo e Gás são oportunidades para o estado, num curto espaço de tempo, galgar vários degraus em seu desenvolvimento econômico e social. Contudo, um “apagão de mão-de-obra” ameaça o crescimento econômico e social dos fluminenses.

Para suprir esse “gap” educacional, o Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado Jornalista Roberto Marinho, órgão da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), se uniu a diversas universidades e entidades da sociedade civil para elaborar a “Rede de Educação  Profissional e Tecnológica Continuada”.

Quem explica aos leitores da FOLHA DIRIGIDA o papel do Fórum de Desenvolvimento Estratégico é a sua secretária-executiva, Geiza Rocha. Na entrevista, Geiza conta como funcionará a Rede de Educação  Profissional e Tecnológica Continuada, que será abrigada no campus virtual da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e deve estar funcionando já no primeiro semestre letivo de 2011.

O objetivo dessa rede, que se materializa num portal, é criar convergência de ações em prol da formação/qualificação de mão-de-obra – um dos principais gargalos do desenvolvimento do Estado -, além de dar transparência e visibilidade às ações que já estão sendo desenvolvidas em cada uma das instituições parceiras.

A proposta é que sejam oferecidas, voluntariamente pelas entidades parceiras, atividades formativas em módulos de aproximadamente 30 horas, com mediação tecnológica. A certificação será realizada de acordo com o estabelecido pela entidade parceira.

Ao analisar os desafios para o crescimento do Estado, tanto em seu aspecto econômico quanto social, a secretária-executiva do Fórum aponta a necessidade de sinergia entre empresas, instituições de ensino e poder público. “Só conseguiremos desenvolver e ultrapassar as barreiras que existem se investirmos de fato na educação. Nesse momento, temos iniciativas do governo do Estado, que está se unindo com empresas, que já entenderam o seu papel social”, argumentou Geiza Rocha.

Presente na TV Alerj (Programa Rio em Foco) e também nas Mídias Sociais, o Fórum congrega 29 instituições, articulando nove diferentes câmaras setoriais, cujos integrantes se reúnem regularmente para articular iniciativas em todas as regiões do Rio de Janeiro.

FOLHA DIRIGIDA – O que é o Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado Jornalista Roberto Marinho?
Geiza Rocha – O Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado Jornalista Roberto Marinho foi criado pelo presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB), em 2003, em sua primeira gestão. A ideia era reunir em torno do Legislativo as entidades representativas e as universidades, em um debate franco, aberto e transparente, sobre quais são os caminhos para o desenvolvimento sustentável do estado do Rio de Janeiro. Esse fórum reúne a Fecomércio, a Firjan, a Fetranspor, a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), a Rede de Tecnologia (Redetec), a Uerj, a Uenf, a Uezo, a PUC-Rio, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre outras. Naquele início havia 21 entidades; hoje em dia, já temos 29. A ideia é crescermos na medida em que novas entidades passem a conhecer o nosso trabalho. Por exemplo, na época da construção da Thyssenkrupp CSA, o Fórum se reuniu e debateu junto com o Governo quais eram as medidas necessárias para viabilizar a construção da empresa. Outro exemplo de nossa atuação se refere ao Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro): a Petrobras esteve no Fórum para mostrar como estavam as obras.

De que forma o Fórum é estruturado?
Assumi a Secretaria Executiva do Fórum em 2008 e colocamos em prática o projeto das Câmaras Setoriais – Agronegócio, Comércio de Bens e Serviços, Comércio Exterior, Cultura, Turismo e Esportes, Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento Industrial, Tecnologia, Infraestrutura e Energia, e Serviços Públicos. Além das mobilizações do plenário, precisávamos ter uma discussão setorial para tornar o Fórum efetivamente permanente. As entidades participam de maneira independente, trazendo temas para o Legislativo, em cada um dos setores. Temos hoje funcionando nove câmaras setoriais que se reúnem mensalmente para discutir o desenvolvimento do Estado. Cada uma tem sua pauta específica que tentamos encaminhar dentro do Legislativo – seja realizando eventos e mobilização, seja apresentando minutas de anteprojetos para os deputados. Na verdade, o Fórum debate vários temas simultaneamente. A ideia é definir como promover o desenvolvimento sustentável, incluindo a população nesse processo, que ocorre naturalmente com os grandes eventos que o Rio de Janeiro vai sediar – Jogos Mundiais Militares, Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016. Queremos descobrir formas para a sociedade tirar o melhor proveito desses eventos, apontando caminhos para que as pessoas se desenvolvam junto com o Estado. Temos esse ciclo virtuoso acontecendo de maneira mais ampla. Nosso objetivo é integrar o Legislativo nessa agenda.

Essa é uma ideia pioneira ou existem outros fóruns nestes mesmos moldes em outros estados do Brasil?
Pesquisamos em outras assembleias legislativas. Algumas têm fóruns para discutir  temporariamente determinados assuntos. Mas não existe nenhum outro fórum abordando de maneira tão ampla o desenvolvimento. Somos um órgão do Legislativo. O Fórum não é algo que vá desaparecer com a mudança da presidência da Alerj, por exemplo.

Qual o objetivo da criação da Rede de Educação Profissional e Tecnológica Continuada?
A Rede é fruto da sedimentação do entendimento das entidades da importância do seu papel junto ao poder Legislativo. A orientação do presidente da Alerj é que tenhamos uma pauta de ações. A Rede de Educação Profissional e Tecnológica Continuada nasce da constatação feita pelas entidades nas discussões da Câmara Setorial de Serviços Públicos, quando discutimos especificamente educação. Não é possível continuarmos com esse problema do “apagão de mão-de-obra”. Entendemos que nosso crescimento econômico será mais sólido ou menos consistente dependendo da nossa capacidade de formar, num curto espaço de tempo, pessoal capacitado para atuar nas diversas oportunidades que se abrirão logo adiante. Também acreditamos que é preciso educar o trabalhador, desde cedo, a estar sempre se atualizando. Muitas pessoas acreditam que, depois de formadas e de ingressarem no mercado de trabalho, não precisam mais se formar. Essa é uma concepção errada. As pessoas precisam continuar se capacitando. E temos uma ótima ferramenta disponível, que é a educação a distância (EAD). Contudo, essa ferramenta é nova, ainda não é de fácil entendimento de todos. Temos um desafio que é, utilizando essas ferramentas de tecnologia, agregar pessoas em torno da Rede.

De que forma a Rede será estruturada?
A ideia da Rede é criar um portal em que as iniciativas das entidades, que já estão consolidadas, estejam reunidas. Num primeiro momento, não criaremos nada de novo. Vamos disponibilizar o que já está acontecendo de bom, importante e relevante nessa área de educação à distância. A reunião desta oferta de formação já mostra o amadurecimento deste projeto. Queremos organizar essas iniciativas nesse portal e permitir que o trabalhador, uma vez que tenha essa ferramenta em mãos, possa continuar se capacitando ou, pelo menos, descobrindo qual caminho trilhar em sua carreira.

Por que a EAD foi escolhida já que várias entidades parceiras oferecem essas iniciativas em cursos presenciais? A EAD não pode se tornar um obstáculo entre o trabalhador e a Rede?

Na Rede haverá espaço para a divulgação dos cursos presenciais que várias entidades parcerias oferecem, de forma gratuita inclusive. A escolha pela EAD se deu no sentido de que precisamos de algo concreto. Sabemos que, muitas vezes, o profissional compra o computador para o seu filho mas não vê como pode ter ali algum conteúdo direcionado para si. Temos um desafio de criar esse hábito de os trabalhadores lidarem com o computador. Com a EAD, o trabalhador pode acessar qualquer curso no tempo que tiver disponível para se especializar. Não queremos excluir nenhuma outra iniciativa. Como lidamos com várias entidades e cada uma tem uma metodologia específica, pode ser que alguns cursos sejam presenciais também. Contudo, trabalhamos para disseminar essa ferramenta da EAD para que possamos, inclusive, chegar a todo o estado, acompanhando o processo de interiorização do desenvolvimento. Temos todo um processo de disseminação do acesso à internet por parte do Governo do Estado e, se  conseguirmos juntar essas duas pontas, poderemos atender todas as regiões do Rio.

Quais são os setores da economia do Estado em que há maior carência de mão-de-obra?

Analisando levantamentos feitos pela Firjan e pelo Governo do Estado, escolhemos como prioridade as áreas de Serviços e Turismo – englobando toda a parte de Hotelaria, Restaurantes etc; de Petróleo e Gás, que chamamos de Energia; Siderurgia; Tecnologia da Informação; e Cultura.

Em quais setores da Área de Cultura há carência de mão-de-obra?
Incluímos essa área em função das demandas da indústria audiovisual, que está em crescimento. O Rio de Janeiro tem todo um direcionamento para a economia criativa, mas carece de pessoal especializado.

E quais os profissionais dessa área que estão em falta no mercado de trabalho?
Temos um caminho muito forte para formar câmeras, numa estrutura de suporte a essa cadeia. Quando vemos um filme, percebemos nos créditos a quantidade de pessoas envolvidas no processo. Precisamos de técnicos capacitados nessa área do audiovisual: editores, técnicos de som e de equipamentos etc. Temos uma situação similar na área de Moda. Pensamos no desfile, no estilista, mas é preciso ter costureiras, modelistas. A Firjan faz um tremendo esforço para mobilizar as pessoas a freqüentarem os cursos técnicos nessa área. Uma modelista especializada, por exemplo, ganha um salário bem mais alto do que a média, mas muita gente desconhece essa profissão.

Qual é a importância do surgimento da Rede de Educação Profissional e Tecnológica Continuada para a economia do Estado?
A Rede foi desenhada a partir da constatação da necessidade de mão de obra especializada. Definimos que era preciso criar uma sinergia entre as iniciativas das entidades que participam do Fórum e atuam de forma isolada, muitas vezes, em áreas conexas. A Uerj, a Firjan, a FGV, a PUC-Rio, todas elas têm iniciativas na área de capacitação de pessoal, mas não se comunicam. Pensamos que essa sinergia seria positiva para o desenvolvimento do Estado. Então, resolvemos montar um portal, que será sediado no campus virtual da Uerj, instituição que nos dá todo o suporte técnico. Formamos um comitê pedagógico e um comitê tecnológico. O comitê tecnológico irá definir como vamos colocar essa rede para funcionar. E o comitê tecnológico irá definir como vamos colocar essa rede para funcionar. E o comitê pedagógico está discutindo em quais áreas estratégicas e qual tipo de cursos estarão disponíveis, além de estudar como será essa certificação. O mais importante desse projeto é dar o primeiro passo e unir as pessoas em torno desses objetivos.

Qual é o papel da Uerj na Rede de Educação Profissional e Tecnológica Continuada?

Como universidade do Estado, a Uerj não poderia estar descolada de toda essa discussão de desenvolvimento. Está no Fórum desde o início. E o reitor Ricardo Vieiralves, entendendo esse papel, trouxe para a instituição toda essa discussão, que transformamos em uma carta aberta em defesa formação continuada a distância. Nosso portal será abrigado no campus virtual da Uerj, que lidera o Comitê Pedagógico e está nos dando toda a infraestrutura para colocar essa rede no ar. Em janeiro já devemos fazer nossos primeiros testes. No primeiro semestre letivo de 2011, a Rede já estará no ar.

Qual será o público dessa Rede? Pessoas já inseridas no mercado de trabalho ou jovens que pretendem iniciar uma carreira?
A ideia é atender desde os que estão interessados a ingressar no mercado de trabalho àqueles que já estão inseridos no setor produtivo. De toda forma, nossa visão é sempre de uma educação continuada. O Comitê Pedagógico está preparando um desenho de carreira. Educadores pretendem que os cursos oferecidos possam ter uma continuidade na formação, proporcionando uma escala de competências exigidas para ingressar no mercado de trabalho. Muitas vezes, o estudante quando termina o ensino médio ou o ensino técnico, fica perdido. Para quem está na universidade, fica mais fácil, pois geralmente as universidades desenvolvem programas de orientação infantil.

E quais serão os conteúdos oferecidos na Rede?
Não vamos oferecer apenas conteúdos técnicos. Há toda uma formação de atitudes – segurança no trabalho, sustentabilidade, empreendedorismo – matérias transversais à formação e tão importantes quanto os outros conteúdos técnicos. Queremos organizar todo esse material na Rede. E também pretendemos centralizar no nosso portal as oportunidades de capacitação e de oportunidades no mercado de trabalho.

Existe um “gap” entre a formação que os jovens recebem nas instituições de ensino e as demandas do mercado de trabalho?
Há uma preocupação muito grande com a questão da educação. O grande salto que faremos nos próximos anos será o da educação. Só conseguiremos desenvolver e ultrapassar as barreiras que existem se investirmos de fato na educação. Nesse momento, temos iniciativas do Governo do Estado, que está se unindo com empresas, que já entenderam o seu papel social. Recentemente foi inaugurado o Colégio Estadual Erich Walter Heine, em parceria com a Thyssenkrupp CSA, que já orienta a formação dos alunos para o mercado da Siderurgia. Se conseguirmos replicar esse modelo, já aplicado no Nata (Colégio Estadual Comendador Valentim dos Santos Diniz – Núcleo Avançado de Educação em Tecnologia de Alimentos e Gestão de Cooperativismo/Nata em São Gonçalo) e no Nave (Colégio Estadual José Leite Lopes Núcleo Avançado em Educação/Nave, na Tijuca), para várias áreas, conseguiremos evitar esse gap. Até mesmo porque, as empresas informam quais são as suas demandas.

Qual será o papel das ações da área de ciência, tecnologia e inovação em nosso Estado nos próximos anos?
Esta área terá um papel fundamental. Mesmo porque, o Rio de Janeiro tem uma tradição nessa área – historicamente formamos cérebros. E, na medida em que consigamos tirar essas inovações do laboratório para a vida real, trazendo-as para a sociedade fluminense, conseguiremos multiplicar nosso potencial de crescimento. O próprio setor de Petróleo e Gás pode financiar a formação desses cérebros.O Rio é a capital da Energia. Não teremos um desenvolvimento se não integrarmos as instituições de ensino, as universidades, ao que está acontecendo. Os grandes eventos trarão investimentos que, num curto espaço de tempo, não seriam possíveis de serem aplicados. Poderemos elevar a qualidade de nossa mão de obra.

Serviço
www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br
www.rioemfoco.rj.gov.br


Entrevista reproduzida do jornal Folha Dirigida do dia 23 de novembro de 2010.

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