Vision 2050, uma bússola para o futuro

Nos próximos 40 anos, a população do planeta sofrerá um acréscimo de 30%, passando dos atuais 6 bilhões para 9 bilhões de habitantes. Se mantivermos o mesmo padrão de desenvolvimento e o mesmo modelo de negócios, os serviços ambientais disponíveis não atenderão à demanda. Leia mais aqui.

*Por Marina Grossi, presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)


Nos próximos 40 anos, a população do planeta sofrerá um acréscimo de 30%, passando dos atuais 6 bilhões para 9 bilhões de habitantes. Se mantivermos o mesmo padrão de desenvolvimento e o mesmo modelo de negócios, os serviços ambientais disponíveis – ar respirável, regulação do clima, terras cultiváveis, produção de alimentos – não atenderão à demanda.

A advertência está contida no relatório Vision 2050, the new agenda for business, resultado de um audacioso projeto do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). Lançado este ano e fundamentado em estudos da ONU e de outras instituições globais de reputação inquestionável, o Vision 2050 servirá como uma espécie de bússola para que empresas, governantes e gestores da sociedade civil sigam o caminho seguro da sustentabilidade.

O primeiro passo é evitar cometer os mesmos erros do passado, como por exemplo, insistir em to-mar decisões unilaterais e com visão de curto prazo. Os autores do estudo estão confiantes de que a sociedade global faça a tempo uma autocrítica. Acreditam que caso sejamos capazes de pavimentar um entendimento estruturado e transparente entre líderes governamentais, empresariais e sociais, poderemos chegar à metade deste século com a capacidade de oferecer condições dignas de vida a todos.

Viver bem significa manter um padrão de vida em que as pessoas gozem de boas condições econômicas para ter acesso à educação, saúde, mobilidade, alimentos básicos, água, energia, moradia e bens de consumo. Significa também manter um padrão de vida que possa ser sustentado com os recursos naturais disponíveis e sem danos à biodiversidade, ao clima e aos ecossistemas. Em resumo, será imprescindível uma radical mudança da cultura e do comportamento humano ainda prevalentes na sociedade.

Os líderes das 29 empresas de 14 setores industriais e de instituições públicas e da sociedade civil que participaram do projeto Vision 2050 fizeram algumas recomendações básicas:

    * Compreender e lidar com as necessidades de bilhões de pessoas, possibilitando a elas educação e poder econômico, especialmente no caso das mulheres, e desenvolver soluções ambientais e comportamentais bem mais eficientes;
    * Incorporar os custos provenientes de novas práticas, a começar pelo carbono, pela água e por novas políticas para o meio ambiente;
    * Dobrar a produção agrícola sem aumentar a extensão das terras agriculturáveis e o consumo de água;
    * Dar fim ao desmatamento e potencializar o rendimento das florestas plantadas;
    * Reduzir à metade as emissões de carbono do planeta, tomando como base os níveis de 2005, com as emissões de gases do efeito estufa sendo, já por volta de 2020, substituídas por modelos energéticos de baixa emissão de carbono e de maior eficiência;
    * Possibilitar acesso universal e incentivar o uso de transportes de massa com baixas emissões de gases de efeito estufa;
    * Potencializar de quatro a dez vezes a utilização dos recursos e materiais renováveis.

Se por um lado já dispomos do conhecimento, da ciência, das tecnologias, dos talentos e dos recursos financeiros necessários para alcançarmos tais propostas, por outro estamos ainda distantes de adequá-las e imprimi-las na velocidade correta para vencer os obstáculos iniciais em relação à governança, estruturas globais de comércio, papéis, responsabilidades e riscos. O que hoje vemos é
o crescimento da população e do consumo (na maioria dos países) combinados com a inércia oriunda de políticas e de modelos de governança inadequados para lidar com este crescimento. O resultado é a degradação do meio ambiente e da sociedade.

O Brasil – avaliam os autores do estudo – dispõe de todas as condições para liderar esse novo processo. As razões são muitas. Nos-so país possui solo abundante; sol o ano inteiro; tem a mais rica biodiversidade e a maior reserva de água doce disponível; e é movido pela matriz energética mais limpa do planeta.

Contudo, nós nos percebemos menores do que o mundo nos percebe. Estamos em um patamar bem acima das principais economias globais, que agora correm contra o tempo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa de suas matrizes energéticas e reconfigurar seus modelos de produção e consumo. Países tradicionalmente poluidores, como China, Estados Unidos e Índia, investem pesado, por exemplo, na área de energia limpa e renovável na tentativa de conduzir suas economias para um modelo de baixo carbono.

O Brasil, mesmo estando em melhores condições, precisa seguir o mesmo caminho para assegurar nas próximas décadas sua posição de liderança. A presente década é apontada como decisiva para que as grandes economias globais se adaptem para ingressar de fato no novo modelo de desenvolvimento. Temos perdido a oportunidade de ampliar o debate interno sobre o tema, fundamental para o nosso presente e futuro. A campanha eleitoral de 2010, por exemplo, colocou em plano inferior a discussão sobre matriz energética, biodiversidade, governança, educação de qualidade, maior participação da sociedade. E acabou convergindo para questões com relevância local.

Seja como for, há uma crescente mobilização para dar escala às fontes de energia limpas e renováveis, como também desenvolver produtos e serviços sustentáveis, demonstrando que estamos chegando, finalmente, ao consenso de que o tradicional mundo dos negócios não nos levará à sustentabilidade e à prosperidade social. No plano teórico, estamos próximos de encontrar o caminho de múltiplas oportunidades: fazer mais com menos, criar valor, prosperar e fazer as condições humanas avançarem.

Para os líderes brasileiros – sejam eles do governo, das empresas e das demais organizações sociais –, o Vision 2050 será uma ferramenta fundamental para formulação de políticas públicas e para tomada de decisões. O estudo recomenda que nossas escolhas devam estar sempre associadas à visão de longo prazo e à preocupação central de contemplar da forma mais harmoniosa possível as demandas econômicas e socioambientais.

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) participou da elaboração do Vision 2050 como uma das instituições parceiras do WBCSD. Agora, está lançando sua versão em português. A tradução deste estudo histórico vai além do objetivo de democratizar as informações de seu conteúdo. Viabilizará uma sequência de ações do CEBDS, pois temos a ambição de “tropicalizá-lo” por meio de debates envolvendo nossos maiores especialistas de múltiplos setores.

As diretrizes contidas no estudo e em seguida adaptadas à nossa realidade fomentarão a produção de massa crítica necessária para que o Brasil cumpra, de fato, o seu destino de protagonizar com sucesso a construção de um modelo de desenvolvimento capaz não só de atingir as metas sociais da ONU, mas de assegurar a manutenção dos serviços ambientais para esta e para as próximas gerações.


Artigo reproduzido do Informativo nº 115 do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
 
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