Workshop aborda diretrizes ambientais no cenário fluminense

Transporte, energias alternativas, novos combustíveis e gestão da água e do lixo foram alguns dos assuntos abordados no evento, que contou com a participação do Portal EcoDebate, da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro, da Superintendência do Clima e Mercado de Carbono, entre outros. Saiba mais sobre os debates.

 

“Se nenhuma atividade humana emitisse carbono fóssil a partir das próximas 24 horas, a concentração atual deste elemento na atmosfera já iria  provocar um aquecimento de dois graus centígrados no planeta Terra até 2100”, explica o jornalista ambientalista e coordenador editorial do Portal EcoDebate, Henrique Cortez, em sua palestra durante o evento "Carbono Zero , rumo à Copa 2014 e Jogos Olímpicos”, realizado na última quinta-feira e sexta-feira (07 e 08/10).

O especialista ressaltou a diferença entre os carbonos existentes: “Há o carbono de ciclo de curto prazo, pertencente aos processos naturais e há o carbono fóssil, que é prejudicial ao ambiente. O primeiro é compensável, o segundo que vem da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, o gás e o carvão, externa a capacidade de resiliência da natureza”.  Segundo o jornalista, a neutralização de carbono se refere ao carbono de ciclo de curto prazo e o sequestro ao segundo. Porém hoje, as tecnologias necessárias para o sequestro do carbono fóssil não existem. “A solução viria da fertilização dos oceanos ou do enterro de carbono, mas os processos estão em fase de testes. A única maneira de evitar catástrofes é reduzir emissões”, explica Cortez.

Na opinião do jornalista, o plantio de massa vegetal é o meio mais eficiente para a retirada de carbono da atmosfera. “2/3 do movimento de carbono na atmosfera são feitos pelos fitoplânctons e 1/3 é feito pelas florestas. Infelizmente, o fitoplâncton foi reduzido em 50% nos últimos 30 anos”, afirma.
Na cidade do Rio, uma pessoa que consome valores médios de energia elétrica, gás doméstico e combustível libera na atmosfera cerca de 2,07 toneladas de carbono por mês. Para compensar esses níveis de emissão, seria necessário que cada cidadão plantasse 14 árvores por mês.

Para o jornalista, os corredores de transporte devem ser maximizados, oferecendo um transporte de qualidade, com frota e combustível de qualidade. “A maior parte das emissões de carbono do Rio de Janeiro vem dos transportes (...) Faltam políticas públicas para o incentivo ao transporte de massa de qualidade e para tiramos os carros da rua, facilitando a mobilidade integrada da cidade”, finaliza.

PLANOS ESTRATÉGICOS

De acordo com a representante da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro, Claudia Dubeux, os planos estratégicos estão centrados no setor de transporte e na gestão da água e do lixo. Adquirir 30 novos trens para o transporte ferroviário do Rio,  despoluir a lagoa Rodrigo de Freitas e a lagoa de Jacarepaguá para atividades esportivas e erradicar os lixões do estado, são algumas das ações previstas pela Secretaria, com foco em 2016.

''Pela correta destinação dos esgotos se reduz emissão de carbono e temos um impacto benéfico na saúde da população'', explica Cláudia.  A Secretaria planeja ainda o Programa Olimpíada Agenda Água Rio 2016, que pretende comprometer alunos de escolas estaduais e municipais a realizarem expedições ambientais que monitorarão a gestão de córregos no estado, campanhas junto à comunidades, propondo concursos culturais como de fotografia, vídeos etc. ''Pretendemos atingir cem escolas com mil professores dez mil alunos, promovendo a educação ambiental e parcerias entre entidades ambientais e as escolas'', afirma Cláudia.

Já o Plano Estadual de Restauração Florestal prevê para a Rio 2016 o plantio de 24 milhões de mudas, sendo 17 milhões da Secretaria. O objetivo é estruturar a cadeia produtiva de restauração florestal no estado e promover o desenvolvimento sustentável.

A Superintendência do Clima e Mercado de Carbono, braço da Secretaria, aborda questões como: quanto o estado do rio contribui para o aquecimento global? Quais são as consequências da mudança climática para a economia estadual? Como e onde atuar para reduzir as emissões? “O Estado do Rio tem que, em sua política, considerar as necessidades globais de redução de emissão sem desconsiderar a inserção do Brasil no contexto de política do clima mundial'', explica Cláudia.

MISTURA DE COMBUSTÍVEIS PODE SER UM BOM CAMINHO

No segundo dia de evento, o gerente de operações de mobilidade urbana da Fetranspor, Guilherme Wilson, afirmou que a mistura de combustíveis renováveis pode ser uma saída interessante para o problema do estado do Rio. Por exemplo, no município do Rio, o combustível usado na frota de ônibus é o Diesel S50, que reduz em 10% a emissão de materiais particulares cancerígenos. “Para 2013 vamos começar a usar o Diesel S10”.

“Estamos testando o ônibus a hidrogênio junto com a Coppe/UFRJ, mas ainda é para o futuro, não há uma solução comercial hoje no mundo para este modelo”, afirma o gerente. Ele ainda pontua que o transporte público de qualidade é a única solução para cidades grandes em termos de sustentabilidade e mobilidade. “Estamos avançando no Rio, na relação do setor de transportes com os órgãos públicos responsáveis pelas regras. A conjuntura é favorável, principalmente devido aos megaeventos”, finaliza.

A Federação de Transportes de Carga no Rio de Janeiro (Fetranscarga), que hoje tem 115 mil caminhões filiados à entidade no Estado do Rio, realiza há 12 anos o programa Selo Verde junto com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), para vistoria de veículos para o controle dos níveis de emissão de gases da frota. “Estamos trabalhando a mentalidade para a sustentabilidade no setor de cargas. Temos aproximadamente 50 mil caminhões autônomos, ou seja, o universo é grande, mas a frota aferida pelo selo cresce numa curva ascendente. Os benefícios são muitos. Por outro lado, precisamos do apoio do poder público para a renovação da frota”, explica o representante da entidade.

INVESTIMENTO EM CICLOVIAS

De acordo com o subsecretário municipal de meio ambiente da cidade do Rio de Janeiro, Altamirando Fernandes Moraes, um dos pontos estratégicos para a sustentabilidade no planejamento da Prefeitura é a ciclovia. “Hoje, a região metropolitana do Rio tem 150 km de ciclovia, a maior malha do país. Encaramos hoje a ciclovia como um modal auxiliar de transportes. Com incentivos, faremos uma integração deste modal com os demais”, explica o subsecretário.

Com a renovação das ciclovias existentes e a criação de novas, resultando em um sistema cicloviário de 300km, a Prefeitura visa reduzir em 8% as emissões de carbono na cidade do Rio. “70% dos investimentos, ou seja, R$ 19 milhões vão para a Zona Oeste do Rio, região que mais usa a bicicleta como meio de transporte, são cerca de 100 mil viagens por dia”, diz Altamirando. O novo projeto ligará Campo Grande à Santa Cruz, integrando seis estações de trem, com bicicletários, postes de energia solar e arborização. Para o subsecretário, todas essas ações dependem de uma educação ambiental e de trânsito, além do incentivo financeiro.

Segundo o presidente da Associação Brasileira do Mercado de Créditos de Carbono (Abemc), Flávio Gazani, 78% da população brasileira entendem as mudanças climáticas como um problema que deve ser combatido imediatamente. Na opinião do especialista, no Brasil existe a necessidade de um compromisso efetivo da administração pública quanto à sustentabilidade.
“A longevidade dos projetos para os megaeventos no Rio é um fator importante. Nos jogos panamericanos houve uma retórica muito grande no que poderia ser feito, como a despoluição da Baía de Guanabara e a redução das emissões de CO2, mas muito pouco foi feito. Temos a oportunidade de implementar projetos que tragam valores sustentáveis no longo prazo para a cidade do Rio. Temos que perpetuar os benefícios’’, afirma Gazani.