Especialista analisa atual cenário dos Transportes no Rio

No Dia Mundial sem Carro, comemorado nesta quarta-feira (22/9), o Fórum entrevistou o professor de Engenharia de Transporte da Coppe, Ronaldo Balassiano. Segundo ele, a taxa de veículos nas ruas do Rio beira a saturação. O especialista detalha, ainda, o que pode ser feito para melhorar a integração.

No Dia Mundial sem Carro, comemorado nesta quarta-feira (22/9), o Fórum de Desenvolvimento do Rio entrevistou o professor de Engenharia de Transporte da Coppe, Ronaldo Balassiano. Segundo ele, a taxa de veículos nas ruas do Rio de Janeiro está beirando a saturação. O especialista detalha, ainda, o que pode ser feito para melhorar a integração dos transportes na cidade. Acompanhe.

Que projetos, em sua opinião, contribuem com a maior integração dos sistemas?

Esse é o problema. Integração. Existe uma gama interessante de novos projetos propostos para a cidade do Rio (por conta dos compromissos assumidos com Copa e Olimpíadas) mas não vejo a mesma preocupação com aspectos da integração. Pode até haver essa preocupação, mas não na dimensão necessária. A integração modal, incluindo carros particulares, bicicletas etc., precisa ser planejada junto com a implantação da nova infraestrutura de transportes. Esse aspecto não pode ser atacado de forma isolada, quando os novos corredores de BRT, metrô ou mesmo VLT estiverem prontos para operar.

Nos últimos 4 ou 5 anos, a integração entre ônibus, metrô, trens e barcas foi uma iniciativa positiva que num primeiro momento contribuiu de forma satisfatória para a racionalização e adequação do sistema de transporte coletivo. Foi possível inclusive captar alguns usuários do carro para o transporte coletivo. Por outro lado, como o metrô não teve condições de aumentar a sua capacidade de trasporte para acomodar uma maior demanda gerada com a integração, observamos alguns problemas de superlotação que só serão superados com a chegada de novas composições prevista para 2011.

Existem exemplos internacionais nesse sentido?

Em cidades da Europa e mesmo em cidades americanas, onde o uso do carro é mais intensivo, a integração entre diferentes modos é uma realidade e aspecto fundamental para a qualidade do serviço de transporte coletivo.

É uma tendência mundial o crescimento excessivo do uso de carros?

Não. Pelo contrário. A tendência mundial é para um uso mais racional do carro. Cada vez mais há campanhas de conscientização e de informação sobre os problemas gerados pelo uso intensivo do carro em grandes metrópoles. A venda de carros é um aspecto ligado ao desenvolvimento da economia dos países e deve se manter num patamar semelhante ainda por muitos anos. No entanto, o uso do carro é algo que vem sendo muito debatido e medidas para racionalizar seu uso ou mesmo desincentivar o uso, sobretudo em áreas congestionadas, têm sido consideradas.

De que forma o uso das novas tecnologias e veículos (elétricos, por exemplo) estimulam o uso do carro em detrimento de outros modais?

Não acredito que o uso de novas tecnologias estimulem o uso do carro em detrimento a outros modos. É importante que novas tecnologias sejam implementadas para reduzir os impactos gerados pelos sistemas de transportes. O desenvolvimento tecnológico é importante tanto no caso dos carros privados, quanto no caso de sistemas de transportes coletivos. É também importante, como já me referi, trabalhar de forma integrada a entrada no mercado de novas tecnologias e o uso racional dos transportes, sobretudo o carro particular.

Complementando, a preocupação com o meio ambiente não deveria diminuir nunca. Em que pese o benefíco gerado com o desenvolvimento de novas tecnologias, um maior número de veículos em circulação é sempre problemático. O aumento de congestionamentos será sempre um problema, independentemente da melhoria tecnológica dos veículos. O aumento do número de acidentes é mais provável quando a frota em circulação aumenta. Esses são problemas ambientais que não podem ser deixados em segundo plano. Portanto, gerenciar a demanda por viagens e racionalizar o uso do carro será um fator sempre a ser incorporado no processo de planejamento de transportes.

De que forma a Coppe/UFRJ tem trabalhado esta questão da mobilidade? Que projetos o senhor destacaria?

A Coppe vem trabalhando ao lado da sociedade através do desenvolvimento de projetos específicos demandados por órgãos públicos, empresas privadas e sociedade civil e também através do ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico sobre aspectos fundamentais para o setor de transportes.

Especificamente, no que se refere a mobilidade urbana (entre outros estudos), o Programa de Engenharia de Transportes (PET) desenvolveu para a Agência Nacional do Petróleo (ANP) um projeto que destacava o potencial de redução de consumo de derivados de petróleo através da adoção de medidas e estratégias de "Gerenciamento da Mobilidade". Esse projeto foi desenvolvido entre 2001 e 2002. Foi possível mostrar que medidas de gerenciamento da mobilidade adotadas em outros países poderiam ser adotadas igualmente no Brasil com bons resultados. Existem ainda disciplinas que tratam desse tema e são ministradas para alunos de mestrado e doutorado. Tanto no caso dos projetos, quanto das disciplinas, minha equipe e eu estamos diretamente envolvidos. A equipe envolve outros professores e alunos do PET.

Como o senhor analisa a questão do transporte em torno da Zona Oeste? Melhorias estão por vir?

Os novos projetos propostos para a Zona Oeste devem trazer melhorias sim. No entanto, é preciso destacar que não basta implantar nova infraestrutura de transportes. É necessário também considerar aspectos de integração, fiscalização, regulamentação, impactos ambientais, prioridade para transporte coletivo etc.

Como o Legislativo pode contribuir para esta integração?

Na verdade o Legislativo deve cobrar mais em relação a quem fiscaliza e a quem é responsável pelos transportes. Existe uma cobrança com os operadores, mas o responsável é quem planeja, seja uma secretaria de transporte ou outro órgão. Esse deve exercer o papel de fiscalizador para se fazer cumprir as leis de transporte. O Legislativo tem que cobrar do Poder Executivo ou de qualquer órgão esse papel que é muito fundamental. A questão é com a fiscalização. O equilíbrio está no lucro para a empresa e na qualidade para o usuário. O Legislativo poderia ter uma atuação mais estreita junto às secretarias.