No programa "Minha Casa, Minha Vida", a Caixa Econômica Federal subsidia os construtores oferecendo R$ 1.800 a mais por unidade que adote a energia solar por meio da instalação de painéis. Porém, no que diz respeito ao aproveitamento da água das chuvas, que é item obrigatório em todas as construções do município do Rio, as habitações populares de interesse social ficaram de fora da obrigação. “É possível adotar tecnologias sustentáveis para construções de baixa renda”, opina o coordenador das Comissões Técnicas do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio), Roberto Lira de Paula, que sugeriu a realização de um estudo sobre que tipo de estímulo se poderia adotar para implantar de forma global a captação da água da chuva nestas instalações. "A captação da água das chuvas é uma medida importante porque evita as enchentes, além de promover uma economia para o cidadão, já que esta água pode ser utilizada para lavar as garagens e molhar as plantas, por exemplo", afirma o presidente do Brasil-Pnuma, Haroldo Mattos de Lemos.
Diante disso, a Câmara Setorial de Desenvolvimento Sustentável do Fórum de Desenvolvimento do Rio encaminhou consulta ao Sinduscon para saber o custo da captação da água de chuva, conhecida também como reservatório de retardo, e buscou debater saídas para implementar o reúso da água no estado do Rio. Segundo o presidente da Comissão de Materiais e Tecnologia (Comat) do Sinduscon-Rio, Lydio Bandeira de Mello, os principais entraves à utilização desta tecnologia em habitações sociais são o alto custo dos mecanismos necessários para a sua implantação e a responsabilização do condomínio pela qualidade da água.
“O reuso da água nas habitações ainda está incipiente. O alto custo dessa ação sustentável é uma barreira para o construtor. Tanto a água das chuvas quanto a água reutilizada precisam de uma série de normalizações para o uso adequado. Sem contar que ao promover o reúso, o condomínio passa a ter as mesmas responsabilidades de qualquer outro órgão que forneça água para a população”, explica o especialista, que comparou a medida a implantação de tratamento de esgoto em diversos condomínios da Barra da Tijuca. "Muitos destes condomínios, diante da dificuldade de manter a qualidade do tratamento da água acabou por desligar os aparelhos. Temos que tomar cuidado para que o mesmo não aconteça em relação ao reúso", disse o engenheiro.
Sobre a implantação da tecnologia nos prédios já construídos, Lydio afirma que tanto o reúso da água quanto a captação da chuva são medidas complicadas, porque impactam diretamente na construção. Uma das saídas para estimular a adoção destas medidas seria o incentivo. "Talvez um IPTU menor possa ser uma saída'', sugere o engenheiro da Adesg, Márcio José Borges, acrescentando que medidas educativas poderiam contribuir para a disseminação destas tecnologias.
Para o coordenador de relações institucionais da Fecomércio, Marcos Neves, o interesse do consumidor na economia da água surge a partir de estímulos na sua cobrança mensal. “Não adianta falar em conscientização e educação para o consumo quando a Cedae nos obriga a pagar uma tarifa mínima, que equivale a 0,5m³/dia, chegando a 20 m³/mês, independentemente do consumo real. Como regular se gastamos mais ou menos? Isso tem que mudar e começa a partir do momento em que a Cedae apresente a sua planilha de custos”, afirma.
O presidente do Instituto Brasil Pnuma, Haroldo Mattos concorda, “Antes de se falar em alto custo da tecnologia de reuso da água, a conscientização passa pela compensação e só vai se alcançar o interesse do consumidor quando não houver a tarifa mínima da Cedae e ele possa saber o quanto paga pelo que consome.
A hidrometração individual é uma medida urgente, principalmente nas comunidades carentes, onde não se tem nem caixas d’água”, sugere.