Publicação internacional revela números do consumismo desenfreado

Refletir sobre as questões ambientais combinadas com um balanço de números atualizados é o objetivo da publicação "Estado do Mundo - 2010", produzida pelo Worldwatch Institute (WWI) e traduzida pelo Instituto Akatu. O relatório é tido como uma das mais importantes publicações periódicas mundiais sobre sustentabilidade. Acesse na íntegra.

Refletir sobre as questões ambientais combinadas com um balanço de números atualizados é o objetivo da publicação "Estado do Mundo – 2010", produzida pelo Worldwatch Institute (WWI), organização com sede em Washington e traduzida pelo Instituto Akatu. A versão do relatório em português foi lançada na última quarta-feira (30/06) como uma das mais importantes publicações periódicas mundiais sobre sustentabilidade.

Um dos dados que mais chamam a atenção no relatório é que apenas um sexto da humanidade consome 78% de tudo que é produzido no mundo. E conclui "sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade em vez do consumismo, nada poderá salvar a humanidade dos riscos ambientais e de mudanças climáticas".

Realizado no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura, em São Paulo, o lançamento do anuário contou com um debate sobre o tema foco do relatório de 2010: "Transformando Culturas – do Consumismo à Sustentabilidade". Participaram da discussão mediada por Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, Eduardo Athayde, diretor da WWI, Ricardo Abramovay, professor titular da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e presidente do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu e a diretora de pesquisa do centro de Altos Estudos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e membro do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu, Lívia Barbosa.

Barbosa parabenizou a iniciativa do Akatu e da WWI pelo "corajoso" desafio de editar um documento que relacione o consumo à cultura. "Foi o que mais me chamou atenção no relatório, pois, os vários exemplos citados, possibilitam juntar a cultura ao cotidiano das sociedades, fazendo com que o tema sustentabilidade saia das esferas dos governos e de outras entidades e chegue à mesa da nossa cozinha".

Abramovay revelou que já usa o relatório há muitos anos. "Em minhas aulas, eu cito dados dos relatórios sobre o estado do mundo para que meus alunos – que são os futuros economistas – saibam que o mundo não é feito apenas de números e preços. Ele é composto de outros fatores importantes como as pessoas e as fontes de recursos".

O professor também chamou atenção para o cuidado que se deve ter ao discutir o consumo. Para ele, nem sempre as elevações dos padrões do consumo, sobretudo nos países mais pobres, significam mais impactos negativos sobre o uso dos recursos. "A troca do fogão à lenha por um que funcione a gás implica em impactos ambientais menores", exemplificou.

SOBRE O RELATÓRIO

Segundo dados do documento, na última década, a humanidade aumentou seu consumo de bens e serviços em 28%. Somente em 2008, foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares.

Para produzir tantos bens, é preciso usar cada vez mais recursos naturais. Entre 1950 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, o consumo de petróleo subiu oito vezes e o de gás natural, 14 vezes. Atualmente, um europeu consome em média 43 quilos em recursos naturais diariamente – enquanto um americano consome 88 quilos, mais do que o próprio peso da maior parte da população.

Além de excessivo, o consumo é desigual. Em 2006, os 65 países com maior renda, que somam 16% da população mundial, foram responsáveis por 78% dos gastos em bens e serviços. Somente os americanos, com apenas 5% da população mundial, abocanharam uma fatia de 32% do consumo global. Se todos vivessem como os americanos, o planeta só comportaria uma população de 1,4 bilhão de pessoas. Atualmente já somos quase sete bilhões, e projetam-se nove bilhões para 2050.

A conclusão do relatório não deixa dúvidas: sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade e não o consumismo, não haverá esforços governamentais ou avanços tecnológicos capazes de salvar a humanidade dos riscos ambientais e de mudanças climáticas.

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