Hanno Erwes: Trabalho bilateral em busca do desenvolvimento do estado

O Estado do Rio de Janeiro é o destino preferencial de investimentos da Alemanha, segundo o diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, Hanno Erwes. Nesta entrevista, ele analisa os atrativos e os gargalos para o aumento no número de negócios realizados entre ambos os países. Fique por dentro.

O Estado do Rio de Janeiro é o destino preferencial de investimentos da Alemanha, segundo o diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, Hanno Erwes. Nesta entrevista, ele analisa os atrativos e os gargalos para o aumento no número de negócios realizados entre ambos os países. E aponta, ainda, as possibilidades de aplicação da expertise da Alemanha na realização dos Jogos Olímpicos em 2016.

Qual o papel da Câmara Alemã na economia fluminense?

A Câmara Alemã e nossos associados trabalham para promover o desenvolvimento bilateral e atrair o foco do empresariado alemão para o País. Para isso, editamos uma revista bilíngüe, que fala sobre todas as oportunidades de investimento existentes.No caso do Rio de Janeiro, a competência regional engloba as áreas de petróleo, gás, indústria naval, turismo e siderúrgica. Portanto são esses os focos que desenvolvemos através das delegações alemãs que visitam o estado. Também articulamos e permitimos o contato entre os políticos de ambos os países, porque acreditamos que a política carrega consigo o braço comercial. Em 2008, promovemos a visita do governador Sérgio Cabral e mais quatro secretários de estado à Alemanha.  Foi a primeira vez que um governador foi ao país, logo essa iniciativa só têm a incrementar cada vez mais o interesse dos alemães em relação ao Rio.

Como o senhor avalia a visita do Governador?

A viagem do governador e dos secretários foi muito produtiva. Ela permitiu a abertura para discussões sobre o trem bala, a privatização do aeroporto do Galeão, a revitalização do porto, assuntos que costumam figurar na impressa atualmente, além de um acordo com o Estado Alemão sobre ensino profissionalizante.

O senhor colocou bem claramente que existe a questão da política e que os investimentos seguem as decisões que se estabelecem nesse campo. De que maneira criar um ambiente de negócios favorável com incentivos fiscais e a desburocratização ajuda nesse processo? 

O Governo do Rio nesse sentido é muito profissional. A política está totalmente voltada para área de business, logo eles procuram descomplicar uma série de gargalos,.Além disso, a Constituição é sólida e a parte jurídica está muito bem amarrada. Acho que o melhor exemplo é a instalação da siderúrgica Thyssenkrupp CSA, maior investimento alemão nos últimos 10 ou 20 anos, que vai atrair outras empresas alemãs para trabalhar no entorno, englobando toda a cadeia produtiva. Ela foi mundialmente disputada pela China, Rússia, depois no Brasil pelo Maranhão e no fim eles optaram pelo Rio de Janeiro por questões de mão-de-obra, logística e por essa parceria com um governo transparente que gera uma facilidade para que os negócios se concretizem. Outro exemplo de capital alemão empregado no estado é o Grupo MAN que recentemente adquiriu a Volkswagen Caminhões de Resende, a maior fabricante de caminhões e ônibus na América do Sul está no nosso estado. 

Desenvolver uma cadeia de fornecedores para uma grande indústria não é simples e requer mão-de-obra qualificada. Há alguma iniciativa da Câmara que gere solução para esse problema?

A presença alemã está cada vez mais forte e estamos pensando em estender isso para área educacional, devido a necessidade de mão-de-obra qualificada. No acordo assinado pelo Governador do Rio, o sistema a ser adotado no ensino profissionalizante é o dual, onde teoria e prática são ensinadas simultaneamente, em dois anos. O sistema dual é voltado para funções técnicas em fábricas como estivador, soldador, polímeros entre outras atividades. Os cursos são aplicados em parceira com o Senai e Faetec e à principio atendem a cidade do Rio de Janeiro, mas a idéia é estendê-los a outros municípios. Esta experiência já tem gerado resultados satisfatórios. Por exemplo, a CSA está formando mais de mil pessoas nos mais diversos procedimentos da siderurgia na Alemanha. Outro exemplo são as viagens promovidas pela Faetec, em parceria com a Câmara, de alemães para o estado. O fluxo contrário também é estimulado e com isso os brasileiros estão conhecendo o sistema dual com foco em duas áreas de atuação: metalurgia e polímeros. O estado do Rio tem o Comperj e o pré-sal, logo eles estão escolhendo alguns nichos para formar mão-de-obra nesse modelo.

A Alemanha é um país dedicado às questões ecológicas e possui muitas empresas ligadas ao meio ambiente. Que tipo de contribuição os alemães podem dar ao desenvolvimento sustentável do estado do Rio e a discussão sobre o cultivo de orgânicos?

Além de congressos sobre sustentabilidade e energias renováveis, a Câmara homenageia os projetos sociais do terceiro setor com o Prêmio Von Martius de Sustentabilidade. Na área de orgânicos, junto com o Sebrae-RJ e a Firjan, nós organizamos a ida de representantes brasileiros a Biofach, maior  feira mundial de produtos orgânicos em Nuremberg, na Alemanha. Além da viagem, nós qualificamos o expositor brasileiro para que ele seja competitivo na hora de negociar. Além da qualidade, produto, prazo de entrega e certificação, ele precisa se mostrar profissionalmente ao cliente em potencial.

Depois que o Brasil ganhou a disputa para sediar as Olimpíadas de 2016, a visibilidade do país aumentou. Como esse novo momento do Rio afeta o trabalho da Câmara Alemã?

Na verdade, essa situação aumenta, mas também facilita muito, o nosso trabalho. Antes, sempre tivemos dificuldade em promover o estado do Rio, reconhecido apenas pelo turismo, samba e futebol. Com a escolha do Rio como sede das Olimpíadas, as pessoas estão tendo acesso à outra visão do estado, que antes somente as delegações que chegavam até nós conheciam. O reflexo disso é o aumento no número de contatos e visitas programadas ao Rio de Janeiro em 2010. No primeiro semestre vamos receber seis delegações, inclusive com a participação dos ministros das Relações Exteriores e da Economia da Alemanha.

Ainda em relação às Olimpíadas, como ocorrerá a participação alemã na realização deste evento?

A Alemanha possui experiência na organização de grandes eventos esportivos, portanto a Câmara irá identificar nos projetos das Olimpíadas quais são as oportunidades onde o país pode contribuir. Para manter os alemães informados criamos uma equipe e site exclusivo sobre a Rio 2016 e ofereceremos workshops que acontecerão na Alemanha com o objetivo de divulgar o evento e explicar para os alemães quais são os projetos e necessidades. O primeiro já está marcado e ocorrerá em março.