Especialistas cobram ousadia nos projetos de transporte para as Olimpíadas

Um acalorado debate entre especialistas de transporte e acadêmicos tomou conta do centro de convenções do Sistema FIRJAN nesta quarta-feira (3/3). Nota técnica divulgada pela Federação sobre transporte na cidade do Rio de Janeiro para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016 foi o motivo. Saiba como foi o evento e acesse as apresentações.

Um acalorado debate entre especialistas de transporte e acadêmicos tomou conta hoje do centro de convenções do Sistema FIRJAN. Nota técnica divulgada pela Federação sobre transporte na cidade do Rio de Janeiro para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016 foi o motivo: segundo o estudo, os investimentos até 2016 são insuficientes para deixar um legado definitivo para a infraestrutura da cidade. Na defesa da proposta apresentada ao Comitê Olímpico Internacional (COI) estavam os secretários de transporte estadual e municipal do Rio de Janeiro, Júlio Lopes e Alexandre Sansão. Já os acadêmicos da Coppe/UFRJ Fernando MacDowell e Ronaldo Balassiano pediram mais ousadia e expansão dos projetos alternativos para o transporte do município.

Para o secretário municipal de transportes, Alexandre Sansão, o estudo apresentado pela FIRJAN poderá gerar confusão, pois trata do transporte urbano da cidade para as Olimpíadas. Para ele não podemos confundir o projeto de transporte feito para o evento olímpico com o projeto de governo, para expansão da mobilidade urbana. "O projeto olímpico é vitorioso e foi avaliado por um comitê, tem credibilidade. Mas estamos tomando outras medidas, uma vez que 80% da população carioca utilizam o transporte público. Uma delas é a reestruturação e integração entre as linhas de ônibus e ordenamento do transporte alternativo da cidade. A Zona Oeste , por exemplo, possui uma carência em transporte e estamos reativando várias linhas de ônibus para a região. O município também está fazendo licitações de vans, Kombis e transportes complementares", adiantou.

Em sintonia com o governo municipal o subsecretário de transporte estadual, Delmo Pinho - que ocupou a mesa de debates antes da chegada do secretário Julio Lopes, que estava em audiência com o governador - disse que a pesquisa apresentada " é injusta ”. Para ele o Rio tem de parar de se maltratar já que o Comitê Olímpico Brasileiro fez um trabalho de ponta. " Ganhamos porque nosso projeto é viável. Governo do estado, prefeitura e o Ministério das Cidades são a favor do sistema BRT (Bus rapid transit) já que é um meio de transporte criado no Brasil e que está sendo adotado em todo o mundo", afirmou. O secretário estadual de Transporte, Júlio Lopes, participou da segunda metade do painel, que contou com a presença do urbanista Jaime Lerner. Lopes afirmou que o BRT foi uma proposta estratégica, " pois se não fosse adotada provavelmente a nota de transporte não aumentaria e novamente o Rio de Janeiro não se tornaria sede dos Jogos Olímpicos ".

"Mantida a atual infraestrutura de mobilidade, as perdas geradas por engarrafamentos na cidade podem chegar a R$ 34 bilhões, o equivalente a um quarto do PIB fluminense. Sabemos que os projetos propostos atenderão apenas parcialmente as necessidades de mobilidade. O motivo deste debate público é justamente saber no que podemos avançar. A ideia é somar esforços para ter um Rio de Janeiro com qualidade de vida para sua população", disse o presidente da FIRJAN, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira.

PLANO B

O Rio de Janeiro vive um momento único e pode deixar um grande legado para a cidade na avaliação do professor do programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Fernando MacDowell. O engenheiro foi convocado pelo governo federal para montar ”um plano B" de transporte alternativo com maior abrangência e menor custo para as Olimpíadas. Para ele o Brasil só foi escolhido como sede porque os demais países desistiram. O Brasil obteve menor nota em transporte comparado às demais concorrentes, segundo MacDowell.

Para o coordenador do núcleo de planejamento estratégico de transporte da Coppe/UFRJ, Ronaldo Balassiano, "estamos pensando pequeno". ”É muito tímida a proposta apresentada pelo Rio de Janeiro. O sistema de transporte carioca é falho. A integração entre metrô, trêns e ônibus não funciona. O metrô hoje não tem capacidade de suportar o número de integrações e opera a nova linha Botafogo-Pavuna de forma duvidosa. A implementação do bilhete único é deficiente, pois beneficia apenas uma única parcela da população. Falta coragem, falta planejamento. Balassiano cita como exemplo de legado para sua população a cidade de Barcelona, sede dos jogos olímpicos de 1992. “Quando estava no evento ninguém pensava no transporte metropolitano, mas no caminhar pelas ruas sem violência e na qualidade de vida de seus moradores. É preciso uma visão integrada, em que o transporte é mais um item da pauta. A intervenção urbana, os serviços e a integração das pessoas e paisagens fazem a diferença”.

No fechamento do debate, o urbanista e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, foi enfático. Segundo ele, seis meses após o anúncio do Rio de Janeiro como sede dos Jogos o Comitê Olímpico, os governos do estado e do município ainda não sentaram à mesa para traçar as estratégias para que os projetos saiam do papel: "Não temos tempo a perder, este legado não é só para o Rio de Janeiro, mas para todo o país. As autoridades ficam discutindo qual transporte utilizar, mas usaram meu nome para vender o Rio de Janeiro para o COI (Lerner é o pai do BRT, implantado em Curitiba), mas até agora não fui recebido pelos secretários", reclamou Lerner, que apresentou uma série de novos estudos para vias integradas com paisagismo e serviços urbanos para a população. "Em Madri a integração BRT e Metro foi muito elogiada e acredito ser esta uma medida que daria muito certo no Brasil", finalizou.

Apresentações:

• Delma Medeiros
• Fernando Mac Dowell
• Jaime Lerner
• Milena Bodmer
• Peter Alouch
• Richard Stephan