Fashion Rio - Paulo Borges: o homem atrás da cortina

O potencial do Rio para sediar grandes eventos de moda é essencial para atrair os olhares do mercado internacional do setor. É o que defende Paulo Borges, organizador do Fashion Rio. Em entrevista, ele fala ainda de como está o mercado brasileiro de moda, a importância da revitalização portuária e os impactos da evolução tecnológica sobre o setor.

O fato de o Rio de Janeiro sediar um grande evento de moda como o Fashion Rio contribui para atrair os olhares para a cidade como pólo lançador de tendências. È o que defende Paulo Borges, CEO da Luminosidade, que está organizando o evento. Nesta entrevista, ele fala sobre a situação do mercado brasileiro de moda, a importância da revitalização da zona portuária carioca e os impactos da tecnologia sobre o setor, dentre outros assuntos.

O mercado de moda no Brasil tem crescido?

A moda tem crescido de forma consistente no Brasil, mas há casos particulares de sucesso. Esta é uma característica do mercado brasileiro de moda, que pode crescer ainda mais. Um exemplo é a Osklen, uma marca jovem que a partir do seu posicionamento novo, de uma roupa associada a um estilo de vida específico, tem crescido 30% ao ano. O Brasil está crescendo assim? Não. A moda brasileira está crescendo assim? Também não, mas temos esses casos específicos de crescimento. A moda é uma das maiores indústrias do Brasil. Se você desconsiderar o ramo de serviços, é o setor que mais gera empregos para mulher. Isso é extraordinário, por isso é importante termos uma política de fomento à criação e à produção.

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Como o estado do Rio de Janeiro pode fomentar o setor?

O estado do Rio de Janeiro tem viabilizado a moda a partir de si mesmo incentivando projetos e eventos como este. Quando você traz para si o foco de atenção, a bússola da moda é direcionada para o Rio, todos os olhares se voltam para cá. Isto é vital para promover uma transformação [do setor]. Eu repito: é não só um ciclo de crescimento, mas também de transformação. Temos que criar uma nova cultura para fazer moda.

Qual a importância de eventos como o Fashion Rio para o país e para o Rio?

Acho que o Brasil descobriu a moda como negócio e entretenimento. Nesse sentido, o Fashion Rio é fundamental por agregar as pessoas, a mídia e os profissionais [do setor de moda], além de trazer compradores. Esta mistura serve não só para difundir a moda, mas também propaga a ideia de transformar a indústria. Dessa forma, o Rio de Janeiro ganha cada vez mais um mercado que está crescendo e é estratégico para o país, aproveitando que a cidade é vista como a porta de entrada do Brasil.

Por que realizar o evento no Píer Mauá?

Quando decidi trazer o Fashion Rio - e também o Rio-à-Porter - para o Píer Mauá, não tinha ideia da importância estratégica dessa área para a cidade e, conquentemente, para o estado. Quando soube, fiquei ainda mais entusiasmado com o evento, por ver que a moda pode participar da revitalização portuária e cumprir o seu papel, que é deixar um legado para o Rio. Sempre digo que o Fashion Rio tem que dialogar com a cidade e a cidade tem que dialogar com o Fashion Rio. Por isso as exposições, as intervenções e o diálogo da moda com a cultura, o entretenimento, o cinema e a História. Esses armazéns completam um século este ano. Eles fazem parte da História do Rio e é vital que isso seja revitalizado.

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A estabilidade econômica deixou mais fácil organizar esse tipo de evento?

Não ficou mais fácil, mas ficou possível planejar. Com inflação você não pode planejar a longo prazo, tudo tem que ser para dois, três dias. Um evento como o Fashion Rio, uma coleção, um processo de produção e distribuição - você não faz nada disso com menos de seis meses ou um ano. Temos um projeto de 30 anos para a moda: pensamos a cada dez anos, planejamos a cada cinco, executamos a cada dois e revisitamos e corrigimos a cada seis meses. Isto só é possível porque o mundo mudou e a economia brasileira mudou junto, porque o país se fortaleceu econômica e politicamente. Também paramos de olhar para o mundo exterior como se ele fosse a grande referência. Começamos a olhar para nós mesmos, nossas qualidades, nossa capacidade de ser do jeito que somos e entender que isso é importante, porque é isso que o mundo espera de nós. Esta visão resultou num momento único, que é a possibilidade de sediar os grandes eventos esportivos que vêm por aí.

Que impactos a evolução tecnológica traz para esse mercado?

O mundo está vivendo uma revolução. Essa coisa do digital, do online, da fibra ótica - isto tudo encurtou o mundo, abriu portas. O mundo ficou sem fronteiras. Dessa forma, ninguém precisa de um passaporte para se relacionar com o outro lado do mundo, uma vez que isso pode ser feito de casa. Isso muda tudo: a forma de pensar o mundo e fazer negócios, de pensar a moda, produzi-la e vendê-la. É fundamental e irreversível. Você não pode mais fazer moda pensando no que está perto de você, porque você não fala mais só para o seu vizinho e sim para o mundo. Como há a possibilidade de atingir o mundo, é preciso falar e se inspirar no que ele vê. Isto é fazer moda de forma correta. A moda não é mais regional e sim global. A moda que fica atada ao regionalismo está fadada a ser uma coisa artesanal, restrita um universo reduzido.

Qual a importância encarar o Rio de Janeiro como uma marca?

Muita coisa já está sendo feita e de forma inteligente. As pessoas já entendem que o Rio de Janeiro é uma marca. E o que é isso? Marca é aquilo que gera desejo, carinho, percepção, identidade e relacionamento. A partir do momento em que você usa a cidade como uma expressão disso, você tem ter cuidado de colocá-la no lugar certo da forma certa, para que ela gere cada vez mais desejo e convergência. O Rio é uma referência não só para o Brasil, mas também para o mundo.

(fotos: Agência Fotosite / Divulgação)