Rio como vamos: Para despertar a cidadania

Inspirada em uma iniciativa colombiana com dez anos de experiência, o Rio Como Vamos é uma iniciativa apartidária com o objetivo de monitorar a gestão municipal da cidade do Rio. o movimento teve um papel marcante nas últimas eleições municipais, exigindo a prestação de contas de prefeitos e governadores.

O eleitor que acompanhou os debates políticos das últimas eleições municipais percebeu que uma cidade foi reiteradamente mencionada como referência de melhorias administrativas e de participação dos cidadãos nas políticas públicas. Foi um consenso entre os candidatos a prefeito: Bogotá é o exemplo a ser seguido. Um movimento não-governamental e apartidário costuma ser apontado como principal fator nesse salto qualitativo: o Bogotá Como Vamos, criado há dez anos para fazer a ponte entre a população e seus representantes eleitos. O propósito é o de incentivar o acompanhamento de indicadores de qualidade de vida e diagnosticar os pontos que precisam ser melhorados.

Foi com base nesse exemplo que um grupo de formadores de opinião cariocas resolveu criar o Rio Como Vamos, versão local dessa iniciativa, igualmente apartidário, e com o objetivo de monitorar a gestão municipal na cidade do Rio de Janeiro. Com dois anos de idade, o movimento participou ativamente das últimas eleições municipais, exigindo prestação de contas de prefeitos e vereadores.

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A presidente-executiva do Rio Como Vamos, Rosiska Darcy de Oliveira, acha que há muito trabalho a ser feito, se compararmos a nossa cultura política com a que se desenvolveu na capital colombiana: "Em Bogotá, eles conseguiram desenvolver uma cultura cidadã que nós não temos ainda. Com isso, eles chegaram a vários resultados, especialmente em relação ao ordenamento da cidade. E isso graças ao hábito que a população desenvolveu de participar e de apresentar reivindicações." Para ela, as grandes conquistas obtidas na capital colombiana se devem ao estabelecimento de uma cultura de transparência e reivindicação: "O principal trunfo do movimento lá foi a relação com a grande imprensa. Graças a isso abre-se um canal com o governo. Apresentando dados confiáveis, é possível qualificar a opinião dos cidadãos e negociar políticas públicas."

David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agencia Nacional do Petróleo, encarou o convite a participar do movimento como uma missão: "Aceitei como carioca, foi essa a primeira razão. A gente vê a seriedade do projeto pela qualidade das pessoas envolvidas, todas bem-sucedidas, que estão nesse projeto igualmente por amor à cidade, nunca por uma motivação pessoal." Para ele, a meta é criar uma cultura participativa e reivindicativa na opinião pública carioca: "É preciso criar um ferramental e oferecer meios de análise para o cidadão. Dar às pessoas um conjunto de indicadores e critérios que dêem fundamento às cobranças, para que elas não sejam reclamações vazias. A gente quer incomodar o poder público num bom sentido. Para nós, o importante é diagnosticar os problemas, não propor soluções. Nós somos o termômetro, não a aspirina. Solucionar é outra etapa do problema."

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Tanto Rosiska quanto David já veem resultados efetivos nestes dois anos de trabalho. "É um movimento muito jovem, mas já conseguimos uma vitória importante, que foi fazer um retrato do Rio e elaborar uma espécie de diagnóstico da cidade. Publicamos o resultado em um livro, bastante detalhado, com todos os dados discriminados por área. Então nós já sabemos onde estão as carências. É uma primeira aquisição", - comemora Rosiska. "Outra conquista importante foi uma pesquisa de percepção que mostra como os cariocas veem a cidade. Com isso, abrimos um canal com o governo. Podemos agora cobrar que eles cumpram um compromisso, assumido ainda em campanha, para que enviem um projeto de lei à Câmara Municipal que torne públicos e transparentes as suas metas e orçamentos", completa a presidente.

Zylbersztajn dá ênfase à boa relação com a imprensa: "Temos uma parceira com O Globo que deve se estender para a TV. Nos jornais americanos, isso é comum, publicar estatísticas e dados do governo. De seis meses pra cá reformulamos e as relações têm melhorado muito e temos bastante receptividade em rádios, sites, jornais e televisões."

Paulo Motta, editor de Rio de Janeiro do jornal O Globo, explica as razões do interesse do periódico pela iniciativa: "O Rio Como Vamos é uma iniciativa tão boa que deveria ser ampliada e multiplicada. Se a ideia é difundir informação essencial, claro que temos interesse." Ele acrescenta que o movimento pode trazer mudanças concretas para a qualidade de vida na capital fluminense: "É fundamental para o Rio ter um movimento pensando a cidade e levantando dados que a ajudem. É por isso que abraçamos essa causa apartidária."

Para que o movimento alcance as metas estabelecidas, Zylbersztajn e Rosiska acham que as boas relações com os poderes Executivo e Legislativo são fundamentais: "Os governantes têm de ter a percepção de que nós somos um movimento a favor, alinhado com os interesses da população e que pode servir para aprimorar a gestão pública. Ouvir o que nós temos a dizer é bom para eles. Nós nunca vamos nos alinhar a governo nenhum, mas tampouco assumiremos a postura de oposição. Nós podemos ser um instrumento a mais para que os governos melhorem a cidade", opina Zylbersztajn. "O poder público tem de nos fornecer seus dados, permitir o acompanhamento nas questões de orçamento. Precisamos estabelecer relações em cima dessa cultura. Temos tido uma boa abertura no gabinete do prefeito. O ideal é que criemos um trabalho constante de acompanhamento e parceria com a administração municipal."

A presidente faz um balanço positivo da ação do Rio Como Vamos até aqui: "Estamos conseguindo instituir uma cultura de governar com metas e indicadores. Uma cultura da transparência. Estamos construindo progressivamente essa mentalidade com o governo e mostrando a importância disso para a população."