Ana Claudia Ribeiro - E-livros: o que nos espera?

Os livros eletrônicos são um divisor de águas no mercado editorial do mundo, que precisa saber encarar as mudanças trazidas pela nova tecnologia. Neste artigo, Ana Claudia Ribeiro, sócia-gerente da E-papers, faz uma análise sobre o papel do livro na sociedade, aponta os desafios e potenciais do e-book e defende que ele é uma alternativa econômica e ambientalmente correta.

Ana Claudia Ribeiro*

A cada dia, o desenvolvimento tecnológico nos oferece novas possibilidades de suporte para transmissão de conhecimento. Muitos perguntam: será que o livro, como o conhecemos, irá desaparecer? Essa questão, como todas as outras que tentam decifrar o futuro, não tem resposta fácil.

O livro em papel mantém sua forma essencial há centenas de anos, e é um objeto com o qual todos estão familiarizados. Em sua longa existência, veio sendo aperfeiçoado e reúne características muito especiais: é barato, fácil de manusear, resistente a queda e impacto, além de ser portátil, o que o torna um produto acessível a todos.

Por muito tempo, o livro era o melhor, senão o único, meio de transmissão de conhecimentos entre diferentes gerações, diferentes locais, diferentes culturas. O livro era o conteúdo e o suporte: um agrupado de folhas de papel retangulares impressas que, reunidas em um volume, abriam as janelas da humanidade. Esse produto físico permanece como um objeto de desejo, pelo qual as pessoas mantêm uma relação de afeto (comprovado por diferentes pesquisas), relação essa que foi certamente definida pelo uso constante dos últimos 500 anos.

Mesmo nas novas gerações, ditas "conectadas", a leitura organizada no formato do livro ainda é um dos melhores meios para transmissão de conhecimento. No texto estruturado em capítulos podemos "regular" a cadência da leitura de acordo com a nossa possibilidade individual de assimilação, dando tempo para o cérebro construir as imagens necessárias ao aprendizado.

Neste contexto, os livros eletrônicos, sendo ou não portados nos aparelhos de leitura (e-books readers) são uma alternativa mais econômica e ambientalmente responsável de substituição das publicações em papel. O conteúdo é estruturado da mesma forma que conhecemos nos livros tradicionais, com algumas vantagens. Existe a possibilidade de busca de palavras no texto, é possível carregar diversos exemplares em um pequeno aparelho e o uso de figuras em cores ou mesmo em movimento não inviabiliza sua produção.

Existem desvantagens, obviamente. Em relação às obras eletrônicas no computador, a leitura de textos longos na tela é desconfortável e cansativa, e em geral, a impressão caseira em papel torna o livro mais caro que sua bem-acabada versão industrial. Quando se trata dos "readers", eles podem ser pequenos, com pouca qualidade de imagem e softwares que exigem a reformatação do texto original para leitura, desfigurando gráficos e tabelas, como a marca mais popular que começou recentemente a ser vendida no Brasil.

Novos aparelhos já têm telas maiores, com tecnologia (e-ink) que não emite luz, possibilitando uma leitura mais agradável. Eles suportam o formato PDF nativo, o que elimina as reconstruções do texto. Neste ano de 2009, os aparelhos de leitura têm estado sob os holofotes dos meios de comunicação, aparecendo como uma possibilidade real de mudança no cenário editorial.

A indústria editorial tradicional, em especial a brasileira, dá fracos sinais de envolvimento nessa nova onda, talvez por achar que isso ainda não lhe diz respeito, ou por temer a pirataria cibernética. Das três grandes empresas sempre citadas na mídia sobre o assunto (Sony, Amazon, Google), nenhuma é editora. A que mais se aproxima do setor editorial é a Amazon, que nasceu como livraria e se transformou numa enorme varejista de internet.

Clayton Christensen, pesquisador da Harvard Business School, usa o termo "tecnologia disruptiva" para tratar de uma nova tecnologia, em geral mais simples e barata, que muda o paradigma de concorrência e acaba dominando o mercado. Essa mudança, que vem de baixo, acaba fazendo com que grandes empresas, que oferecem produtos mais caros e sofisticados, entrem em colapso, pois não conseguem adaptar seus modelos de negócios às novas regras. O exemplo da indústria fonográfica é emblemático: grandes gravadoras, que antes concentravam todos os lançamentos de novos grupos musicais, foram suplantadas pelo MP3 player e pela internet. O arrebatador Ipod foi lançado não por uma gravadora, mas pela Apple, uma empresa de informática. Artistas famosos como Madonna, hoje, já assinam contratos diretamente com empresas produtoras de eventos.

É bastante provável que os e-books sejam essa tecnologia disruptiva para a indústria editorial. Seus impactos serão sentidos em toda a cadeia produtiva: fabricantes de papel, gráficas, editoras, distribuidores, livreiros, autores. Devemos lembrar que uma parte considerável das editoras e livrarias do Brasil estão concentradas no estado do Rio de Janeiro, e estas poderão sofrer bastante se a indústria editorial como um todo entrar em colapso.

Toda grande mudança demanda adaptações, e essas adaptações não são nada fáceis. Porém, é preciso pensar que as crises geram oportunidades, e o uso constante do computador pelas novas gerações pode significar um maior acesso à leitura como processo de aprendizado. Para estar preparado para a mudança, é preciso conhecer os fatos e planejar estratégias. Aqueles que investirem e acompanharem as inovações tecnológicas, sem perder de vista o mercado, certamente terão chances de êxito muito maiores nessa ruptura.

Ana Claudia Ribeiro é sócia-gerente da E-papers