ONGs, consumidores e redes de varejo são novos indutores de sustentabilidade

ONGs, consumidores e redes de varejo são os novos motores da sustentabilidade no setor produtivo. A união dos três elementos pode servir de pressão para que produtores agrícolas assumam práticas ambientalmente corretas, socialmente responsáveis e promovam a segurança alimentar.

Os mercados financeiros, a mídia e os acordos internacionais costumavam ser os principais indutores de práticas sustentáveis. Hoje os principais atores para promover essas práticas são outros: consumidores, ONGs e principalmente as redes de varejo se tornaram protagonistas na hora de pressionar os setores produtivos a assumirem práticas ambientalmente corretas, evitando a emissão de gases estufa, prevenindo o desmatamento e promovendo o bem-estar animal. Respeitar esses princípios é fundamental para que os produtos do país e do estado tenham acesso ao principal e mais exigente mercado de produtos agrícolas: a Europa. Quem diz é o consultor da AgroBrasConsult e professor de economia internacional da Escola Superior de Agricultura da Franca, Jean-Yves Carfantan, que veio ao Brasil a convite da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) para falar no 11° Congresso Nacional de Agribusiness. "As redes de varejo precisam atender às demandas de uma classe média global cada vez mais consciente dos problemas ambientais. A classe média brasileira também já está inserida nessa tendência", defende o professor. Para ele, investir em práticas sustentáveis não só é bom para preservar a imagem da empresa, mas também tem vantagens econômicas, já que a tendência é haver redução de custos com energia, transporte e embalagem.

Nesse contexto, a rede de varejo tem um papel marcante, já que é ela que pode fazer exigências aos seus fornecedores para que adotem medidas ambientalmente corretas. "Hoje, as maiores redes pedem adesão voluntária a essas idéias, mas a tendência natural é que a adesão do fornecedor seja motivada por medidas compulsórias", prevê Carfantan. De acordo com ele, as ONGs têm um papel fundamental nesse cenário, que é sair de uma postura de apenas protestar para uma de orientar as redes de varejo sobre fornecedores que desrespeitam o meio ambiente. O relatório "A Farra do Boi na Amazônia", publicado no primeiro semestre pelo Greenpeace, mostrou como empresas conhecidas contribuíam indiretamente para o desmatamento e o trabalho escravo, ao não fiscalizarem seus fornecedores. O relatório recebeu respostas imediatas de várias redes de varejo - caso do Carrefour e do Wal-Mart -, que cancelaram contratos com os fornecedores envolvidos. "Recentemente, o Greenpeace também fez uma campanha internacional dizendo que o Brasil estava massacrando a Amazônia. Isso tem um efeito direto sobre o consumidor europeu, que é muito exigente", argumenta.

Umas das principais iniciativas do varejo nesse sentido é a criação recente de selos e marcas próprias associadas ao meio ambiente. Na França, o grupo Carrefour tem o selo Agir, que inclui produtos ecologicamente corretos e socialmente responsáveis. Na mesma linha, o grupo brasileiro Pão de Açúcar lançou a linha de produtos alimentícios Taeq. A marca, que também é vendida em outras redes do grupo, como Extra e Sendas, investe em produtos ligados a um padrão de vida saudável e com consciência ambiental. "Dessa forma, a relação com o fornecedor muda totalmente, o que vai afetar de maneira profunda as relações agrícolas nas próximas décadas", observa o professor. Para ele, o segredo para iniciativas darem certo e ajudarem a promover o agronegócio nacional é simples: comunicação. Os departamentos de compras das empresas precisam estar em contato com o agronegócio. "Isto pode ser feito por meio de visitas oficiais a cadeias sustentáveis regionais e criando formas de premiar e certificar os agropecuaristas brasileiros que têm as melhores práticas", afirma.

Inovação tecnológica e informação são essenciais para agronegócio produtivo e seguro

Informação é um bem crucial para um agronegócio moderno. Gerenciá-la de forma adequada é essencial para garantir a produtividade agrícola, elemento chave para a sustentabilidade, e a segurança alimentar do consumidor. Em casos de epidemia, por exemplo, é crucial saber de que rebanho veio a doença. Dessa forma, é importante que o caminho percorrido pelo produto e seu histórico possam ser rastreados. "Poder conhecer a história de um produto é o primeiro passo para medir sua qualidade", defende o Octávio Mello Alvarenga, presidente da SNA. Para isso, a inovação tecnológica cumpre um papel fundamental, como foi citado no Congresso:

Tetra Pak

A empresa fabricante de caixas de leite "longa vida" identifica as embalagens com um código que permite identificar desde o caminhão que transportou o produto até a vaca que o produziu. A empresa pretende substituir esse método por uma tinta invisível que só pode ser lida por equipamentos adequados.

Ceitec s.a.

A estatal ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia é a primeira produtora de microchips da América Latina. A Ceitec lança em março do ano que vem um chip para ser implantado em bovinos que não precisa de eletricidade e armazena, dentre outras informações, todo o histórico médico do animal. A tecnologia, inédita no Brasil, deve custar cerca de R$ 2,50 contra os R$ 7 dos chips importados.